terça-feira, 20 de maio de 2008

SOCIEDADE CIVILIZADA E JUSTA

Para ser mais civilizada justa, primeiro, a sociedade teria de deixar de ser hipócrita.
A hipocrisia é um grande mal para o homem, quer seja considerado individual ou coletivamente.
Pensar que não deve matar, roubar, estuprar - porque só assim vai para o céu, ou porque só assim não vai preso -, leva o homem a tentar driblar as leis religiosas e as normas jurídicas.
Muitos homens ainda não estão convencidos da nocividade dos atos, acreditam ainda que o crime possa ser perfeito e pode compensar.
Seria imprescindível que o homem entendesse que toda e qualquer ação criminosa é prejudicial para ele mesmo e para toda sociedade.
Porque ninguém quer conviver com um ladrão, para os frutos de seu trabalho roubados.
Ninguém quer conviver com um estuprador, um assassino, um fascínora.
Mesmo criminosos não gostam de ser alvo dos mesmos crimes que praticam.
E quando não mais se importam em serem roubados, em serem mortos - também perderam o sentido da vida e nem mais se interessam em viver.
O crime, portanto, leva o ser humano a perder o respeito por si mesmo, e até a perder o seu instinto de sobrevivência.
A mesma insegurança que ele leva à sociedade também será experimentada por ele próprio, acrescida do isolamento.
O homem é um ser social, sua qualidade de vida está intimamente ligada ao sentimento de se sentir parte de uma coletividade.
Mesmo que não tenha desenvolvido em si o sentimento da vergonha por ter agido contrariando, prejudicando a sociedade, o trangressor terminará por sentir a solidão, o desrespeito, a desconfiança, o descrédito da maioria contra ele.
E, pior: ele mesmo não acreditará nele, ele mesmo não se respeitará.
Ninguém pode se sentir um ser pleno se não é respeitado.
Mesmo dentro de um grupo criminoso, busca-se por algo que se assemelhe ao respeito, algum tipo de apreço, consideração...
Ninguém é realmente livre se não goza de credibilidade, se não tem a confiança dos demais membros da sociedade: se ao chegar em qualquer lugar e ser reconhecido, o indivíduo tem de fugir, ele não é realmente livre.
Ele está solto, mas não livre.
Para muitos é difícil compreender o que é crime e o que não é, pois a perspectiva exacerbadamente egoísta não permite avaliar seus próprios atos sob a ótica do outro.
Por exemplo, aquele indivíduo austríaco, que construiu um esconderijo subterrâneo com as próprias mãos durante 6 anos; que manteve a filha lá seqüestrada por 24 anos, gerando com ela filhos doentes, aos quais nunca prestou os devidos cuidados - depois que vislumbrou a condenação da sociedade, depois que se sentiu por todos considerado um monstro - não gostou e afirmou temer por um julgamento injusto...
É interessante observar que esse indivíduo passou pelo menos 30 anos prezando a própria liberdade - mas não da filha e dos filhos-netos; dando prioridade ao próprio prazer - mas não o dos que com ele conviviam; que se preocupava com sua própria alimentação, mas não se preocupava em fornecer àqueles que mantinha em cativeiro verduras, legumes e frutas; que condenou a filha e os filhos-netos a um tipo de prisão à qual ele jamais será condenado - subterrânea e sem direito a banho de sol; que torturava fisica e psicologicamente toda a família - agora reclama para si um julgamento justo e não quer ser considerado e chamado pela sociedade de - monstro!
Esse indivíduo não é louco, mas seu egoísmo se exacerbou de tal modo que ele se tornou “autista”, vivendo no mundo que criou, sob leis que achava justas pois lhe permitiam desmandos, lhe permitiam viver sem qualquer responsabilidade sobre as conseqüências que adviriam de seus atos para os outros.
Agora, teme ser tratado com a mesma injustiça com que tratou seus próprios parentes - sem que estes tivessem cometido qualquer trangressão contra ele...
Para si mesmo, ele deve exigir não ser estuprado, tomar banho de sol, comer frutas, legumes e verduras variados, ter um local para fazer exercícios...
Os dois pesos e duas medidas (“temos aqui direitos e deveres: EU fico com os direitos e você com os deveres; faça o que EU mando, mas jamais se atreva a pensar em fazer o que EU faço...”) demonstram egoísmo, a não compreensão do outro como seu semelhante, a irresponsabilidade nas suas ações, sem levar em conta as conseqüências, as repercussões. Óbvio que a sociedade jamais funcionaria, jamais teria continuidade sob leis assim.
Os homens se rebelam, buscam retribuir na mesma moeda o mal sofrido... Há a escalada da violência... Em pouco tempo, a disseminação da insegurança leva à desagregação social - e vivendo cada um por si, o ser humano tem uma menor expectativa de vida.
Mas muitos acreditam que possam manter, em algum lugar, um quarto de horrores, mantendo para a sociedade uma imagem impoluta, virtuosa; muitos pensam que o bem público pode ser apropriado por eles - porque se é “público”, não tem dono, e, portanto, eles podem daquele bem se apropriar...
Muitos atos que hoje são condenados pela maioria das sociedades, assim são considerados porque no passado se revelaram nocivos ao grupo social. É claro que, também, já houve muitas civilizações que nem vislumbraram - ou não quiseram reconhecer ou aceitar - que determinados costumes lhe eram nocivos, que certos comportamentos que lhe eram perniciosos...
Não reconheceram, se mantiveram em seu egoísmo, sua soberba, continuaram a perpetrar suas injustiças - e, hoje, delas, poucos vestígios restaram...
É bom ser bilionário quando se conquistou a fortuna às custas de sua própria invenção, como Bill Gates, ou milionário às custas de seu próprio talento, como Roger Federer, para citar só dois exemplos.
Mas não é a mesma coisa quando se ostenta milhões ou bilhões que foram usurpados, que foram resultado de ação criminosa.
O indivíduo acaba devolvendo a Land Rover (Silvinho Pereira)...
Ou seja, ao cometer uma ação que ele mesmo reconhece como crime para os outros, o indivíduo perde a credibilidade até diante de si mesmo.
Qual a confiança que aquele que compra um diploma tem em seu próprio saber?
Nenhuma.
Depois que for preso por exercício ilegal de um a profissão, ou quando fracassar sucessivamente quando tiver seus conhecimentos postos à prova, ele dará ao diploma comprado o mesmo valor que à sua própria estupidez.
Com o terremoto, a população chinesa revela sua grandeza quando demonstra genuína solidariedade, e mesquinhez ao ter construído tantas escolas no melhor estilo “Sérgio Naya”(aquele ex-deputado federal, dono de uma empresa que construiu o edifício Palace II, que desabou, por ter sido construído com materiais de baixa qualidade, provocando a morte de 8 pessoas).
A irresponsabilidade de um ou de uns poucos indivíduos pode acarretar graves e irreversíveis prejuízos a toda comunidade à qual pertence(m).
A hipocrisia, portanto, impede - sim - que a sociedade seja verdadeiramente civilizada e justa.

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