domingo, 3 de agosto de 2008

ABBAS, ADVOGADO DE ISRAEL

O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, rejeitou veementemente as exigências do Hamas de que apenas as autoridades palestinianas e egípcias pudessem controlar a fronteira de Rafah.
“Nós não iremos aceitar novas condições; eles (Hamas) têm de voltar ao antigo acordo fronteiriço. Nós estamos mais preocupados com os interesses do povo palestiniano do que o Hamas. Se o Hamas realmente está com ele, que o deixe cumprir este acordo.”
Bem, será que Abbas sabe realmente do que é que está a falar?
De facto, como diz o provérbio árabe, se ele sabe, é uma verdadeira calamidade,
se ele não sabe, é uma calamidade ainda maior.
Eu digo isto porque o antigo acordo que regula os movimentos na fronteira de Rafah permite a Israel, o país que está a tentar dizimar 1,5 milhões de habitantes de Gaza deixando-os à fome, ter a palavra final sobre quando é que o posto fronteiriço deve estar aberto e quando é que deve estar fechado.
Todos nos lembramos de como milhares de palestinianos, incluindo estudantes, doentes, peregrinos e outros viajantes, tiveram de esperar do lado egípcio da fronteira durante semanas e meses, porque um oficial israelense do lado israelense da fronteira decidiu manter estas vítimas indefesas reféns dos seus caprichos e instintos canibais.De facto, este estranho sadismo, que o Sr. Abbas está caninamente agora a defender, foi responsável pela morte de dúzias de palestinianos que foram deixados no deserto, como se fossem animais, não seres humanos.
Vejam os importantes relatos que descrevem o infortúnio dos desamparados habitantes de Gaza e vão perceber do que estou a falar.
Como é que Israel conseguiu manter a fronteira fechada durante a maioria dos dias do ano?
Bem, foi muito simples.
De acordo com o “maravilhoso” acordo que Abbas está agora a exigir que o Hamas aceite incondicionalmente, o posto fronteiriço de Rafah não pode estar a funcionar sem a presença de monitores da União Europeia.
Mas os próprios monitores, que vêm de vários países da UE e alguns deles podem até estar a trabalhar para os serviços secretos israelenses, estão instalados no pequeno kibbutz israelense de Kerem Shalom, a alguns quilómetros do posto fronteiriço.
E de acordo com o infame acordo, eles não têm livre acesso ao posto a não ser que recebam previamente uma autorização diária por parte do exército de Israel.
Por seu lado, o exército israelense, agindo sob instruções do governo, simplesmente declarava, por rotina, a única estrada de Kerem Shalom para o posto fronteiriço de Rafah, como zona militar fechada, de forma a manter encerrada a fronteira.
Claro, o exército invocava “razões de segurança” para justificar o encerramento quase perpétuo, mas toda a gente, incluindo os próprios israelenses, sabe muito bem que as genuínas preocupações de segurança têm muito pouco a ver com as medidas tomadas por Israel, e o verdadeiro motivo é punir e atormentar os palestinianos.
Como mencionado, este flagrante abuso da autoridade não aconteceu num ou dois dias, ou mesmo em dez dias por mês. Esta era a norma, o modus operandi, e a fronteira esteve fechada 26 ou até 29 dias por mês, causando enorme sofrimento aos palestinianos.
Foi um processo deliberado e calculado com a intenção de atormentar, agredir, brutalizar e humilhar as pessoas de Gaza, e foi tudo feito com o carimbo de um “acordo internacional”.
Os líderes e estados membros da UE sabiam bem o que se passava em Kerem Shalom.
Mas eles foram tão desonestos moralmente e tão subservientes a Israel e aos Estados Unidos, que não mostrarem nenhuma objecção significativa à perseguição sistemática de Israel a uma população indefesa, cujos homens, mulheres e crianças se agarram à vida como fizeram muitos dos presos judeus no Gueto de Varsóvia há cerca de 67 anos atrás.
Por isso, eu gostaria de perguntar a Abbas e aos seus aliados e penduras que tanto falam e fazem barulho, dizendo servir os vitais interesses do povo palestiniano:
Como é que vocês pensam que permitir que Israel controle novamente a fronteira de Rafah vá servir os interesses do povo palestiniano?
Estão bêbados?
São estúpidos?
São cegos?
São ignorantes?
Aliás, em primeiro lugar, porque é que consideram que Israel deve estar envolvido no controlo da fronteira de Rafah?
Não é uma fronteira entre o Egipto e a Palestina?
Israel não declarou que terminou a sua ocupação da Faixa de Gaza?
O regime sionista não tem vindo a dizer ad nauseam que já não é responsável por Gaza?
Se assim é, porque é que insistem que seja o capataz dos escravos a ter a decisão final, o patrão máximo?
Isto é doentio, para não dizer mais, e mostra o tipo de subserviência umbilical da vossa parte em relação aos nefandos ocupantes.
Eu percebo que haja problemas entra a Fatah e o Hamas.
No entanto, trair o povo palestiniano e minar os seus interesses vitais com o objectivo de enfraquecer o Hamas e satisfazer Israel e bajular Washington, roça a traição, pura e simples.
O que mais se pode dizer sobre a colagem a um acordo inconcebível que permite que os diabólicos ocupantes nos aprisionem, atormentem e humilhem com impunidade… porque é o que o “acordo” diz.
Bem, o acordo pode ir para o inferno, mais os que os assinaram.
Resumindo, o Hamas tem razão a cem por cento.
A fronteira de Rafah tem de ser gerida em conjunto pelas autoridades palestinianas e egípcias.
E o regime de Ramallah pode, se quiser, fazer parte da gestão do posto fronteiriço, dentro de um processo geral de reconciliação entre Gaza e Ramallah.
No entanto, enquadrar Israel nesta situação é inaceitável.
A população de Gaza já sofreu mais do que suficiente nas mãos de Israel.
Não se pode permitir que para além de assassino e atormentador possa também ser aprisionador.
Será que Abbas vai perceber isto?
Duvido.

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