terça-feira, 21 de julho de 2009

A VERDADE SOBRE OS PALESTINOS E A LIMPEZA ÉTNICA


Entrevista com Ilan Pappé, historiador israelita: Israel quer completar a limpeza étnica dos Palestinianos


Ilan Pappé é um dos mais famosos historiadores israelitas.

Contra a opinião da UE e dos EUA, defende que apenas um Estado na Palestina, com cidadania igual para todos, é a solução.

Professor de Ciências Políticas na Universidade de Haifa até 2007, foi obrigado a abandonar Israel após repetidas ameaças de morte contra si e a sua família.

Lecciona hoje na Universidade de Exeter, em Inglaterra.


O seu trabalho enquadra-se no de uma geração de historiadores israelitas que, com base na abertura dos arquivos israelitas após 1978, começaram a contestar a versão oficial da fundação de Israel.

Qual é o sentido geral da partilha de 1947 e os subsequentes acontecimentos de 1948?

Penso que o novo olhar sobre 1947 e 1948 realça os aspectos injustos da resolução de partilha da ONU. A ideia de impor a partilha pela força a uma população indígena que constituía dois terços dos habitantes, hoje não seria aceite. Nem seria pensável hoje a ideia de partir um país em duas partes quase iguais entre a população indígena e os colonizadores. Durante anos tendemos a culpar os Palestinianos por rejeitarem esta solução injusta e nós, nomeadamente a comunidade internacional, continuamos a propor estas soluções… injustas.Creio que hoje nos apercebemos da magnitude do crime cometido contra os Palestinianos em 1948, a limpeza étnica, o silêncio do Mundo e o facto de que o Estado de Israel continua a tentar completar a total limpeza étnica dos Palestinianos.


O que pensa dos acordos de Oslo e outras negociações entre Israel e os Palestinianos?

Creio que os acordos de Oslo tiveram um aspecto positivo, a legitimação da OLP. Excepto isso, foram como a resolução de partilha, uma imposição do ponto de vista israelita aos Palestinianos. Tinham as palavras correctas, mas elas estavam apenas de acordo com a interpretação israelita, o que significou encontrar um acordo que lhes pudesse permitir aprofundar a ocupação.Foram desastrosos. Criaram expectativas onde não havia intenção de alterar a realidade miserável no terreno, ferindo profundamente a hipótese de paz e, em segundo lugar, lançaram as sementes da divisão no campo palestiniano.


Por que é que Israel atacou Gaza?

Qual foi a reacção da sociedade israelita durante esta agressão, especialmente a da esquerda?Israel atacou Gaza por várias razões. Depois da derrota no Líbano em 2006, os seus generais acreditaram que uma vitória militar com sucesso imporia medo aos países árabes. Em segundo lugar, eles desejam erradicar pela força os movimentos que na região resistem pela força aos seus planos, como o Hamas. E o seu plano para Gaza em particular era mantê-la como uma prisão a céu aberto na esperança de que muitos Palestinianos dali abandonassem a sua terra ou sucumbissem à vida sob tais condições. Os Israelitas não irão permitir que Gaza e a Cisjordânia formem um Estado livre e independente.


Qual é a situação dos palestinianos israelitas? Qual é a sua reacção aos acontecimentos em Gaza?

Verificou-se uma escalada nas acções do Governo israelita contra a minoria palestiniana em Israel. A sua cidadania, bens e liberdade estão sob um perigo crescente. A situação não é tão má como a dos palestinianos na Cisjordânia, mas para lá caminha. Como no caso de Gaza, a elite política e militar de Israel não tem solução para este problema, a não ser que os palestinianos lá [em Israel] aceitassem viver para sempre como cidadãos de segunda ou mesmo terceira categoria.


Qual é a sua opinião acerca das manifestações ocorridas em todo o Mundo contra Israel durante o ataque a Gaza?

Creio que decorrem de uma tendência crescente em que largos sectores da opinião pública não aceitam mais as políticas criminosas de Israel. Mas ainda não se traduziram em mudança de políticas por parte dos governos.


Qual foi a reacção da comunidade judaica, particularmente no país em que de momento reside, o Reino Unido?

A comunidade judaica estabelecida é ainda embaraçosamente pró-Israel, mas mais e mais indivíduos estão a começar a dissociar-se do sionismo e um número significativo está disposto a ser activo na luta pela justiça para os Palestinianos.


Onde se posiciona no debate entre as chamadas soluções de ‘dois Estados’ e de ‘um Estado’ na Palestina?

Penso que não há realmente um debate. A solução de ‘dois Estados’ desapareceu para sempre, ainda que haja pessoas que pensem que foi uma solução justa e razoável. Creio que não o é e que apenas um Estado com cidadania igual para todos é a solução. Agora temos um Estado que discrimina contra todos os palestinianos que vivem entre o rio Jordão e o mar. Eles são discriminados de diferentes formas, alguns sujeitos à ocupação diária e abusos, outros estão a ser chacinados e expulsos, mas isto não é uma democracia e não pode continuar sem mais derramamento de sangue.

ttp://www.revistarubra.org/?page_id=695

Publicado Segunda-feira, 19 Janeiro, 2009

Entrevista , Enunciado de Violência , Racismo , Violência 5 Comentários


O filósofo Paul Virilio, no seu livro Estratégia da Decepção, ao falar sobre as estratégias de guerra teletecnológica do final do século XX, diz que a informação – ou a ausência dela – é essencial para se obter a vantagem em um conflito. Fabricar uma verdade torna-se mais importante que conquistar um território. Ao menos é o que pensam os aspirantes a Göebbels do novo milênio, a despeito das derrotas fragorosas a que têm sido submetidos, desde antes do Vietnam até hoje.
E é no sentido de enfraquecer a estratégia midiática da (des)informação que este bloguinho traz a transcrição de uma reveladora entrevista com o historiador israelense Ilan Pappe (Universidade de Oxford), autor do livro The Ethnic Cleansing of Palestine – A Limpeza Étnica da Palestina, transmitida pelo programa Milênio, da tevê fechada, no meio do ano passado.

Nela, embora o repórter Silio Bocanera refira-se constantemente aos palestinos como “eles” – o outro, o inimigo, na semântica paranóide estadunidense, o relato do engajado historiador acaba prevalecendo, e traz informações relevantes para a compreensão do conflito e do massacre de Gaza.
O vídeo rolou por vários blogues ativistas e, de nossa parte, pescamo-lo do companheiro Lukas, do Casa do Noca. Você pode conferir, se tiver paciência e conexão banda larga, clicando aqui.


Silio BoccaneraA sua pesquisa para o livro indicou que havia um plano evidente de tirar da Palestina uma vasta área habitada para formação de um Estado Judeu, antes de o mesmo ter sido criado. Desde quando houve este planejamento, e quem o fez?
Ilan Pappe – A idéia de eliminar a Palestina de sua população nativa, dos árabes, surgiu como um conceito claro nos anos 1930. Foi idealizada por David Ben Gurion, que se tornou o Primeiro-Ministro de Israel. Na época, líder da comunidade judaica, na Palestina de 1948, antes de Israel existir. No entanto, a idéia de como traduzir esse desejo, essa estratégia em um plano só se desenvolveu após a II Guerra Mundial. Na realidade, o primeiro passo foi fazer um registro de todas as aldeias palestinas. É um registro espantoso. Quando o vi, mal pude acreditar. Era tão meticuloso que detalhava quantas árvores frutíferas haviam em cada aldeia e de quais frutas eram, além, é claro, dos poços que havia e da qualidade do solo nas aldeias. Foi um levantamento sério da futura propriedade do Estado Judeu.

SBComo disse, os árabes não tinham poder, porque seus líderes haviam sido eliminados na revolta de 1936. E a liderança judaica se voltou contra os britânicos após a II Guerra Mundial…

IP – Sim, absolutamente tem razão. A decisão veio porque, ao contrário do que esperavam, a Grã-Bretanha resolveu não deixar a Palestina. Buscava um tipo de acordo que envolvesse judeus e palestinos juntos, sob o poder britânico, e era contra a vontade da liderança sionista. Creio que analisaram corretamente a fraqueza da Grã-Bretanha pós II Guerra Mundial e iniciaram uma guerrilha contra os britânicos. Mas ela não durou muito, pois os britânicos já estavam de saída. Apenas ajudou as autoridades britânicas a concluírem que não queriam mais a Palestina.
“Os judeus eram 1/3 da população apenas, e a ONU lhes havia prometido metade da Palestina. A maioria dos judeus chegara 2 ou 3 anos antes e já tinha direito a metade do país”.
SBTransferiram o poder para a ONU, inclinada a favor de Israel, que decidiu por um plano de partilha. Israel concordou com o plano, os árabes não. Por que o senhor acha que não concordaram?

IP
– Pelo ponto de vista dos palestinos, os colonizadores judeus não eram diferentes dos colonizadores franceses da Argélia. Era impensável para o povo argelino concordar com a divisão do país entre os franceses e eles. Do ponto de vista palestino, seria a mesma coisa, mas há outros fatores que podem explicar a decisão palestina, embora tenha sido melhor, na época, aceitar que era uma tática. Mas é possível entender os motivos. Os judeus eram 1/3 da população apenas, e a ONU lhes havia prometido metade da Palestina. A maioria dos judeus chegara 2 ou 3 anos antes e já tinha direito a metade do país. E, acima de tudo, alguns membros da ONU sabiam que estavam oferecendo um estado judeu com muitos palestinos – quase o mesmo número de palestinos e judeus – o que era inaceitável para o movimento sionista. A tendência do movimento sionista à limpeza étnica já era conhecida de alguns no mundo árabe, e os palestinos foram contra a decisão da ONU.




SBDaí até a criação do Estado de Israel em maio do ano seguinte, em 1948, foi o momento crucial, quando a lideraná judaica se reuniu e, segundo sua pesquisa, tentou atacar os árabes. Como eles fizeram isso? Qual foi o plano?


IP
– Esse foi exatamente o período formativo. Em primeiro lugar, eles procuraram preparar os meios para o que pensaram que seria uma luta em duas frentes. Pensaram que o mundo árabe tentaria, simbolicamente, não de maneira séria, desafiar a resolução de divisão da ONU invadindo a Palestina. Precisavam de um exército que pudesse enfrentar os exércitos árabes. A segunda frente de batalha em que pensaram era na parte da Palestina que queriam transformar no estado judeu. Não conseguiram a divisão feita pela ONU. Resolveram tomar a Palestina toda. Uma parte do que hoje é a Cisjordânia, que eles prometeram ao rei Abdala, da Jordânia, o bisavô do atual rei Abdala representava 80% da Palestina, habitada por 1 milhão de palestinos. Eles, primeiro, procuraram meios de expulsar esse 1 milhão de palestinos. Em segundo lugar, eles estavam cientes de que o mundo ainda observava. Os oficiais britânicos continuaram na Palestina até maio de 1948, havia representantes da ONU no local e a imprensa ocidental continuava lá. Havia muitas pessoas ainda interessadas nos acontecimentos, principalmente nos EUA. Então, não começou em um dia. Eles procuravam os inevitáveis confrontos e tensões que aconteciam entre as comunidades palestina e judaica principalmente nos centros urbanos, onde as pessoas moravam próximas. Onde havia algum grande evento, como a resolução de partilha da ONU, ocorriam atentados em ambos os lados. Decidiram executar tais ações com os palestinos como pretexto para, primeiro, expulsar uma aldeia. Depois, expulsar duas, cinco aldeias. Não ocorreu em ritmo acelerado até uma data muito importante, 10 de maio de 1948, quando sentiram que o mandato britânico estava prestes a acabar, e eles ainda não tinham limpado a Palestina. Foi nesse momento que decidiram agir de forma mais sistemática.
“(…) não conseguiram acreditar quando o exército israelense chegou e lhes deu menos de 1 hora para levarem o que pudessem das aldeias onde moravam há milhares de anos, atirando para o alto, para acelerar a fuga, massacrando aqueles que resistissem e estuprando as mulheres”.


SBA narrativa oficial do Estado é que os árabes tomaram a decisão a partir, em parte, da propaganda árabe de transmissões de rádio e porque os países vizinhos aconseharam-nos a partir. Então, 800 mil árabes partiram por conta própria. Não é o seu ponto de vista.


IP
– Não, isso é pura mentira. Hoje em dia, entre historiadores profissionais, as pessoas hesitam em repetir essa fábula. Não existe prova de tal ordem ou transmissão. E tivemos boas fontes. Os britânicos gravavam tudo que ia ao ar desde os anos 1930 na Palestina e no Oriente Médio em geral. Eu sei que a versão popular de Israel ainda é a que citou, de que o povo fugiu voluntariamente. Mas, se pensar na linguística, seja em hebraico, em português ou inglês, é uma expressão muito bizarra a de que o povo “fugiu voluntariamente”. Só maratonistas correm voluntariamente. Quem foge não o faz voluntariamente. A imagem que está vívida em minha mente e, em muitos aspectos, embasa o livro, são as histórias que vi nas aldeias litorâneas da Palestina e, mais tarde, de Israel, pois eram próximas de onde eu morava em Israel. Nessas aldeias, as pessoas, segundo a resolução de partilha da ONU, deveriam ser cidadãs israelenses. Faziam parte do futuro estado judaico. E elas se resignaram à essa idéia. Disseram: “os otomanos nos oprimiram, os turcos e os britânicos também. Agora os judeus mandarão em nós”. Eram camponeses e fazendeiros humildes que viram apenas com outro novo governo. Mas não conseguiram acreditar quando o exército israelense chegou e lhes deu menos de 1 hora para levarem o que pudessem das aldeias onde moravam há milhares de anos, atirando para o alto, para acelerar a fuga, massacrando aqueles que resistissem e estuprando as mulheres. Para mim, como relato no livro, alguém cuja família soberviveu ao holocausto nazista, embora a minha não tenha sobrevivido, a idéia de que os judeus pudessem fazer isso três anos após o holocausto ainda hoje é incompreensível para mim.


Diminuição do território palestino, entre 1946 - 1999 (clique para ampliar).


SB
Como o senhor citou, uma das principais figuras deste procedimento que seu livro chama de “limpeza étnica” foi Ben Gurion. O senhor o vê como arquiteto da limpeza étnica?


IP – É como eu o vejo. É verdade em relação ao sionismo como um todo. Meu falecido amigo, Edward Said, dizia… Ele tinha uma visão muito peculiar e pungente. Ele dizia que o sionismo, o que também vale para David Ben Gurion, foi bom para os judeus. O sionismo salvou minha família da Alemanha. O sionismo teve muitas conquistas, e Ben Gurion foi responsável por várias delas. Mas no que se refere aos palestinos, o sionismo foi a pior coisa que poderia acontecer. Acabou com eles.

SBOutro nome que o senhor cita de forma não muito favorável nessa época é Yitzhak Rabin.

IP
– Sem dúvida.

SBO que ele fez?

IP – Ele era muito mais jovem que Ben Gurion. Tinha 40 anos a menos. Ben Gurion tinha pouco mais de 60 anos, e Yitzhak Rabin, pouco mais de 20. Ele foi responsável por uma parte da limpeza étnica, porém uma parte horrenda. No centro da Palestina haviam duas cidades, chamadas Lydda e Ramla, onde viviam cerca de 100 mil pessoas. Ele foi o responsável por erradicá-las no verão de 1948. O verão na Palestina é muito quente. Ele e seus colegas os obrigaram a marchar até a Cisjordânia, a dezenas de quilômetros. Muitos morreram no caminho, de fome e sede. Um aspecto muito desumano da limpeza étnica. Como eu disse antes, um crime contra a Humanidade.

“No centro da Palestina haviam duas cidades, chamadas Lydda e Ramla, onde viviam cerca de 100 mil pessoas. Ele foi o responsável por erradicá-las no verão de 1948. O verão na Palestina é muito quente. Ele e seus colegas os obrigaram a marchar até a Cisjordânia, a dezenas de quilômetros. Muitos morreram no caminho, de fome e sede”.

SB Menachem Begin e Yitzhak Shamir também estavam envolvidos nesta fase ou não?

IP – Esse é o grande… Não o grande, mas um dos sucessos da propaganda israelense. Os piores crimes contra os palestinos foram cometidos pelo movimento trabalhista. Eu nunca admirei Shamir e Begin. Mas pode-se dizer que fizeram bem menos que os líderes do movimento trabalhista. Mesmo quando foram primeiros-ministros, fizeram coisas horríveis nos territórios ocupados, e Begin obviamente é responsável pela destruição do Líbano em 1982. Mas ainda mal se compara ao que os líderes do movimento trabalhista fizeram em 1948.

SBPassando para os anos 1950, essa limpeza étnica prosseguiu?

IP – Ela persiste ainda hoje, neste momento. Há limpeza étnica em Jerusalém e em toda parte. Sim, ela prosseguiu nos anos 1950. O interessante é que Ben Gurion é o responsável. A limpeza étnica não se completou. Foi uma grande operação, e tiveram de deixar, pelo menos, 10% da população que desejavam eliminar. Foi assim que as minorias árabes e israelense surgiram. Para Ben Gurion e seus assessores pessoais, era um número muito alto. Ele queria um estado judeu limpo. Então, tentaram de formas diferentes, pois não havia mais guerra e o mundo estava mais sensível do que antes. Tentaram obrigar as pessoas a imigrar e, em alguns casos, como ocorreu em mais de 30 aldeias, a maioria delas pequena, continuaram com a expulsão. Não houve um dia na história da Palestina e de Israel, desde 1948, em que a máquina da limpeza étnica tenha parado. Ela funciona o tempo inteiro. Há uma definição muito interessante no meu livro, dada no site do Departamento de Estado Americano, eles dizem que após toda operação de limpeza étnica na história, foi apagada a história de seu povo. Não se limitou ao extermínio do povo, mas também apagar a sua história. Eles apagam o povo dos livros de História e do próprio local. Com Israel, não é diferente. Como explico no meu livro, há um mecanismo muito elaborado que inclui a plantação de florestas, a substituição de nomes palestinos por hebreus, o que teve início em 1948 e persiste na Cisjordânia, na grande Jerusalém.

SBSubitamente, uma nova liderança, novos movimentos nacionalistas começam a crescer no início dos anos 1960, a OLP, a Fatah, a Frente Democrática e outros grupos como esses. O senhor vê um paralelo entre o que começaram a fazer e o que o Irgun, o Haganah e o Stern fizeram?

IP – De certa forma. Há alguns paralelos entre os métodos e a luta de guerrilha. Mas há uma grande diferença entre um grupo de colonialistas modernos, colonialistas do século XX, que tentam, como ocorreu na Argélia, não permitir que o movimento entre na era pós-colonialista e um movimento anticolonialismo como o dos palestinos. É uma grande diferença a meu ver. A OLP era e continua sendo um movimento anticolonialista. O Irgun e o Haganah não eram anticolonialistas, eram um pouco como os brancos na África do Sul. Tentavam reter uma realidade aceitável no século XIX, mas não mais no mundo pós II guerra Mundial pela visão ética surgida ao menos no Ocidente.
“[A limpeza étnica] Não se limitou ao extermínio do povo, mas também apagar a sua história. Eles apagam o povo dos livros de História e do próprio local. Com Israel, não é diferente”.

SB Mas o senhor vê um paralelo com os métodos, ataques a civis por motivos políticos, é a definição básica de terrorismo.

IP – Sim, claro. E é importante lembrar isso aos israelenses quando chamam os palestinos de terroristas. Eles também já foram terroristas.

SBDeste conceito de limpeza étnica, de eliminação dos árabes, passamos para a chamada bomba demográfica que existe na região. Chamavam de ‘problema demográfico’, agora é um perigo demográfico, uma bomba. O que é essa bomba, esse perigo, pelo ponto de vista deles?

IP – É um conceito muito claro. É um consenso entre os maiores políticos de Israel ou membros principais da elite política. Há uma maneira quantitativa de saber quando os árabes se tornam um perigo. Está entre 20 e 25%. Eu sei este número porque vivem citando. Entre 20 e 25% da população de Israel. Quando determina o que é o Estado de Israel, se nesse estado houver 25 mil não-judeus, com cidadania israelense mas etnia árabe, aos olhos da elite política de Israel, será o sinal do final do Estado.

SB
E claro que o índice de natalidade é muito maior entre eles.

IP – Muito maior. Vai acontecer. Mesmo que devolvam metade da Cisjordânia ou transfiram pequenos grupos de Jerusalem Oriental. Isto me preocupa muito. Não vejo como impedir. Eu temo que os políticos populares israelenses pensem que, caso isto aconteça, pois ainda somam menos de 20%, mas que caso aconteça, podem usar de quaisquer meios à disposição deles, incluindo a limpeza étnica, para evitar esta situação. Se perguntar a qualquer israelense nas ruas, ele dirá que esse é o valor mais importante, acima da democracia, dos direitos humanos e civis.
Os israelenses não podem mais separar as populações judaicas e palestinas na região. Eles fizeram muitos assentamentos na Cisjordânia. E continuam fazendo. As comunidades estão entrelaçadas. Às vezes, a realidade pode mandar nas elites políticas. Geralmente, ocorre o contrário, mas neste caso já vemos indícios disso.

SB
É concebível que Israel desista de ser um estado judeu e seja como outros estados, acomodando crenças sem ser exclusivamente o chamado estado judeu, mas um estado mais aberto, normal e democrático?

IP – Não a curto prazo. A curto prazo, não seria possível. Mas há uma boa chance a longo prazo, por dois motivos principais. Acho que estão exagerando no momento. No passado, foram sensatos em não fazer certas coisas por achar que o mundo estava atento. Felizmente, estão exagerando agora. E acho que estão testando a paciência mundial. Quando o poder global americano diminuir, e ele vai diminuir dentro em breve, o mundo ficará ainda mais corajoso ao tentar expor o lado mais racista do estado judeu. Em outras palavras, prevejo uma pressão muito forte e até externa sobre Israel. Mas não será de imediato. Em segundo lugar, penso nas realidades locais. Os israelenses não podem mais separar as populações judaicas e palestinas na região. Eles fizeram muitos assentamentos na Cisjordânia. E continuam fazendo. As comunidades estão entrelaçadas. Às vezes, a realidade pode mandar nas elites políticas. Geralmente, ocorre o contrário, mas neste caso já vemos indícios disso. Até os israelenses mais racistas, digamos assim, acham que os filhos devem aprender árabe, e jamais quiseram isso antes. Começam a notar que fazem parte desta realidade. E até os palestinos mais fanáticos querem que os filhos aprendam hebraico, apesar do que dizem sobre matarem uns aos outros.


SBVêem uma realidade diferente no futuro. Um estado binacional.

IP – Sim. Um estado binacional, comunidades entrelaçadas. Não necessariamente começando com muito amor, não necessariamente felizes com tal realidade, mas chegando cada vez mais à conclusão de que qualquer outra situação é o que os americanos chamam de “destruição mútua”. Acho que os processos locais e a impaciência mundial com os problemas que Israel vai causar ao mundo, pois ainda não chegamos ao fim deles, sobretudo no front, contra o Irã e a Síria, um dia, não imediatamente, trarão a chance de se construir uma nova realidade na Palestina. Claro que há hipóteses bem mais terríveis, como o sucesso de Israel na eliminação dos palestinos, antes que o mundo possa agir. É, infelizmente, uma possibilidade. Mas espero… Não quero nem pensar nisso.


Ilan Pappe (http://ilanpappe.com) é judeu, perdeu toda a família sob o jugo alemão na 2ª Guerra e é Historiador, ativista de Direitos Humanos, Professor e Chair no Departmento de História da University of Exeter e co-diretor do Exeter Center for Ethno-Political Studies.
Assisti uma entrevista de Silio Boccanera, com o Professor Pappe hoje à tarde na Globo News e o relato dele é absolutamente estarrecedor. Pappe desafia a Versão Sionista dos eventos acontecidos na Palestina desde 1948.
Entre inúmeras passagens inacreditáveis ele fala do "Projeto" iniciado por Ben Gurion e a seguir por Itzhac Rabbin e o Partido Trabalhista de extermínio do povo palestino, confiscando suas terras, estuprando suas mulheres e matando impiedosamente desde 1948 e intensificado a partir de 1950 com a retirada dos Ingleses do Estado de Israel.
O próprio Pappe se emociona quando fala dizendo nunca poder imaginar que os judeus fossem capazes de fazer o mesmo que os alemães acabavam de ter feito.
Conta que em 1950, por exemplo os israelenses decididos a expandirem seu território a despeito do que foi determinado pela ONU saíram tomando as terras dos colonos palestinos chegando a determinar que estes tinham uma hora para se retirarem levando o que podiam. Davam tiros para o alto e matavam quem se lhes opunha. Mas é muito pior que isso.
A atitude beligerante do Hamas e do Hezbollah não é fruto apenas de ódio anti-semita nem tampouco insanidade de gente desequilibrada.
Os Palestinos clamam ao mundo para não serem sumariamente exterminados porque Israel já decidiu, há muito tempo, que ficará com suas terras.
Visitem o site de Ilan Pappe e entenderão o que realmente se passa no Oriente Médio.
09/01 "O GLOBO - BBC Brasil - Forças israelenses bombardearam uma casa na Faixa de Gaza onde os próprios soldados de Israel tinham colocado cerca de 110 palestinos no dia anterior, segundo um relatório da ONU.
O bombardeio, em Zeitoun, um bairro no sudeste da Cidade de Gaza, ocorreu no dia 5 de janeiro e matou cerca de 30 pessoas"."Segundo várias testemunhas, no dia 4 de janeiro soldados israelenses evacuaram aproximadamente 110 palestinos (metade destes, crianças) e os levaram para uma única residência em Zeitoun, afirmando que eles deveriam permanecer em casa", informou o escritório da ONU no relatório.
"Vinte e quatro horas depois, forças israelenses bombardearam a casa várias vezes, matando aproximadamente 30 pessoas."
Segundo a ONU, os que sobreviveram e ainda conseguiam andar caminharam dois quilômetros para a estrada principal de ligação entre o norte e o sul da cidade para conseguir transportepara o hospital mais próximo em veículos civis.
"Três crianças, a mais nova delas com cinco meses de idade, morreram na chegada ao hospital", segundo o relatório.Lendo o texto acima me vem a imagem da crueldade nazista contra os judeus na Alemanha. É idêntico. E não foi um "acidente".
Foi premeditado.
Israel terá que responder por crimes contra a Humaninade em Genebra ou outro Forum Internacional. Não adianta querer defender o indefensável.
12/01 20:30hs.GENEBRA - O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou segunda-feira uma resolução que condena Israel por sua ofensiva na Faixa de Gaza, pede o fim imediato das hostilidades e determina o envio de uma missão de investigação independente.
A resolução cria uma equipe para "investigar todas as violações das leis internacionais de direitos humanos" que Israel possa estar cometendo contra o povo palestino.
Além disso, pede que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, faça um relatório à Assembleia Geral sobre o ataque a uma escola da ONU na Faixa de Gaza, ocorrido na semana passada.

Vale a pena ver toda a entrevista (legendada em português):


Paulo disse...
O problema da Palestina não é apenas um problema de postos de controle, de abusos dos direitos humanos, do muro, da demolição das casas, da estratégia da ocupação ou do cerco de Gaza. O problema central é o roubo ilegal, a colonização e a ocupação de um país inteiro. Estes são apenas sintomas do nacionalismo judeu expressa pela ideologia sionista.Não se costuma mencionar o facto que esta terra bíblica a que os judeus modernos chamam a "sua terra" foi obtida com o genocídio dos povos de outras nações que ocupavam a terra que os judeus actuais dizem ter um direito histórico.
16 Abril, 2009 14:08
contradicoes disse...
Pois estes mesmos usurpadores dum território, admiram-se e chamam de terroristas aos seus legítimos donos da terra, quando afinal todos os demais países colonizadores tal como o nosso foi obrigado pelas Nações Unidas a devolver os territórios em África aos seus autótenes. Permitindo-se impor-se sobre o povo colonizado, Israel dizima o povo palestiniano perante a passividade do Mundo.
16 Abril, 2009 23:01
xatoo disse...
não só ocuparam e expulsaram os habitantes ancestrais dessas terras, como o fizeram de uma forma completamente terrorista - os actos de aterrorizamento dos árabes começaram logo assim que Hitler chegou ao poder, que utilizou os judeus contra os britânicos que tutelavam a Palestina. Na verdade existiu um pacto de Hitler com as Chefias judeo-Sionistas que utilizaram os judeus como arma de arremesso (exportando-os literalmente) contra o inimigo inglês.O terrorismo do Stern Gang, Irgun Zvai Leumi, etc. é um dado pouco conhecido (porque deliberadamente esquecido, excepto o Leumi que é hoje um importante banco transnacional de Israel).Há um livro recente sobre esse periodo,"Major Farran`s Hat: Murder Scandal and Britain`s War Against Jewish Terrorism 1945-1948" de David Cesarini.Ainda não li, mas deve ser interessante. Alguém que pesquise e acrescente algo.
17 Abril, 2009 01:35
xatoo disse...
ora aqui está a historia da ligação entre o terrorismo do Stern e o dito Bancohttp://www.fpp.co.uk/online/01/10/SwissBanks2.htmleste merece um post.
17 Abril, 2009 01:39
alf disse...
Bela entrevista!Que aconteceu a este tipo?Israel continua a desenvolver uma política de extermínio que ninguém denuncia, uma política a longo prazo conducente ao auto-extermínio dos palestinianos.
17 Abril, 2009 15:04
PRODUCTIONS disse...
Quanto ao livro "Major Farran`s Hat", uma das poucas referências que encontrei na internet foi isto: http://www.ft.com/cms/s/2/34cd4554-1fe2-11de-a1df-00144feabdc0.html http://www.scotsman.com/bookreviews/Book-Review-Major-Farran39s-Hat39A.5135540.jp http://www.play.com/Books/Books/4-/5481726/Major-Farran-Hat/Product.html Mais um livro de qualidade, que nunca irá vêr edição em língua portuguesa.
17 Abril, 2009 16:58

61 ANOS DE NAKBA (DESGRAÇA)
61 ANOS DE OCUPAÇÃO ISRAELITA - 61 ANOS DE "APARTHEID", LIMPEZA ÉTNICA - 61 ANOS DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA


A 29 de Novembro de 1947 as Nações Unidas aprovaram a Resolução 181 que recomendava a Partilha da Palestina histórica em um Estado israelita para menos de 20% de habitantes representados por colonos provenientes na sua maioria da Europa sobre 51% do território e um Estado palestino nos outros 49% para um milhão de Palestinianos. Esta divisão, apesar de demograficamente desigual, nunca chegou a efectuar-se.
Entre a decisão de partilha e o dia 15 de Maio de 1948, dia oficial do fim do mandato britânico e a declaração do Estado de Israel, houve uma verdadeira guerra de limpeza étnica que foi relatada historicamente por inúmeros escritores e pensadores. Talvez tenha sido Ilan Pappe, o historiador israelita quem mais relatou e transmitiu as realidades desta guerra através do seu livro denominado
"A LIMPEZA ÉTNICA DA PALESTINA" e baseado em documentos "libertados" pelo governo israelita há mais de dois anos. Neste livro, o escritor relata palavra por palavra e detalhadamente como nasceu a questão dos refugiados, as aldeias completamente destruídas e os massacres cometidos contra o povo palestiniano.
Com a guerra de 1948, iniciou-se um processo de ocupação territorial em benefício dos emigrantes judaicos e da limpeza étnica da população palestiniana que foi seguindo o seu percurso fatídico até aos dias de hoje. O primeiro afastamento da população palestiniana foi levada a efeito por milícias sionistas provocando um êxodo massivo de 750.000 palestinianos que se converteram em refugiados. Junto com os seus descendentes, representam hoje em dia cerca de cinco milhões de pessoas refugiadas além de um milhão e meio a viverem na Faixa de Gaza, a maioria dos quais já havia sido desalojada dos territórios em 1948, 2 milhões na Cisjordania e 1 milhão e meio de Palestinianos, cristãos e muçulmanos que representam 20% da população de Israel.
Aquela primeira ofensiva das milícias sionistas (consideradas grupos terroristas pela comunidade internacional) culminou a 15 de Maio de 1948 com a proclamação unilateral do Estado de Israel por Ben Gurion. Esta data ficou gravada na memória do povo palestiniano como o dia fatídico da derrota, o massacre e o exílio forçado. É relembrada a cada 15 de Maio e conhecida pelo nome de "Nakba", a catástrofe/ a desgraça.
A resolução 194 das Nações Unidas de 11/09/1948 que exigia à comunidade internacional cumprir o direito do regresso dos refugiados palestinos e garantir a respectiva indemnização foi condição para entrada de Israel nas NU mas esta resolução continua sem implementação e a ser anualmente recordada na Assembleia Geral das Nações Unidas Sob o tema: Palestina, os Direitos Inalienáveis.
Durante estes longos 61 anos e até hoje, o Estado de Israel pratica nos Territórios Palestinos Ocupados uma politica de expansão e imposição de factos no terreno, construção de uma rede imparável de colonatos, violação dos direitos fundamentais e políticos da população civil palestiniana, anexação de terras e recursos hídricos, castigos colectivos, isolamento das populações e restrição de movimento dos cidadãos através de controlos militares (check points) cerca de 650 fixos além dos temporários, o muro de separação racista, detenções (11 mil prisioneiros alguns dos quais já ultrapassaram os 37 anos nas prisões israelita), expulsões, torturas, assassinatos, bombardeamentos.... Ignorando as resoluções das NU e de outros organismos internacionais, Israel continua praticando uma política de colonização e expulsão. Continua ampliando o número e tamanho dos colonatos israelitas na Cisjordânia e em Jerusalém onde tem vindo a instalar cerca de meio milhão de colonos.
Após 61 anos o povo palestiniano, apesar de todas as injustiças que tem vindo a sofrer, resiste firmemente aos seus direitos. Resiste contra um Estado militar e confessional que se apoia num "lobby" internacional sionista muito poderoso, que se nega a acatar as resoluções das NU especialmente a 243 e a 338 que insistem na retirada de Israel dos territórios árabes ocupados e a 194 e a 3236 que reconhecem o direito de regresso dos refugiados assim como a declaração do Tribunal Internacional de Haia de 2004 sobre o rápido derrube do muro de separação racista. Sem o apoio e consentimento internacional, o estado ocupante de Israel não poderia ter mantido todos estes anos a incomensurável injustiça contra todo um povo. Os 86 vetos americanos no Concelho de Segurança ajudaram a fazer com que Israel seja um país acima de lei.
Apesar de se recordarem agora os 61 anos da Nakba (desgraça) os palestinos não desistem, continuam e continuarão a insistir no direito ao estabelecimento do seu estado independente nos territórios ocupados em 1967 com Jerusalém oriental como sua capital e encontrar uma solução justa para a questão do regresso dos refugiados.
O Povo Palestiniano nada mais pede do que aquilo que lhe foi concedido pelas resoluções das NU, pela comunidade e legalidade internacionais de acordo com os direitos humanos se é que, e esperamos que sim, ainda exista algum respeito e consideração por aqueles conceitos e resoluções.
Ao relembramos os 61 anos da Nakba (catástrofe/desgraça), lembramos 61 anos do sofrimento que vivemos, os massacres, a tortura e a miséria nos campos dos refugiados nos países vizinhos. 61 anos da Nakba, é altura de mais uma vez exigirmos de todos o governos europeus que assumam a sua obrigação de fazer cumprir as resoluções das NU assim com as obrigações estabelecidas pelo Tribunal Internacional de Justiça sobre a ilegalidade do muro de separação racista. A criação pela União Europeia de uma comissão e tribunal especial que investigue as violações cometidas por Israel em relação aos Convénios, ao Direito Internacional e especificamente sobre o regime de "apartheid" que têm vindo a desenvolver assim como as suas violações à IV Convenção de Genebra e crimes contra a humanidade na sua campanha de isolamento e genocídio contra um milhão e meio de cidadãos que vivem na Faixa de Gaza.
Israel conta com a ideia de que os mais velhos irão morrer e os mais novos irão esquecer-se. Morrerão os mais velhos, mais os mais novos, geração após geração, continuam a ter na mão as chaves das casas dos pais e as escrituras das suas terras para um dia regressarem... As novas gerações mostram-se lutadoras e ligadas às aspirações da sua identidade e de uma pátria própria não desistindo do direito ao regresso, à independência e ao estabelecimento do Estado Palestiniano independente com Jerusalém como capital.

15 de Maio de 2009
Randa Nabulsi
Delegada Geral da Palestina em Portugal

http://www.mppm-palestina.org/index.php/opiniao/72-61-anos-de-nakba

Nenhum comentário: