terça-feira, 25 de março de 2008

BAJULADORES ENTRE CALÚNIAS E APLAUSOS

Bajuladores caluniam Equador e aplaudem os crimes de Bush

Bobos da corte dizem que o vilão foi o invadido Equador, e Bush, que acaba de vetar proibição à tortura, foi quem zelou pela soberania do país
Enquanto o cordão dos puxa-sacos na mídia e na oposição parlamentar acusava o presidente do Equador de ferir a soberania... do Equador, e saudavam Uribe por zelar pela soberania equatoriana invadindo o país, Bush vetava a proibição à CIA de torturar, dentro e fora dos EUA (v. página 7).

Vejamos, por exemplo, o senador Agripino, nostálgico prócer da casa-grande.
Segundo ele, o problema do presidente Chávez é que “não respeita a autoridade do presidente da nação mais poderosa do mundo”.
Já um colega de Agripino, com mentalidade mais de feitor frustrado do que de escravagista retardatário, chamou o presidente do Equador de “covarde”.
Não há limites para desrespeitar o presidente do Equador, mas Chávez tem que “respeitar” Bush, que, como todo mundo sabe, é um sujeito muito corajoso.
Correa defendeu seu pequeno país contra uma agressão.
Portanto, é um “covarde” porque não tem a fenomenal coragem de ficar rastejando, de ficar ideologicamente em posições indecentes debaixo das escadas e nas cafuas - tal como o autor do insulto.

AUTORIDADE

Como é óbvio, autoridade é, precisamente, o que Bush não tem.
Até o “The New York Times”, que, apesar de alguns eventuais editoriais, tem colaborado com essa página sinistra da história dos EUA, não conseguiu engolir o pretexto do veto à proibição da tortura – a “luta contra o terrorismo”, a “segurança nacional dos EUA”, etc. & tal.

Resumindo: as milhares de ogivas nucleares,
os 1.426.713 homens e
mulheres na ativa das forças armadas (e mais 1.458.500 na reserva),
as bases militares em 39 países,
os milhares de tanques,
mais os mísseis,
submarinos,
aviões,
etc.,
etc.,e
etc., são incapazes de manter os EUA seguros.
Só a tortura, essa instituição moderníssima, há mais de 200 anos declarada ilegal e contrária ao ser humano pela Revolução Francesa, é capaz de tornar seguros os EUA.
Logo, segundo Bush, o ideal americano é a Idade Média – e a pior parte da Idade Média, a mais obscura, a mais estúpida.

No seu estilo farisaico, o jornal novaiorquino diz que o motivo verdadeiro do veto é “afirmar o legado” de Bush – ou seja, o seu poder às custas do Congresso, do Judiciário e dos cidadãos.

Em português (e, aliás, em inglês) o nome disso é ditadura.
Em suma, o objetivo da tortura – e de assumir publicamente essa aberração – é intimidar os cidadãos.
Nada tem a ver com qualquer combate ao “terrorismo”.
Pelo contrário, ela é o terrorismo – ou, se quisermos ser mais precisos, a tortura é o instrumento terrorista de um Estado terrorista, o que também tem um nome: fascismo.

Porém, nem os nazistas faziam propaganda de que torturavam.
Ao contrário, negavam e escondiam que a Gestapo torturava suas vítimas.
Naturalmente, eles tinham mais senso de realidade do que Bush et caterva.
Da mesma forma, o exército norte-americano e até o FBI, segundo os quais o interrogatório sob tortura é “desnecessário e contraproducente” (cf. “Veto of Bill on C.I.A. Tactics Affirms Bush’s Legacy”, TNYT, 09/03/2008).
Mas, sob os “atos patrióticos”, cujo nome é tão falso quanto seu autor, milhares de norte-americanos de várias origens étnicas têm sido presos e submetidos à tortura.
Até agora não se tem notícia de que a tortura tenha revelado um único culpado de alguma coisa – nem de que esses interrogatórios tenham levado a nada, exceto ao sofrimento de quem foi submetido a eles.
E, como lembrou o exército, a tortura praticada pela CIA coloca em risco os norte-americanos que porventura caiam prisioneiros em outros países.

Que os EUA, hoje, são uma ditadura aberta, um Estado policial que dispensa cada vez mais os disfarces “democráticos”, não é uma constatação apenas nossa.
Até notórios direitistas norte-americanos, admiradores de Reagan e de Theodore Roosevelt (que estavam longe de ser grandes - ou pequenos - democratas), denunciaram a ditadura sob Bush.
Se precisássemos de alguma outra prova, o próprio Bush, com sua inteligência habitual, acabou por confessá-lo, em seu veto, ao dizer que “nós não temos nenhuma responsabilidade mais alta do que a de parar os ataques terroristas”.
Que ataques terroristas?
Há sete anos não há ataque algum em território americano.
Por que Bush, então, diz que não tem nenhuma responsabilidade “mais alta”, ou seja, nem com os seres humanos, nem com a democracia, nem com as leis, nem com as demais instituições?
Certamente que isso nada tem a ver com quaisquer ataques.
Mas, diz Bush, a tortura não pode ser proibida porque “não é hora para o Congresso abandonar práticas que mantiveram a América segura”.
Ou seja, não somente é ele quem decide o que o Congresso deve ou não “abandonar”, como diz explicitamente que a tortura - a expressão mais totalitária e desumana de uma ditadura - é que mantém o país seguro.

Voltemos agora aos puxa-sacos locais de Bush.
Sua bajulação revela propensões não propriamente a ditador, mas a bobo da corte de alguma ditadura.

O Equador foi agredido por tropas colombianas sob comando americano.
O objetivo não era “combater terroristas”, nem a ação começou ou foi extensão de qualquer outra iniciada em território colombiano.
Foi uma ação de assassinato frio, típica das chamadas “forças especiais” dos EUA, em que as vítimas encontravam-se dormindo.

Porém, segundo a pornográfica revista “Veja”, quem invadiu o Equador foram os guerrilheiros das FARC.
Uribe, as tropas colombianas, e os americanos, invadiram o Equador para restaurar a soberania equatoriana.
Portanto, invadiram o país e assassinaram em território equatoriano por puro amor ao Equador e à sua integridade territorial.
Queriam salvar o Equador dos equatorianos, assim como Bush está tentando salvar o Iraque dos iraquianos...

MORAL

Resta saber em que as FARC estavam ferindo a soberania do Equador, pois o ato de se abrigar em outro país não fere soberania alguma.
Se fosse assim, De Gaulle teria ferido a soberania da Inglaterra quando lá se refugiou para lutar contra a ocupação nazista da França.
É verdade que a Inglaterra estava em guerra com a Alemanha, mas, pela lógica da “Veja”, isto somente tornaria mais urgente que Hitler invadisse o país para defender a soberania inglesa e acabar com aquele terrorista francês.
Devemos convir que os nazistas eram menos cínicos do que essa malta.
Talvez porque fossem imperialistas e não meros puxa-sacos do lumpen-imperialismo - pois Bush é um marginal, um arrivista até em relação ao próprio imperialismo americano: um dos senadores que criticaram energicamente o veto de Bush chama-se John D. Rockefeller IV, nome que dispensa maiores apresentações.
É preciso, portanto, ser um lacaio muito reles para deitar loas em louvor de Bush, ou para atacar os que defendem seus países contra esse bandoleiro – atitudes equivalentes.
Porém, considerando o estado avançado de decomposição desse cadáver político e moral, é preciso, antes de tudo, ser muito burro.
CARLOS LOPES
http://www.horadopovo.com.br/

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