Na madrugada do dia 19 de março de 2003,
A invasão de 2003 culminou em mais uma sangrenta guerra entre as que já houveram por milênios nesse curioso país do Oriente Médio, com mais de 5.000 anos de história, considerado o berço da civilização.
O Iraque corresponde a Antiga Mesopotâmia (região entre rios), uma zona de aluvião, localizada numa faixa de terra fértil às margens dos rios Tigre e Eufrates e zonas subjacentes, em meio a uma região árida e desolada.
As primeiras civilizações mesopotâmicas surgem com os sumérios, por volta do V milênio antes de Cristo, no sul da Mesopotâmia, em torno do Chat El Arab e no curso inferior do Rio Eufrates, onde hoje se localizam cidades como Basra, Abu Sahrain e Nassiriyah.
Graças ao desenvolvimento da agricultura, que possibilitou a essa população abandonar a vida nômade de coleta de alimentos e da caça para se fixarem em aldeias, fundaram então os primeiros nucleos urbanizados que a humanidade tem conhecimento, como Ur, Uruk e Lagash.
Desenvolveram um complexo sistema de irrigação e controle das cheias dos rios, garantindo assim o armazenamento de água para as estações mais secas.
Praticavam a metalurgia, eram desportistas e astrônomos1.
Possuiam uma medicina avançada, e eram peritos em astrologia.
Criaram a primeira forma de escrita, conhecida como escrita cuneiforme, o que possibilitou o registro de transações comerciais, documentos estatais e algumas obras literárias, como a Epopéia de Gilgamés, onde temos o primeiro relato do Dilúvio.
Além dos sumérios, vários povos habitaram a região: babilônicos, assírios, caldeus, amoritas e acádios.
Por ser uma zona fértil, situada no meio do caminho entre África e Ásia, a Mesopotâmia foi rota de vários povos nômades e expedições de conquista, sendo ocupada também por elamitas, persas, gregos e romanos.
Posteriormente, os árabes islamizaram a região, que, a partir de então, passa a ser o maior centro intelectual e cultural do Planeta, originando assim a sociedade mais avançada a ocupar a região até o momento.
Era o centro difusor do Islã universal.
Com seu enfraquecimento politico-militar, a Mesopotâmia é invadida e destruida pelos mongóis.
Seguem-se sucessivas invasões, até que a região cai em poder dos turcos, e passa a ser provincia do Império Turco-Otomano.
O Iraque moderno surge por volta de 1920, com o desmembramento do Império Turco-Otomano, passando então a ser zona de influência britânica, o que gerou fortes sentimentos nacionalistas e de independência.
Até que em 14 de julho de 1958, sob o comando do general comunista Abdul Karim Kassim, o exército iraquiano põe fim a essa dependência, derrubando a monarquia pró-ocidente do Rei Faiçal II, e proclamando a República do Iraque.
Divergências políticas estimularam o partido Ba’ath a preparar um golpe para derrubar o presidente Kassim, contando com auxílio dos serviços secretos norte-americanos.
Em 8 de fevereiro de 1963, o plano do golpe militar é deflagrado.
Centenas e centenas de militantes esquerdistas, e pessoas supostamente ligadas a eles, foram capturadas e executadas.
O presidente Abdul Karim Kassim é capturado e executado no dia seguinte pelos militares, comandos por Ahmad Hassan Al Bakir.
Saddam Hussein vai escalando posições, até que ascende a Presidência do Iraque.
Motivos de ordem política e econômica levaram Saddam Hussein a preparar-se para uma guerra contra o vizinho Irã.
Recebe então ajuda financeira das monarquias árabes do Golfo, assim como suporte de material bélico de paises ocidentais, a exemplo do USA.
Em 22 de setembro de 1980, aviões de combate do Iraque bombardeiam várias regiões do Irã, enquanto divisões terrestres cruzavam a fronteira.
Era o início duma sangrenta guerra que, durante mais de 8 anos, provocou a morte e mutilação de cerca de 2 milhões de pessoas, entre combatentes e civis, incluindo perdas materiais incríveis, e a devastação da biodiversidade das regiões de conflito.
O Iraque termina a guerra endividado.
Então, Saddam Hussein voltou seus olhares para seu vizinho rico em petróleo, o Kuwait, um dos credores, e decide invadi-lo e anexá-lo.
A invasão iraquiana gerou forte repúdio por parte da ONU e, por motivos de ordem econômica, também não era bem vista aos olhos dos norte-americanos.
Com apoio da ONU, os Estados Unidos reuniram uma força militar abrangendo mais de 30 paises.
Em 16 de janeiro de 1991, ante a negativa do Iraque em deixar o Kuwait, a força aérea norte-americana desfecha um ataque demolidor contra Bagdá, dando início a mais de um mês de ataques sistemáticos, que destruiram a infra-estrutura do Iraque e custaram a vida de milhares de civis.
A guerra deixou profundas cicatrizes no povo iraquiano2 e, não obstante o término oficial da guerra, o país continuou sendo bombardeado sistematicamente por EUA e Grã-bretanha durante a década de 90.
Em 2003, Estados Unidos acusam o Iraque de possuir armas de destruição massiva.
Equipes de inspeção da ONU são acionadas no Iraque, mas nenhuma prova é encontrada.
No entanto, ianques e britânicos (juntamente com outros governos aliados) decidem atacar o Iraque sem o aval da ONU, em aberto desrespeito aos orgãos internacionais.
Em 19 de Março de 2003, uma série de ataques aéreos com mísseis e bombas abre caminho para a invasão terrestre contra o Iraque.
As forças iraquianas não tinham capacidade de resistir, o que possibilitou aos invasores avançarem bastante em territorio iraquiano, quase sem resistência.
Mas, os ianques não imaginavam a qualidade nem a magnitude da resistência que deveriam enfrentar após a rápida ocupação.
Durante a decada de 90, prevendo uma futura invasão, as forças iraquianas treinaram longamente táticas de guerrilha urbana, o que lhes permitiria o engajamento no combate em condições mais equilibradas, compensando assim a tremenda desproporcionalidade de força.
Nesse cenário de guerra, os mísseis, aviões de combate e blindados ianques, se mostraram inúteis.
Até agora, a resistência tem se mostrado demolidora, e tudo indica que a desocupação do Iraque é apenas questão de tempo, pois o preço que os EUA e seus aliados estão pagando com a guerra é muito maior que os objetivos que o levaram a ela.
A tática de bombarder cidades, torturar inocentes e detonar carros-bomba contra Mesquitas xiitas3 parece não ter dado certo, e o governo norte-americano se vê num atoleiro, de onde dificilmente suas tropas sairão com dignidade, como exemplifica Albayaty Abdul Ilah:
— Se alguém pretende controlar Bagdá pela força, nós dizemos que isso é impossível.
Perguntem a todos os partidos, todos os poderosos e todos os regimes que tentaram controlar Bagdá pela força, desde que foi construída por Abu Jaafar Al Mansur até hoje.
O destino de todos eles foi serem rejeitados.
E acrescento: quem não compreender nem assimilar a cultura do povo de Bagdá, herdeiro de todas as sucessivas civilizações do Iraque, deveria, juntamente com os seus chefes, voltar para de onde veio.
A cada criança e mulher morta, a cada civil inocente aniquiliado, parecem surigir mais combatentes dispostos a expulsar, pela fibra e determinação, o invasor.
Os iraquianos têm algo que os agressores ianques não têm: os corações e mentes de seu povo, que rejeita qualquer aberração ideologica ocidental que se tenta introduzir no Iraque (vício do consumismo, tráfico de drogas e todo tipo de imoralidade difundida pelos meios de comunicação e outros segmentos, que acabam por gerar desestruturação familiar e da sociedade como um todo).
E por todo esse tempo, nenhum povo conseguiu dominar inteiramente a Mesopotâmia. E hoje não é diferente. Albayaty Abdul Ilah acrescenta:
— Perguntem aos estadunidenses se conseguem controlar Bagdá pela força.
1. Os mesopotâmicos sabiam diferenciar as estrelas dos planetas, previam eclipses e conheciam todos os planetas hoje catalogados.
Dividiram o ano em meses, os meses em semanas, as semanas em sete dias, os dias em 24 horas, as horas em sessenta minutos e os minutos em sessenta segundos.
A astronomia mesopotâmica, juntamente com a egípcia, serviu de base à astronomia dos gregos e muçulmanos, culminando na astronomia moderna desenvolvida na europa.
2. Grande parte dos armamentos usados pelos EUA no Iraque continham urânio empobrecido, um material radioativo que têm provocado a morte e enfermidade de milhares de iraquianos desde a Primeira Guerra do Golfo.
A isso, soma-se o fato de que o conselho de Segurança das Nações Unidas impôs um embargo econômico ao Iraque, que impedia a importação de itens de necessidade humanitária ( material médico, generos alimenticios, e etc.)
3. Há fortes indícios de que agentes ianques e grupos ligados a eles, estejam provocando esses ataques com o objetivo de dividir a população iraquiana, tendo inclusive, detenções de invasores que pretendiam jogar carros-bomba cheios de explosivos contra localidades xiitas.
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