domingo, 5 de julho de 2009

GOLPE BAIXO EM HONDURAS

Milhares de hondurenhos foram às ruas pedir a volta de Zelaya

Foto:Gustavo Amador, EFE


Para entender o golpe em Honduras
2009 Julho 3

Golpe em Honduras


De repente, um pequeno país da América Central, cuja capital poucos conseguem pronunciar o nome, Tegucigalpa, virou notícia mundial.

Uma velha e conhecida história ali se repetia, quando mais ninguém acreditava que isso pudesse ser possível.

Um golpe de estado contra um presidente que não é nenhum revolucionário de esquerda, pelo contrário, é um bem comportado político do partido liberal.

O motivo do golpe é pueril: a decisão do Presidente de fazer uma consulta popular sobre a possibilidade de uma Constituinte.

Em Honduras, ouvir o povo é considerado um ato de lesa pátria.

Nada poderia ser mais anacrônico nestes tempos de participação protagônica das gentes.

A história

Honduras é um pequeno país da América Central cuja história é muito peculiar.
Primeiro, porque foi o berço de uma das mais incríveis civilizações desta parte do mundo: os maias.
E segundo, porque durante as guerras de independência que tomaram conta da américa espanhola, foi ali que se criou a República Federal das Províncias Unidas da América Central, um ensaio da pátria grande, tão sonhada por Bolívar.

Os maias foram dizimados e a proposta de federação não resistiu ao sonhos de grandeza de alguns e, em 1838, a região da América Central também balcanizou.

Honduras virou um estado independente e acabou entrando no diapasão das demais repúblicas da região: dominada por caudilhos e fiel serviçal das grandes potências da época, tais como a Inglaterra, a Alemanha e a nascente nação dos Estados Unidos.

As ligações perigosas

Como era comum naqueles dias, a elite governante se digladiava entre liberais e conservadores.

Com o fim da idéia de federação e a morte do liberal Francisco Morazón, considerado o mártir de Tegucigalpa, que morreu em 1842 ainda lutando pela unificação da América Central, os conservadores assumiram o comando e o país virou prisioneiro da dívida externa, conforme conta o historiador James Cockcroft, no livro América Latina e Estados Unidos.

Os liberais só voltaram ao poder no final do século XIX, mas já totalmente catequisados para viverem de maneira dependente dos países centrais.

No início dos século XX chegaram as bananeiras estadunidenses e com elas o processo de super-exploração.

A United Fruit Company, a Standart Fruit e a Zemurray´s Cuyamel Fruit passaram a comandar os destinos das gentes. E quando estas tentaram se rebelar, foi a marinha estadunidense quem desembarcou no país para aplastar as mobilizações.

Honduras virou, desde então, um país ocupado.

Os camponeses trabalhavam nas piores condições e as bananeiras ditavam as leis, financiando os dois partidos políticos locais.
Nos anos 30, quando uma grande depressão agitou o país, o governante de plantão, General Carías, submeteu o país, com a ajuda armada estadunidnese, a 16 anos de lei marcial. E, como é comum, quando ficou obsoleto, foi retirado do poder por um golpe.
Em 1950, depois da segunda guerra, as bananeiras exigiram mudanças e o Banco Mundial foi chamado para promover a “modernização” de Honduras.

Gigantescas greves de trabalhadores – como a dos plantadores de banana que parou o país por 69 dias – e de estudantes foram aplastadas em nome do desenvolvimento. E tudo o que eles queriam era o direito de ter um sindicato. Havia eleições mas, na verdade, com uma elite claudicante eram os militares quem davam as cartas e foram eles, apavorados com os avanços dos trabalhadores, que assinaram um acordo com os Estados Unidos para que este país pudesse ter bases militares no território hondurenho.
O medo de mais revoltas populares fez com que o governo realizasse uma espécie de reforma agrária nos anos 60 e 70 que acabou freando as mobilizações no campo, embora o benefício não tenha chegado a um décimo dos camponeses.

Ao longo dos anos 70 os escândalos envolvendo generais no governo e as bananeiras se sucederam, causando mais mobilização nas cidades e nos campos, onde os trabalhadores já se organizavam de modo mais sistemático.
Mas, os anos 80 trarão um nova ocupação estadunidense que acabou subordinando a vida das gentes outra vez.

Os sandinistas e os EUA

Os anos 80 são tempos de guerra fria.
Os Estados Unidos insistem na luta contra Cuba e também contra a Nicarágua que busca sua autonomia através da revolução sandinista. E, assim, com o mesmo velho discurso de combater o comunismo, Jimmy Carter manda para Honduras os seus “boinas verdes”, para ajudar na defesa das fronteiras, uma vez que o país faz limite com a Nicarágua. Além disso, os EUA abocanham mais de três milhões de dólares pela venda de armas e alugel de helicópteros.

Na verdade, lucram e ainda usam o exército hondurenho para realizar numerosas matanças de refugiados salvadorenhos e nicaraguenses.

É ali, em Honduras, que, com o apoio da CIA, se leva a cabo o treinamento dos contras que, por anos, assolaram a revolução sandinista e o próprio governo revolucionário.

Era o tempo em que um batalhão especial liderado por um general hondurenho anti-comunista, promoveu massacres contra lideranças da esquerda de toda a região.

E assim, durante toda a década, apesar dos escândalos políticos e mudanças de mando, a “ajuda” estadunidense aos generais de plantão sempre se manteve impávida com milhões de dólares sendo investidos nos acampamentos dos contras, que somavam mais de 15 mil soldados.
Nos anos 90, a situação em Honduras era tão crítica que até a conservadora igreja católica passou a apoiar os militantes dos direitos humanos que denunciavam estar o país a beira de uma guerra.

A derrota dos sandinistas na Nicarágua refreou os ânimos, mas ainda assim, seguiram as denúncias de assassinatos e violações.
No final da década, os governos neoliberais já haviam destruido as cooperativas de trabalhadores e devolvido terras às companhias estadunidenses. Nada mudava no país.

Zelaya
Manuel Zelaya foi eleito presidente em 2005, pelo Partido Liberal, mas esteve em cargos importantes durantes os últimos governos.

Era, portanto, um homem do sistema.

Seus problemas com os Estados Unidos começaram em 2006, quando decidiu reduzir o custo do petróleo, passando a discutir com Hugo Chávez, da Venezuela, a possibilidade de negócios conjuntos, o que acabou culminando, em janeiro de 2008, com a entrada de Honduras na órbita da Petrocaribe, um acordo de cooperação energética que busca resolver as assimetrias no acesso aos recursos energéticos.

Este acordo incluiu Honduras na lógica da ALBA, a Alternativa Bolivariana para as Américas, projeto de Chávez em contraposição à ALCA, que tentava se impor a partir dos Estados Unidos.

A proposta de Chávez foi a de vender o petróleo a Honduras, com pagamento de apenas 50%, sendo a outra metade paga em 25 anos, com um juro pífio, permitindo assim que Honduras investisse em áreas sociais. O plano, apesar de bom para o país, foi duramente criticado pela classe política.

E os Estados Unidos perderam um parceiro de TLC (os mal fadados acordos de livre comércio), o que provocou tremendo mal estar em Washington.

Assim, quando o presidente Zelaya decidiu fazer um plebiscito, consultando a população sobre a possibilidade de uma Assembléia Nacional Constituinte, e não apenas de uma mudança para um novo mandato como dizem alguns veículos de informação, o mundo veio abaixo.

Entre os direitistas de plantão e amigos da política estadunidense, isso era influência de Chávez. O próprio partido Liberal reacinou contra a medida, considerada “progressita” demais. Afinal, uma nova Constituinte colocaria o país num rumo bastante diferente do que vinha sendo trilhado nas últimas décadas.

Mesmo assim o presidente levou adiante a proposta de ouvir a população e acabou exonerando o chefe do Estado Maior, general Romeo Vásquez Velásquez, quando este se recusou a distribuir as cédulas para a votação.

A Corte Suprema votou contra a consulta popular e exigiu que o presidente reconduzisse o general ao seu posto, o que foi negado. Por conta disso, no dia da votação, domingo, dia 28, os militares prenderam Zelaya, o sequestraram e o levaram para Costa Rica, coincidentemente seguindo os mesmos trâmites do golpe perpetrado contra Chávez em 2001.

O Congresso hondurenho chegou a discutir até a sanidade mental do presidente e, no dia do golpe, se prestou a ler uma fictícia carta de renúncia, imediatamente desmentida pelo próprio presidente desterrado.

Ainda assim, o Congresso decidiu instituir o presidente da casa, Roberto Micheletti, como presidente da nação.

Este, nega que esteja assumindo num momento de golpe.

“Foi perfeitamente legal a ação do Congresso”, dizia, e, enquanto isso, mandava suspender os sinais de televisão e os telefones.

Reação Popular

Agora estão jogados os dados. O presidente Zelaya disse que volta a Honduras nesta quinta-feira e vai acompanhado de presidentes de nações livres e amigas, tais como Equador e Argentina.

O mundo inteiro repudiou o golpe e nenhum país reconheceu o governo golpista. A população deflagrou greve geral no país e, aos poucos, as grandes cidades estão parando.

A proposta de Zelaya é reassumir e terminar o seu mandato. Não se sabe se ele vai insistir na consulta popular para uma nova Constituição, tudo vai depender da correlação de forças.

Se a sua volta se der a partir da mobilização popular, haverá condições objetivas de apresentar esta proposta aos hondurenhos, além de purgar toda a camarilha que buscou reavivar um passado que as gentes de Honduras não querem mais.

Há rumores de que políticos da direita estejam alinhavando um acordo, permitindo a volta do presidente, mas exigindo que ninguém seja punido. Se assim for, a volta será derrota.
O cenário mais provável é que, configurado o apoio popular e também o apoio da comunidade internacional, o presidente Zelaya coloque para correr os golpistas e inaugure um novo tempo em Honduras.
Caso seja assim, enfraquece o domínio dos Estados Unidos na região e cresce o fortalecimento da Aliança Bolivariana dos Povos de Nuestra América.

FONTE:

http://eteia.blogspot.com/2009/07/para-entender-o-golpe-em-honduras.html


Honduras: Fortalece-se movimento popular antigolpista
2009 Julho 3
tags:
, ,
by dariodasilva


EUA suspende manobras militares em solo hondurenho


HAVANA, Cuba, 01 jul (ACN) Vários milhares de pessoas protagonizaram uma manifestação nas proximidades da Casa Presidencial, em Tegucigalpa, em apóio ao chefe de estado constitucional desse país Manuel Zelaya.

Cuban News Agency


A demonstração ocorreu no mesmo lugar onde centenas de policiais com fuzis de assalto e apoiados com carroças lança água reprimiram a população que repudiava o golpe militar, informou a PL.
Juan Barahona, presidente da Federação Unitária de Trabalhadores e dirigente da Frente de Resistência Pacífica Popular, ratificou a vontade de prosseguir a luta até o restabelecimento da institucionalidade nesse país centro-americano.
Barahona e Carlos H. Reina, candidato presidencial independente, manifestaram que brindarão umas calorosas boas-vindas a Zelaya, quando voltar a Honduras.
Aliás, repudiaram o abuso de força despregado pelas forças armadas contra milhares de hondurenhos que exigem a volta de Zelaya em frente à Casa Presidencial, desde que se conheceram as primeiras notícias do golpe, no domingo passado.
Por outra parte, Porfirio Ponce, dirigente sindical, denunciou a reaparição em Honduras do esquadrão da morte 316.
Neste sentido precisou que integrantes desse comando fustigam dirigentes populares, como Marcos Antonio Murillo, dirigente sindical da Universidade Nacional de Honduras, cuja moradia foi invadida em uma das ações desse esquadrão.
Esse comando criminoso foi criado pelo exército nos anos da década de 80 para desaparecerem e assassinarem dirigentes populares.
Em Washington, uma fonte militar anunciou nesta quarta-feira que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos suspendeu suas atividades militares com Honduras, devido ao golpe de Estado contra o presidente Zelaya.
Bryan Whitman, porta-voz do Pentágono, manifestou em conferência de imprensa que a medida se manterá por tempo indefinido.
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, afirmou na segunda-feira que o golpe no país centro-americano constitui um ato ilegal e que Zelaya continua a ser o Chefe de Estado dessa nação.
Depois de uma reunião na Casa Branca, o líder democrata asseverou ao respeito que seria um grave precedente se começamos a retroceder à época dos golpes militares.
Enquanto, Hillary Clinton, secretária norte-americana de Estado, demandou a restauração da ordem democrática e constitucional em Honduras.


História

Ver artigo principal: História das Honduras
Honduras foi descoberta em 1502, por Cristóvão Colombo, em sua quarta viagem. Colombo encontrou um território marcado pela presença da civilização maia, e só após um período de guerra contra os índios (1523-1539) é que os Espanhóis conseguiram assegurar o controle da colônia, que, a partir de 1570, passou a estar sob a administração geral da Guatemala (também colônia espanhola).
Com a
independência da Espanha, em 1821, tornou-se parte do império de Augustín de Iturbide. As Honduras lideraram, a partir de 1824, a União ou República Federal das Províncias Unidas da América Central até 1838, ano em que se retiraram daquela federação, proclamando a total independência de Honduras a 5 de Novembro daquele ano. A situação de Estado independente data de quando a união se rompeu e uma ininterrupta sucessão de caudilhos dominou o país no restante do século XIX.
Em
1979, a América Central passou a viver um período de forte instabilidade provocada pelas guerras civis na Nicarágua e em El Salvador. Em 1982, uma nova constituição, apoiada pelos EUA, almejava o aumento da atividade democrática. Como condição para o apoio norte-americano, no entanto, o país forneceu a base para os "contra" da Nicarágua. O país foi incluído, em 1983, nos planos de defesa da região proposto pelos EUA, servindo de base para treinamento de soldados, mas em 1984 o governo pediu revisão do Tratado de Aliança com esse país.
Em
1985, aumentou a tensão com a Nicarágua. O novo presidente, José Azcona Hoyo (1985-1990), abraçou um movimento pacifista levado a cabo pelos países da América Central. Ameaçou interromper a actividade dos "contra", assim como diminuir o poder dos militares. Honduras, no entanto, manteve-se economicamente dependente dos EUA, e, em 1989, Rafael Leonardo Callejas foi eleito presidente com o apoio norte-americano. A crise económica, a actividade guerrilheira de esquerda e as forças de segurança ficaram fora de controle, com 40 assassinatos e mais de 4 mil violações dos direitos humanos. Em 1991, o governo concedeu uma amnistia e iniciou negociações com guerrilheiros de esquerda.
Em 28 de Junho de 2009, o Presidente Manuel Zelaya foi preso e exilado pelo Exército hondurenho. O golpe ocorreu em resposta ao desejo de Zelaya de realizar uma consulta popular para perguntar aos hondurenhos se queriam que, em simultâneo com as eleições a realizar em Novembro de 2009, se realizasse também uma votação no sentido de decidir a criação de uma Assembleia Constituinte que reformasse a Constituição. O golpe foi realizado com o pretexto de que o presidente Zelaya queria mudar a Constituição do país de forma a poder ser reeleito
[3]. Contudo, por trás do pretexto para o golpe de Estado, escondem-se divergências políticas profundas. [4]

http://pt.wikipedia.org/wiki/Honduras

Comentários sobre o GOLPE EM HONDURAS:

esse golpe militar foi feito nos mesmíssimos moldes dos demais golpes na america latina (chile, brasil...) e foi regido pela cia, treinando soldados hondurenhos inclusive.
Fonte(s):
canais de tv da america latina, e não a rede globo.
Submarin...

Eu não apóio Keké

Eu apoio o presidente DEMOCRATICAMENTE eleito de Honduras, Zelaya.A direitona apoia o golpista.Um abraço Sacripanthas - Galera Timão

Não se trata de apoiar esse ou aquele, eu apoio a democracia, e o que ele queria fazer era algo democrático, mais democrático do que foi feito aqui no brasil quando da aprovação da reeleição, mas quando fala-se em ouvir o povo muita gente fica até arrepiado. Sandao21

Não posso apoiar ou não-apoiar o presidente pois não sou cidadão daquele país. Somente os cidadãos hondureses têm esse direito, afinal de contas eles que votaram (ou não votaram) nessa pessoa e são eles quem tem que viver sobre a liderança dele. O que eu NÃO APOIO é o GOLPE DE ESTADO que ocorreu. Como muitos já disseram, ele ocorreu nos mesmos moldes dos demais golpes ocorridos nas décadas de 60 e 70 na América Central e América do Sul. Usurpar o poder da forma como foi feito não pode nem deve ser aceitável sob nenhuma circunstância. Se há ilegalidade, existem meio legais que não a força do exército para reparar o dano. Exilar o presidente foi uma atitude imbecil que acaba trazendo conflito e instabilidade para o país e suas instituições. As democracias modernas são falhas mas tem mecanismos para melhorarem e se superarem. Basta haver vontade política. Abraços. Barbeiro

Eu apóio qualquer presidente, governador ou prefeito que seja eleito democraticamente. A democracia pressupõe que a gente aceite a vontade da maioria. Se um governante propõe medidas e essas medidas são postas à sociedade e a maioria da população as apóia, qual o problema? Acredito que a sociedade tem o direito de decidir sobre o destino de seu país. Agora uma minoria tomar o poder mediante força, sem o apoio da maioria da população, como podemos chamar isso? Se querem o poder, se candidatem, manifestem suas propostas ao país e se conseguirem o apoio da população e se elegerem, que governem!Renato sp

MORTE POR ENFORCAMENTO PARA OS CABEÇAS DO GOLPE. QUE SÃO TRAIDORES E LADRÕES DO VOTO POPULAR, QUE È A BASE PARA A DEMOCRACIAE DESTERRO PARA OS SUBALTERNOS! Diamante Social

Se fosse pra derrubar governos impopulares, que não é este caso, teríamos arrastado FHC pra fora do Planalto, dado uma coça e o expulsaríamos pra Europa, onde poderia viver de mentiras a R$ 50 mil por palestra. Abraços! CARONTE

O que importa é manter o sistema democrático, sem golpes que são na maioria nocivos a sociedade.by EBAS

É o resultado de ma governacao, falta de governacao participativa com outros seguimento da sociedade originou aquilo, porque e a governacao fosse de todos os cidadãos devia ter prevenido mas.....carlos antonio M

Sol do Deserto, A todos os golpes e ditaduras devemos repudiar sempre . BStks® fogonero...

Um comentário:

O Árabe disse...

Em Honduras, como no resto do mundo: a ambição pelo poder revela o pior que existe no homem. :( Boa semana.