sábado, 7 de março de 2009

SOFRIMENTO INIMAGINÁVEL EM GAZA

VI UM SOFRIMENTO INIMAGINÁVEL EM GAZA

Na rubrica do Diário de Notícias, “Alegações finais”, de 3.03.2009, a jornalista Valentina Marcelino, entrevistou Francisco Corte-Real (1), especialista internacional em danos corporais, sobre a sua deslocação à Faixa de Gaza integrado numa equipa de peritos mundiais para averiguar da existência de alegados crimes contra a humanidade cometidos pelas forças israelitas, aqui se transcreve o seu testemunho.

Qual era o objectivo da deslocação a Gaza da equipa de peritos mundiais que integrou?
Averiguar, a pedido da Liga Árabe, se fo­ram cometidos crimes de guerra e crimes contra a humanidade pelo exército israe­lita, durante os ataques que ocorreram entre 27 de Dezembro e 19 de Fevereiro.
Como foi constituída a equipa?
A Liga Árabe quis uma equipa o mais alargada possível. O "Independent Fact Finding Comittee" é constituído por seis elementos: eu próprio, como perito em danos corporais, um professor de Direi­to sul-africano, um juiz norueguês, um professor, jubilado, de Direito Interna­cional, holandês, e um advogado espa­nhol, especialista em Direitos Humanos.
Que suspeitas levavam?
Não nos deslocámos a Gaza com qual­quer tipo de suspeita formada. Fomos de peito aberto, dispostos a ouvir todas as partes do conflito e a observar as condições no terreno.
O que viu em Gaza?
Uma destruição muito maior do que alguma vez pensara encontrar. Escolas, hospitais, casas destruídas. Ambulân­cias queimadas. Muitas crianças feridas. Também mulhe­res. Vim muito chocado com o sofrimento dos civis. Um sofrimento de uma dimensão inimaginável. Realizei 10 exames periciais a crianças e mulheres, os quais podem ser utilizados no relatório que vamos en­tregar à Liga Árabe.
E qual foi a sua conclusão?
O relatório está a ser feito e será entre­gue até final do próximo mês de Abril.
Houve desproporcionalidade nos ata­ques de Israel?
O impacto dos ataques aéreos, maríti­mos e terrestres de Israel contra aquela população é de uma dimensão incompa­ravelmente maior do que o impacto dos rockets lançados contra Israel.
O cessar-fogo não facilitou a vida no território?
O bloqueio imposto por Israel ainda se mantém e impede a chegada de bens es­senciais. Tem proporções absolutamen­te desumanas. Vivem ali cerca de um mi­lhão e 500 mil pessoas, como se estives­sem presas, numa extensão de terreno que não tem mais de 40 quilómetros de comprimento, por 45 de largura.
Israel garante que o Hamas utiliza ci­vis e estruturas civis como escudo…
Não me quero pronunciar sobre isso.
Contactaram também Israel?
Enviámos duas cartas ao Governo de Israel a manifestar a nossa disponibilidade para ouvirmos a sua versão e es­clarecer-nos sobre algumas questões. Aguardamos ain­da a resposta.

(1) O Prof. Doutor Francisco Manuel Andrade Corte Real Gonçalves, é especialista em Medicina Legal, Prof. Associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e Vogal do Conselho Directivo do Instituto Nacional de Medicina Legal.

Nenhum comentário: