domingo, 1 de junho de 2008

NÃO A GUERRA DE BU$H

Artistas de São Paulo fazem ato em repúdio à agressão

O Teatro Maria Della Costa, em São Paulo, foi o palco para atores, dramaturgos, poetas, cantores, compositores e jornalistas dizerem seu contundente
“não à guerra de Bush”.
“Este é um ato de solidariedade a todas as vítimas que, neste momento, perdem casa, familiares e a própria vida. Como artistas que somos, não nos resta o silêncio, mas o grito: a nossa arte”,

Um ato de indignação e emoção contra a guerra genocida dos EUA contra o Iraque marcou o posicionamento de artistas e jornalistas no último dia 8, em São Paulo.

Os artistas, que ao longo dos últimos sessenta dias, desde que começaram as ameaças de guerra, já vinham se manifestando contra o ataque através de participações em atos públicos e assinaturas de manifestos, a exemplo de artistas de todo o mundo, resolveram se reunir no Teatro Maria Della Costa para colocar sua arte a serviço da denúncia do massacre perpetrado por Bush ao povo iraquiano, com a leitura de textos e poemas produzidos por dramaturgos e jornalistas especialmente para o evento.
“Não somos reféns da insanidade daqueles que se reconhecem Deuses. Somos vítimas da mesma fraude. Este é um ato de solidariedade a todas as vítimas que, neste momento, perdem casa, familiares e a própria vida. Como artistas que somos, não nos resta o silêncio, mas o grito: a nossa arte”, iniciou o ato a atriz Suia, lendo um texto do dramaturgo Jair Alves.

Com leituras feitas por atores e atrizes como Ester Góes, Renato Borghi, Ana Lucia Torre, Nina Mancin, e as especialíssimas participações do grupo União e Olho-Vivo e do cantor e compositor Eduardo Gudin, entre outros, é difícil dizer qual foi o momento mais emocionante do evento.
Mas alguns se destacaram pela densidade com que conseguiram tratar de uma realidade tão difícil de expressar em palavras, como a leitura feita pela atriz Ana Lucia Torre do texto reportagem do jornalista Audálio Dantas, “Museu de Horror”, sobre uma guia turística iraquiana, que publicamos ao lado, na íntegra, ou a cortante ironia contida no texto de Izaías Almada, “E Agora, George?”, apresentado pelo ator Renato Borghi. (...)
“Um grupo de senhores do meio-oeste, ainda com as mãos sujas de graxa e petróleo, resolveu manchá-las também com sangue. Com o sangue inocente de homens, mulheres e crianças, cujo único crime foi o de terem nascido sobre uma inesgotável fonte de energia e riqueza. (...)
E agora, infeliz George?
É essa a liberdade que você tem para nos oferecer?
A paz e a tranquilidade dos cemitérios”, diz o texto.

A apresentação do grupo Teatro União e Olho-Vivo intercalou músicas do seu mais recente espetáculo, “João Cândido do Brasil”, sobre o líder da Revolta da Chibata, João Cândido, com pronunciamentos contundentes do seu diretor César Vieira: “esta canção é dedicada ao povo iraquiano e a todos os povos árabes em todo o mundo, e a todos no mundo que lutam contra a guerra, pela paz e pela justiça”, afirmou ao iniciar a apresentação do grupo.
Um momento de silêncio e emoção aconteceu quando César Vieira anunciou que tinha informações de que até aquele momento, cerca de quatro mil crianças iraquianos já haviam morrido com os ataques e bombardeios americanos.
A seguir, o grupo entoou as música “Silêncio no Bixiga”, de Geraldo Filme.

As músicas, entre sambas-canções de Eduardo Gudin, o rap dramatizado pelos atores Ismael de Araújo, Karine Margarna e Lucas César, e os rocks de Walter Franco, também calaram nos corações e mentes do público que lotou o auditório do teatro.
“Canalhas”, dizia o refrão de Walter Franco.
“O interior todo se revolta/ e faz nossa força se agigantar”, cantou Gudin.
A participação do grupo de atores que interpretou o rap de autoria do dramaturgo Jair Alves tinha a energia punjante da juventude:
“Mas, qual é o verso que se opõe à guerra?/
Qual é o grito que me dá tesão?/
Qual é o grito que me dá tesão?//
Locutor falando de tanques?/
Dos mísseis e do seu clarão?/
Ou das mortes que com ele rola?/
Dos meninos que não têm o pão!/
Carnificina, como se fosse gols!!!/
Destruir como se fosse samba.//
Requebrar de dor como se fosse bom./
Mas, qual é a fita que se opõe à guerra?

O ato organizado pelo Instituto de Comunicação Jorge Batista e pelo Fórum de Discussão de Política Cultural da APETESP (Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo), também homenageou os jornalistas Jorge Batista, Perseu Abramo e Vladimir Herzog, e os artistas Plínio Marcus e João do Vale, que tiveram textos e canções de suas autorias interpretados.
“Esse é o momento do começo e do fim/ Nesse cenário da Terra arrasada, nunca se pediu tanto/ o contar, em prosa e versos, a história de homens que se opuseram ao extermínio”, disse a jornalista e apresentadora Flávia Lippi, ao homenageá-los.

E, para todos, ao final, ficaram os ecos da canção “Carcará ”, de João do Vale, interpretada pela atriz e cantora Ana Lucia, e as significativas palavras de Jair Alves:
“A guerra se materializa na contabilidade dos mortos e mutilados, nas doenças e nos escombros. A paz, não. É invisível. A paz será a consequência dessa luta”.
11/04/2003

ANA BRAIA

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