quarta-feira, 29 de julho de 2009

MÁXIMAS DE SABEDORIA

A poesia de Eduardo Galeano

O Direito ao Delírio


Eduardo Galeano
(tradução livre Rodrigo Espinosa Cabral)


Que tal começarmos a exercer O direito de sonhar?
Que tal se delirarmos um pouquinho?
No próximo milênio, o ar estará limpo
de todo veneno
O televisor deixará de ser
o membro mais importante da família
As pessoas trabalharão para viver,
em vez de viver para trabalhar.
Os economistas não chamarão
nível de vida o nível de consumo,
nem chamarão qualidade de vida
a quantidade de coisas.
Ninguém será considerado herói
ou tolo só porque faz aquilo que
acredita ser justo, em vez de fazer
aquilo que mais lhe convém.
A comida não será uma mercadoria,
nem a comunicação um
negócio, porque comida e comunicação
são direitos humanos.
A educação não será um privilégio
apenas de quem possa pagá-la.
A polícia não será a maldição
daqueles que não podem comprá-la.
A justiça e a liberdade, irmãs
siamesas condenadas a viverem separadas,
voltarão a juntar-se, bem unidas
ombro com ombro.
E os desertos do mundo e os desertos
da alma serão reflorestados.


Que eu me torne em todos os momentos, agora e sempre,
um protetor para os desprotegidos,
um guia para os que perderam o rumo,
um navio para os que têm o oceano a cursar,
uma ponte para os que têm rios a atravessar,
um santuário para os que estão em perigo,
uma lâmpada para os que não tem luz,
um refúgio para os que não tem abrigo,
um servidor para todos os necessitados.








A JORNADA E OS PRECONCEITOS

Afastai de vós os preconceitos.
Pois a ninguém é dado julgar os seus irmãos. E o sábio não emite opiniões sobre as coisas que desconhece.
Abençoai as diferenças entre vós, que formam o mundo tal como o conheceis; como o colorido das plantas cria a beleza do jardim.
Sobre todas elas, o Universo derrama o calor do sol e o refrigério da chuva; não há distinções entre os filhos de Sua essência. E, se assim é, nenhum direito vos assiste de julgar-vos superiores àqueles que o Infinito colocou em vossa estrada.
Juntos, formais a caravana. E ao viajante cabe o dever de estender a mão, para aquele que ao seu lado caminha; é repartindo o pão e a água, que juntos chegareis ao fim da jornada.
Pois, enquanto o pranto de um único homem correr sobre a terra, nem o riso de todos os outros será suficiente para alegrar o coração do Universo. E, como não repousa o pai diligente até que o último filho à casa retorne, não descansará o Infinito, até que reunidos estejam todos os Seus filhos.
Buscai, portanto a união. E, para que possais atingi-la, sabei que, como as terras da vossa propriedade, os vossos direitos terminam onde começam os do vizinho.
Respeitai os direitos dos outros; como respeitais as vossas fronteiras. Pois o homem que não respeita os direitos alheios, não pode esperar que sejam os seus respeitados.
E não vos limiteis a defender os vossos próprios direitos; o abuso que hoje vitima o vosso irmão, amanhã poderá bater à vossa porta. Se juntos estiverdes, com mais forças resistireis.
É no conhecimento, que encontrareis a Paz.
Porque com ele viaja a aceitação. E necessitais aceitar as pessoas como verdadeiramente são; só assim vencereis os vossos preconceitos e afastareis a inquietude, que a todos os momentos ronda o vosso verdadeiro Eu.
Juntos, caminhais. E de vós dependerá o tempo da jornada. Buscai, pois, o calor do entendimento; para que em vossos corações não mais exista o gelo da desconfiança.
E possa florir a primavera da compreensão.
Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

...na dimensão da luz...
"Eu já fui pedra
nesses caminhos do mundo
fui verdes pastos,
sombra e alimento a tantas bocas
Tempos depois
eu fui um peixe
nadando em muitas águas e
quando o sol sumiu nos montes
amanhecí um pássaro
E só então, depois de muitas eras
Eu fui um índio que conheceu a Natureza até
que hoje ressuscitado eu sou um bicho-homem.
Agora eu sigo procurando
a etapa do Universo
em que essas vidas tantas todas
vão se dar num anjo.
Um anjo de Luz... "
Letra de uma canção minha, chamada ´A Humana Idade´.

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