Autoridade Nacional Palestina acusa governo israelense por incitar contra árabes:
“Israel é responsável pela morte de jovem palestino”
A Autoridade Nacional Palestina, através do presidente, Mahmud Abbas, condenou os colonos (os que vivem em terras assaltadas aos territórios palestinos) por "matarem e queimarem um jovem".
"É preciso que os assassinos sejam condenados pelo crime. Israel precisa fazê-lo se realmente deseja a paz".
No dia 2, Muhamed Abu Khdeir, um jovem palestino de 16 anos, foi sequestrado à porta de uma mesquita no bairro de Shoafat, localizado na Jerusalém árabe (sob ocupação israelense).
O pai do jovem, Hussein Abu Khdeir, informou que – conforme lhe informaram pessoas presentes ao local – duas pessoas desceram de um carro e forçaram o rapaz palestino a entrar nele. Os pais de Muhamed foram imediatamente informados e alertaram a polícia israelense.
Cerca de duas horas depois o corpo do rapaz, carbonizado, foi localizado em um bosque localizado na Jerusalém judaica, em Givat Shaul. Os pais passaram por testes de DNA e a polícia confirmou que o corpo localizado era de Muhamed Khdeir. Até o fechamento desta edição o corpo não foi devolvido à família.
Assim que a notícia da morte do jovem foi confirmada, um levante de jovens palestinos eclodiu no bairro e continuou até altas horas da noite.
Enquanto os jovens atiravam pedras sobre os policiais israelenses e construíam barricadas, ateando fogo em pneus, a polícia respondia com balas de borracha em profusão e granadas sonoras. Em outros bairros da cidade a exemplo de Beit Hanina, Issawiya e Silwan, também ocorreram confrontos entre palestinos e policiais.
170 palestinos ficaram feridos, informa a agência de notícias, Ma’an News, 35 dos quais por balas de borracha.
Além da morte do ente querido, os pais e irmãos do jovem linchado ficaram revoltados com a declaração da polícia de Israel de que ‘ainda não se sabe se o assassinato foi feito por extremistas em vingança aos assassinatos de três jovens israelenses, enterrados na terça, ou se foi por motivos criminais".
O bairro de Shoafat é conhecido por ser um bairro de palestinos com melhor renda, um bairro tranqüilo. Além disso, como disse o primo do adolescente, Mahmud, "nossa família não está envolvida em quaisquer conflitos e ele era um bom rapaz. Foi um linchamento e isso tem que ficar muito claro".
A família do jovem atacado declarou haver entregue o número da placa do carro à polícia e um vídeo filmado por uma câmara em uma loja vizinha ao local do seqüestro onde se vê um carro da marca Hiundai se aproximando do jovem palestino. "Fosse um israelense e os assassinos já teriam sido localizados". O pai do rapaz também protestou contra a negligência da polícia pois segundo ele, o celular de seu filho possuía um aplicativo que permitia sua localização. Para ele a polícia teria condições de salvar o rapaz.
O primeiro-ministro israelense, Bibi Netaniahu, pediu que a polícia agisse "rápido para encontrar os criminosos", mas até agora nenhum suspeito foi detido. Bibi também pediu aos israelenses para "não tomarem a lei em suas próprias mãos".
Num comportamento de ocupante, a polícia interrogou os dois amigos que estavam com o jovem pouco antes do sequestro por longas horas.
Já o porta-voz da polícia, Micky Rosenfeld, disse que as investigações estavam ocorrendo para descobrir se o motivo do assassinato seria "criminoso ou nacionalista". A motivação racista não foi aventada.
Pichações nos muros de Shoafat, e em várias aldeias palestinas dentro de Israel, que apareceram depois do seqüestro do jovem palestino, evidenciando a razão da barbárie: "O preço da vingança – árabes fora".
Membros da família Zalum, no mesmo bairro, declararam que no dia anterior já tinha ocorrido uma outra tentativa de seqüestro; o jovem chegou a ser agredido e ficou arranhado no pescoço e se salvou por resistir e por que sua mãe que estava presente começou a gritar desesperadamente.
Turbas de israelenses, sempre aos gritos de "Morte aos árabes" saíram às ruas em vários pontos de Jerusalém no momento em que o funeral era televisionado. Uma delas entrou gritando em um restaurante localizado em Pisgad Zeev e espancou o funcionário Khalid Atiyeh, de 24 anos.
Na aldeia de Aqabra, ao sul da cidade palestina de Nablus, uma casa foi incendiada e em um muro próximo a inscrição "Vingança de judeus – Maomé morreu".
Uma outra turba de israelenses se concentrou na entrada da Jerusalém Árabe aos gritos de: "O povo exige/ punição coletiva", ou seja, ‘mais nazismo; mais nazismo’.
Neste aspecto, o governo de Netaniahu não tem sido nada parcimonioso. Além do premiê dizer que agora vai agir "até acabar com o Hamas", mandar suas tropas bombardear dezenas de objetivos civis em Gaza, fazer mais de 500 prisões em duas semanas, demolir casas, a exemplo da de Ziad Awwad (em cuja família há um suspeito pela morte de um policial israelense) com a declaração oficial de que a demolição "deter os terroristas e constitui um severo aviso a seus cúmplices de que suas ações trarão duras consequências". As tropas de ocupação também assassinaram um jovem palestino em Jenin ao atirarem com munição viva sobre manifestantes. Abu Zagha faleceu após ser atingido no peito.
Até mesmo os governos dos Estados Unidos, Inglaterra e França se sentiram na necessidade de repudiar o crime e exigir medidas para conter a violência israelenses. É verdade que debalde, pois se o exemplo vem do governo ao qual fazem vista grossa e até apóiam...
NATHANIEL BRAIA
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