O tema das novas bases aeronavais norteamericanas na Colômbia
Será abordado na reunião da Unasul e no Conselho Sulamericano de Defesa no ximo dia 10 de agosto, em Quito, coincidindo com a posse presidencial de Rafael Correa para o seu segundo mandato, na data do bicentenário do primeiro grito de independência de Quito (10 de agosto de 1809).
URL:: http://anncol-brasil.blogspot.com/
FIDEL CASTRO
Leio e releio dados e artigos elaborados por personalidades inteligentes, conhecidas ou pouco conhecidas, que escrevem em diversos meios e tomam a informação de fontes não questionadas por ninguém.
Os povos que habitam o planeta, em todos os lugares, correm riscos econômicos, ambientais e bélicos, derivados da política dos Estados Unidos, mas em nenhuma outra região da terra são ameaçados por tão graves problemas como seus vizinhos, os povos que moram neste continente ao Sul desse país hegemônico.
A presença de tão poderoso império, que em todos os continentes e oceanos dispõe de bases militares, porta-aviões e submarinos nucleares, navios de guerra modernos e aviões de combate sofisticados, portadores de todo tipo de armas, centenas de milhares de soldados, cujo governo reclama para eles impunidade absoluta, constitui a mais importante dor de cabeça de qualquer governo, seja de esquerda, centro ou direita, aliado ou não dos Estados Unidos.
O problema, para os que somos vizinhos dele, não é que ali se fale outro idioma e seja uma nação diferente. Há norte-americanos de todas as cores e todas as origens. São pessoas iguais a nós e capazes de qualquer sentimento num sentido ou outro. O dramático é o sistema que ali se desenvolveu e impôs a todos. Tal sistema não é novo quanto ao uso da força e os métodos de domínio que têm prevalecido ao longo da história. O novo é a época que vivemos. Abordar a questão destes pontos de vista tradicionais é um erro e não ajuda ninguém. Ler e conhecer o que pensam os defensores do sistema ilustra muito, porque significa estarmos conscientes da natureza de um sistema que se apóia no apelo constante ao egoísmo e aos instintos mais primários das pessoas.
Se não existisse a convicção do valor da consciência, e sua capacidade de prevalecer sobre os instintos, não se poderia expressar sequer a esperança de mudança em qualquer período da brevíssima história do homem. Tampouco poderia se compreender os terríveis obstáculos que se levantam para os diferentes líderes políticos nas nações latino-americanas ou ibero-americanas do hemisfério. Em última instância, os povos que viviam nesta área do planeta desde há dezenas de milhares de anos, até a famosa descoberta da América, não tinham nada de latinos, de ibéricos ou de europeus; seus traços eram mais parecidos aos asiáticos, donde procederam seus antepassados. Hoje os vemos nos rostos dos índios do México, América Central, Venezuela, Colômbia, Equador, Brasil, Peru, Bolívia, Paraguai e Chile, um país onde os araucanos escreveram páginas inesquecíveis. Em determinadas zonas do Canadá e no Alaska conservam suas raízes indígenas com toda a pureza possível. Mas no território principal dos Estados Unidos, grande parte dos antigos habitantes foi exterminada pelos conquistadores brancos.
Como todo mundo sabe, milhões de africanos foram arrancados de suas terras para trabalhar como escravos neste hemisfério. Em algumas nações como Haiti e grande parte das ilhas do Caribe, seus descendentes constituem a maioria da população. Em outros países formam amplos setores. Nos Estados Unidos os descendentes de africanos constituem dezenas de milhões de cidadãos que, como norma, são os mais pobres e discriminados.
Ao longo de séculos essa nação reclamou direitos privilegiados sobre nosso continente. Nos anos de Martí tentou impor uma moeda única baseada no ouro, um metal cujo valor tem sido o mais constante ao longo da história. O comércio internacional, em geral, se baseava nele. Hoje nem sequer isso. Desde os anos de Nixon, o comércio mundial se fez com o bilhete de papel impresso pelos Estados Unidos: o dólar, uma divisa que hoje vale cerca de 27 vezes menos que no início da década de 70, é uma das tantas formas de dominar e calotear o resto do mundo. Hoje, porém, outras divisas estão substituindo o dólar no comércio internacional e nas reservas de moedas conversíveis.
Se por um lado as divisas do império se desvalorizam, por outro suas reservas de forças militares crescem. A ciência e a tecnologia mais moderna, monopolizadas pela superpotência, têm sido derivadas em grau considerável para o desenvolvimento das armas. Atualmente não se fala só de milhares de projéteis nucleares, ou do poder destrutivo moderno das armas convencionais; se fala de aviões sem pilotos, tripulados por autômatos. Não se trata de simples fantasia. Já estão sendo usadas algumas naves aéreas desse tipo no Afeganistão e outros pontos. Informes recentes assinalam que num futuro relativamente próximo, em 2020, muito antes que a calota da Antártida se derreta, o império, entre seus 2.500 aviões de guerra, projeta dispor de 1.100 aviões de combate F-35 e F-22, em suas versões de caça e bombardeiros da quinta geração. Para se ter uma idéia desse potencial, baste dizer que os que dispõem na base de Soto Cano, em Honduras, para o treinamento de pilotos desse país, são F-5; os que forneceram às forças aéreas da Venezuela antes de Chávez, ao Chile e outros países, eram pequenas esquadrilhas de F-16.
Mais importante ainda, o império projeta que no transcurso de 30 anos todos os aviões de combate dos Estados Unidos, desde os caças até os bombardeiros pesados e os aviões cisterna, serão tripulados por robôs.
Esse poderio militar não é uma necessidade do mundo, é uma necessidade do sistema econômico que o império impõe ao mundo.
Qualquer um pode compreender que se os autômatos podem substituir os pilotos de combate, também podem substituir os operários em muitas fábricas. Os acordos de livre comércio que o império trata de impor aos países deste hemisfério implicam em que seus trabalhadores terão que concorrer com a tecnologia avançada e os robôs da indústria ianque.
Os robôs não fazem greves, são obedientes e disciplinados. Vimos pela televisão máquinas que recolhem as maçãs e outras frutas. A pergunta cabe ser feita também aos trabalhadores norte-americanos. Onde estarão os postos de trabalho? Qual é o futuro que o capitalismo sem fronteiras, em sua fase avançada do desenvolvimento, atribui aos cidadãos?
Havana, 5/8/2009
Continua na próxima edição.http://www.horadopovo.com.br/
O anúncio foi feito durante conferência montada pelo Comando Sul dos EUA e pela Colômbia com o pretexto de explicar o acordo repudiado por todo o continente
O comandante das Forças Armadas colombianas e o ministro da Defesa interino, general Freddy Padilla, revelou, na terça-feira, que serão sete as bases militares a serem ocupadas por militares norte-americanos no país, no acordo entre Washington e Bogotá.
O anúncio foi realizado durante a denominada Conferência de Segurança da América do Sul, organizada pelo Comando Sul dos Estados Unidos, sediada na cidade de Cartagena, na Colômbia, com a participação de generais e oficiais da Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai. O Brasil foi convidado, mas, segundo o Ministério da Defesa, o almirante-de-esquadra João Afonso Prado Maia de Faria, chefe do Estado-Maior da Defesa, “não compareceu por motivos de agenda”.
Além da informação que o general Padilla deixou escapar – de que os EUA terão à disposição sete e não apenas cinco bases – o evento, que foi montado com o pretexto de explicar o alcance da interferência militar norte-americana na região, serviu mais para encobrir do que esclarecer o que há de obscuro nesse acordo.
O general Fraser, que representou o Comando Sul, quando indagado a respeito do tipo de equipamento militar a ser usado na Colômbia, desconversou: “Não tenho detalhes específicos sobre o tipo de material” a ser deslocado para as bases.
Padilla assinalou que duas bases do Exército e duas da Marinha se somam às três da Força Aérea. Em duas delas, as operações de militares norte-americanos já eram conhecidas.
O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, insistiu que os Estados Unidos e Colômbia devem explicar melhor a instalação das bases militares, pois isso implica a ampliação da presença de tropas estrangeiras na região, “cujo objetivo parece ir muito além do que possa ser a necessidade interna da Colômbia”.
A questão das novas bases estadunidenses na Colômbia preocupa a todo o continente, e será tratada na reunião da União de Nações Sul-americanas (Unasul) e do Conselho Sul-americano de Defesa, em 10 de agosto em Quito, Equador, coincidindo com a posse de Rafael Correa em sua segunda presidência. Confirmaram a presença todos os presidentes, mas Álvaro Uribe anunciou que não participará, nem o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, criando uma situação de fato consumado e fuga do debate sobre esse tema.
Nas atuais bases militares de Três Esquinas e de Larandia, no departamento (equivalente a nosso estado) de Caquetá, e de Villavicencio, no departamento do Meta, já operam aviões e dispositivos de inteligência do Pentágono, além da presença de tropas. É publicamente conhecida a atuação de 800 efetivos norte-americanos no país, além de 600 “contratados” por “empresas de segurança”, ou seja mercenários. Pelo Tratado acertado, embora não tenham sido divulgados dados concretos, se considera que aumentará esse número. E para piorar a ameaça, os soldados norte-americanos desfrutarão de imunidade, já que Uribe concedeu ao Pentágono que a justiça colombiana fique impedida de investigar e julgar os delitos que os militares estrangeiros cometam no território nacional; também, segundo esses acertos, a Corte Penal Internacional não poderá julgá-los quando cometam crimes de guerra. O Pólo Democrático Alternativo, frente que unifica a oposição na Colômbia, denunciou essa postura servil do governo.
Das novas bases, a de Palanquero, no departamento de Cundinamarca, na região central do país, é a maior e pode atingir outras regiões do continente. Possui uma pista de 3 mil metros, hangares para uma centena de aviões e instalações para 2 mil homens. De lá um avião C-17 poderá percorrer quase a metade do continente sem necessidade de se reabastecer, e “usando o combustível apropriado até sua totalidade com exceção do Cabo de Hornos, no extremo sul”, afirmou Niko Schvarz, membro da Comissão de Assuntos e Relações Internacionais da Frente Ampla do Uruguai.
A de Apiay – que está localizada a apenas 400 km da fronteira do Brasil – fica um pouco mais ao sul e a de Malambo, no departamento Atlântico, ficam próximas a Venezuela, do estado de Zulia, cujo governo está em mãos da oposição a Hugo Chávez. A base naval de Baía de Málaga, sobre o Pacífico, está próxima ao Equador, e a de Cartagena, no departamento desse nome, sobre o Caribe. Os Estados Unidos podem ter assim a movimentação de seus navios militares no Atlântico, no Pacífico e no Caribe.
SUSANA SANTOS
“Bases dos EUA parecem resquício da guerra fria”
O assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, expressou ao governo norte-americano a oposição do Brasil à presença de tropas dos Estados Unidos na Colômbia, durante encontro na terça-feira (4) com assessor de segurança nacional da Casa Branca, general Jim Jones. “Nossa percepção é de que as bases estrangeiras à região aparecem um pouco como um resquício da Guerra Fria”, ressaltou.
“Não acho que a soberania seja ameaçada, mas não acho que perto da fronteira com a Amazônia, que muitas vezes é objeto da cobiça internacional, seja positivo o estabelecimento de bases cujo alcance e alvos ainda não estão muito claros”, afirmou Marco Aurélio Garcia.
O assessor do presidente Lula disse que o Brasil não pretende transformar o assunto das bases “em um foco de tensão com os Estados Unidos”, mas avaliou que a região espera que haja um novo diálogo com o governo norte-americano a partir da chegada do presidente Barack Obama à Casa Branca. “A conexão dos Estados Unidos com alguns países da América do Sul é muito tênue”, lembrou.
“O fato de que essas bases existam aqui na região não nos parece um fator que contribua para a distensão”, ressaltou Garcia, que acabou de retornar da Venezuela, onde manteve encontros com o presidente Hugo Chávez e o ministro das Relações Exteriores. “A nosso juízo está na hora de uma ação mais diplomática e talvez evitar, um pouco, uma guerra midiática”, completou.
Ele relatou que o assessor da Casa Branca “circunscreveu as bases a ações humanitárias e de combate ao narcotráfico”, mas a região está receosa quanto à interferência de militares norte-americanos. “Dissemos o seguinte: não desperdicem essa opinião favorável que existe no continente vis a vis o governo Obama”, contou. “A nosso juízo está na hora de uma ação mais diplomática e talvez evitar, um pouco, uma guerra midiática”, ressaltou Garcia.
400 km da Amazônia
O acordo entre EUA e a Colômbia prevê a instalação de três novas bases, em Malambo, Palanquero e Apiay, esta a apenas 400 km da Amazônia, segundo o documento, apresentado em abril, pela Força Aéria dos EUA num seminário militar. Operações a partir da base de Palanquero com o avião militar C-17 podem cobrir metade do continente sem necessidade de reabastecimento. Há avaliações de que qualquer ponto da América Latina poderá ser atingido pelos aviões lotados nesta base.
EUA ocupam bases militares na Colômbia
O império das bases militares
HUGH GUSTERSON*
Antes de ler este artigo, tente responder: quantas bases os Estados Unidos têm em outros países?
a) 100; b) 300; c) 700; ou d) 1.000.
De acordo com a própria lista do Pentágono, a resposta é 865, mas, se incluirmos as novas bases no Iraque e no Afeganistão, são mais de mil.
Essas mil bases constituem 95% de todas as bases militares que todos os países do mundo mantêm em território de outro país. Em outras palavras, os Estados Unidos estão para as bases militares assim como a Heinz está para o ketchup.
Antigamente, o colonialismo praticado pelos europeus consistia em conquistar países inteiros e administrá-los. Mas isso era deselegante. Os Estados Unidos foram os pioneiros numa abordagem mais requintada para um império global. Conforme diz o historiador Chalmers Johnson, “a versão americana da colônia é a base militar”. Os Estados Unidos, diz Johnson, têm um “império de bases”.
“Este ‘império de bases’ dá aos Estados Unidos um alcance global, mas o modelo deste império, na medida em que cercam a Europa, é uma relíquia alargada e anacrônica da Guerra-fria”.
Essas bases não saem baratas. Excluindo as bases americanas no Afeganistão e no Iraque, os Estados Unidos gastam cerca de 102 bilhões de dólares por ano para manter as suas bases de além-mar, segundo Miriam Pemberton, do Instituto de Estudos Políticos. E em muitos casos é preciso perguntar qual é a sua finalidade. Por exemplo, os Estados Unidos têm 227 bases na Alemanha. Talvez isso fizesse sentido durante a Guerra-fria, quando a Alemanha estava dividida ao meio pela cortina de ferro e os políticos americanos tentavam convencer os soviéticos de que o povo americano veria em um ataque à Europa um ataque a si próprio. Mas numa nova era em que a Alemanha foi reunificada e os Estados Unidos se preocupam com pontos de conflito incendiários na Ásia, na África e no Oriente Médio, faz tanto sentido que o Pentágono mantenha 227 bases militares na Alemanha como os correios manterem uma frota de cavalos e diligências.
Afogada no vermelho, a Casa Branca precisa desesperadamente cortar despesas desnecessárias no orçamento federal, e Barney Frank, deputado democrata de Massachusetts, propôs que o orçamento do Pentágono fosse reduzido em 25%. Quer se ache ou não o número de Frank politicamente realista, as bases militares são certamente um alvo lucrativo para o machado do corte orçamental. Em 2004, Donald Rumsfeld calculou que os Estados Unidos podiam poupar 12 bilhões de dólares se fechassem umas 200 bases no estrangeiro. Isso também teria um custo político relativamente baixo, visto que os locais que se podem ter tornado economicamente dependentes das bases são estrangeiros e não podem retaliar em eleições americanas.
Mas essas bases estrangeiras parecem invisíveis quando os cortadores do orçamento olham de esguelha para o orçamento proposto pelo Pentágono, de 664 bilhões de dólares. Reparem no editorial de 1º de março do The New York Times, “O Pentágono enfrenta o mundo real”. Os editorialistas do Times pediram “coragem política” à Casa Branca para cortar no orçamento da defesa. Sugestões? Cortar o caça F-22 da força aérea e o destróier DDG-1000 da marinha, reduzir os mísseis defensivos e o Sistema de Combate Futuro do exército, para poupar 10 bilhões de dólares por ano. Todas, boas sugestões - mas e as bases no estrangeiro?
Apesar dos políticos e especialistas dos meios de comunicação parecerem esquecidos dessas bases, tratando o posicionamento de tropas americanas espalhadas pelo mundo inteiro como se fosse um fato natural, o império americano de bases está atraindo cada vez mais a atenção de acadêmicos e ativistas – como demonstrado por uma conferência sobre as bases estrangeiras americanas na Universidade Americana no passado mês de fevereiro. A NYU Press [editora da Universidade de Nova Iorque] acaba de publicar Bases of Empire, de Catherine Lutz, um livro que reúne acadêmicos que estudam as bases militares americanas e ativistas contra essas bases. A Rutgers University Press publicou Military Power and Popular Protest, de Kate McCaffrey, um estudo sobre as bases americanas em Vieques, Porto Rico, que foram fechadas perante os protestos maciços da população local. E a Princeton University Press publicará Island of Shame: The Secret History of the U.S. Military Base on Diego Garcia, de David Vine – um livro que conta a história de como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha acordaram secretamente deportar os habitantes da ilha de Diego Garcia, no arquipélago de Chagos, para as Maurícias e para as Seychelles, para que a sua ilha pudesse ser transformada numa base militar. Os americanos foram tão cuidadosos que até mataram com gás todos os cães dos chagossianos. Os chagossianos não foram autorizados a apresentar o seu caso nos tribunais dos Estados Unidos, mas ganharam o processo contra o governo britânico em três julgamentos, tendo a sentença derrubada pelo supremo tribunal do país, a Câmara dos Lordes. No momento, apelam para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
Os dirigentes americanos dizem que as bases no exterior cimentam as alianças com nações estrangeiras, sobretudo através do comércio e de acordos de ajuda que acompanham frequentemente o arrendamento das bases. Mas os soldados americanos vivem numa espécie de simulacro da América nas suas bases, vêem a TV americana, ouvem o rap e o heavy metal americanos e comem a fast food americana, a fim de que os rapazes do campo e os meninos da cidade, para ali transplantados, tenham pouca exposição a outro modo de vida. Entretanto, do outro lado da cerca de arame farpado, os residentes e comerciantes locais ficam muitas vezes dependentes dos soldados e defendem que eles ali se mantenham.
Essas bases podem tornar-se pontos de irrupção de conflitos. As bases militares normalmente descarregam lixo tóxico nos ecossistemas locais, como em Guam, onde as bases militares levaram a nada menos que 19 pontos extremamente poluídos. Essa contaminação gera ressentimento e por vezes movimentos sociais extremamente explosivos contra as bases, como aconteceu em Vieques nos anos 90. Os Estados Unidos utilizaram Vieques para exercícios de bombardeio real durante 180 dias por ano, e, em 2003, na época em que os Estados Unidos se retiraram, a paisagem estava atulhada de granadas detonadas e por detonar, esferas de urânio depletado, metais pesados, petróleo, lubrificantes, solventes e ácidos. Segundo ativistas locais, a taxa de câncer em Vieques era 30% mais alta do que no resto de Porto Rico.
Também é inevitável que, de tempos a tempos, os soldados americanos – muitas vezes embriagados – cometam crimes. O ressentimento que esses crimes provocam ainda é mais exacerbado pela freqüente insistência do governo americano de que esses crimes não sejam julgados nos tribunais locais. Em 2002, dois soldados americanos mataram duas adolescentes na Coréia quando iam a uma festa de aniversário. Os veteranos da Coréia afirmam que esse foi um dos 52.000 crimes praticados por soldados americanos na Coréia entre 1967 e 2002. Os dois soldados americanos foram imediatamente repatriados para os Estados Unidos a fim de fugirem ao julgamento na Coréia. Em 1998, um piloto dos marines cortou os cabos de um teleférico na Itália, matando 20 pessoas, mas os oficiais americanos recusaram-se a permitir que as autoridades italianas o julgassem. Esses e outros incidentes semelhantes prejudicam as relações dos EUA com importantes aliados.
Os ataques de 11/Set são, sem dúvida, o exemplo mais espetacular do tipo de ricochete que pode gerar-se a partir do ressentimento local contra as bases americanas. Nos anos 90, a presença de bases militares americanas junto dos lugares sagrados do Islã, na Arábia Saudita, encolerizou Osama Bin Laden e proporcionou à Al Qaeda uma poderosa ferramenta de recrutamento. Os Estados Unidos, sensatamente, fecharam as suas maiores bases na Arábia Saudita, mas abriram outras bases no Iraque e no Afeganistão que estão se tornando rapidamente novas fontes de atrito na relação entre os Estados Unidos e os povos do Oriente Médio.
Muitas dessas bases são um luxo que os Estados Unidos já não podem aguentar numa época de déficits orçamentais recordes. Além disso, as bases americanas no estrangeiro têm uma dupla face: projetam o poder americano por todo o globo, mas também incendeiam as relações externas dos EUA, gerando ressentimentos contra a prostituição, os danos ambientais, os pequenos crimes, e o etnocentrismo cotidiano que são a sua consequência inevitável. Esses ressentimentos forçaram recentemente o fechamento de bases americanas no Equador, em Porto Rico e no Quirguistão, e se o passado é apenas um prólogo, podemos esperar no futuro mais movimentos contra as bases americanas. Acredito que, dentro dos próximos 50 anos, assistiremos ao aparecimento de uma nova norma internacional segundo a qual as bases militares estrangeiras serão tão indefensáveis como a ocupação colonial de um outro país passou a ser nos últimos 50 anos.
A Declaração da Independência [dos EUA] critica os britânicos “por posicionar grandes corpos de tropas armadas entre nós” e “por protegê-los, através de julgamentos fantoches, da punição por quaisquer crimes que cometam contra os habitantes destes Estados”. Belas palavras! Os Estados Unidos deviam começar por levá-las a sério.
* Hugh Gusterson é professor de antropologia e sociologia na George Mason University. É especialista em cultura nuclear, segurança internacional e antropologia da ciência. Acompanhou um considerável trabalho de campo nos Estados Unidos e na Rússia, onde estudou a cultura de cientistas de armas nucleares e de ativistas anti-nucleares. Dois dos seus livros encerram este trabalho: Nuclear Rites: A Weapons Laboratory at the End of the Cold War (University of California Press, 1996) e People of the Bomb: Portraits of America’s Nuclear Complex (University of Minnesota Press, 2004). Também foi co-autor de Why America’s Top Pundits Are Wrong: Anthropologists Talk Back (University of California Press, 2005); tem em preparação uma sequência, The Insecure American. Anteriormente foi professor no Programa sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade, do MIT
As bases americanas na Colômbia
Clique aqui para uma discussão sobre as bases americanas na Colômbia. E matéria de Andres Oppenheimer, do Miami Herald - publicada pela Folha - dizendo que tudo não passou de uma enorme confusão de comunicação:
(…) Eu, por exemplo, fiquei surpreso ao ouvir entrevista do ministro chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, na qual ele declarou que “não haverá um centímetro de território colombiano no qual venha a existir uma base militar dos EUA”. Alguns importantes países sul-americanos expressaram preocupações sobre as supostas “bases militares americanas” na Colômbia e querem discutir a questão na próxima cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas).(…) “Mas, se não se trata de bases militares dos EUA, o que temos?”, perguntei a Bermúdez. Segundo o ministro, Colômbia e EUA estão discutindo um acordo para aumentar a cooperação militar americana principalmente para questões de vigilância e inteligência, com o objetivo de combater os traficantes de drogas e narcoguerrilheiros que operam na Colômbia. Mas, ao contrário do que ocorre nas bases americanas em Manta (Equador), Guantánamo ou na Europa, sobre as quais os EUA têm jurisdição, na Colômbia os soldados americanos não operarão nenhuma base.“Serão bases colombianas, comandadas e operadas por colombianos, nas quais haverá acesso regulado de pessoal americano”, disse Bermúdez. Uma lei federal dos EUA dispõe que o número de soldados do país estacionados na Colômbia não pode passar de 800 militares e 600 prestadores civis de serviços. No ano passado, havia 71 militares e 400 civis contratados pelos EUA estacionados na Colômbia.Sob o acordo proposto, as tropas americanas serão convidadas a operar em pelo menos sete bases militares colombianas. Mas não existem planos para elevar o contingente americano no país. Minha opinião: caso os governos dos EUA e da Colômbia estejam dizendo a verdade -e suspeito que estejam, já que o acordo estará sujeito a severa vigilância por parte de um Congresso americano cético quanto a esse tipo de empreitada-, então o que temos é um grande erro na maneira pela qual as negociações sobre cooperação militar foram anunciadas.
Enviado por: luisnassif
A América do Sul tem se mantido fora de guerras; seus povos ensejam a paz e o controle de suas riquezas; tirando o belicismo apresentado pelo Chile, no passado, atualmente só a Colômbia, pós Uribe, agrediu vizinhos, como política de confronto permanente. A militarização da Colômbia será o marco para a corrida armamentista do América do Sul. Retomada do dilema visto nas primeiras aulas de economia- canhões ou manteiga. Para o complexo industrial militar é o que interessa.
A Venezuela, com Chaves, é boa de retórica, mas não ameaça ninguém. Os acordos fora da área de influência americana decorrem mais das atitudes americanas do que de ideologia chavista. Sua deposição, mal sucedida, urdida e apoiada pelos EEUU, estabeleceu o clima de confronto permanente, que os americanos nada fazem para distender. A proibição de venda dos aviões brasileiros ilustra bem. E jogou Chaves no colo russo.
A luta dos povos Sul Americanos pelo domínio de suas riquezas naturais, petróleo, gás, minérios estratégicos, visando a melhoria de condições de vida de seus povos, afronta interesses imperiais e locais, daqueles que ou por participarem do butim ou por ideologia, apóiam as políticas anti nacionais.
Nesse contexto, de confronto de interesses-entreguismo x nacionalismo, é que se deve analisar a criação de bases americanas na Colômbia. E mais, uma vez, lá não sairão por várias gerações, constituindo fator permanente de instabilidade e ponta de lança em intervenções anti democráticas.
Gerar instabilidade, na atualmente pacífica, América do Sul é objetivo de Obama? É interesse pelo petróleo venezuelano? Pelo pré sal? Pela Amazônia? Vender armas? Não nos esqueçamos que o Pentágono trabalha com projeções de muitas décadas".
Os americanos vão fazer oquê mesmo na Colômbia? Achei que esta militarização do tráfico, que não deu resultado algum, fosse parte da guerra infinita a qualquer coisa do seu Bush. Acho melhor os americanos diminuírem o número de bases e tentar rearrumar a economia diminuindo despesas militares inúteis. E pensar que o Brasil, governado pelo PT, financia estes devaneios aplicando quase 200 bilhões de dólares das reservas em títulos americanos.
O problema da Colômbia é político, um sistema político excludente e violento no melhor estilo coronelista. Se as Farcs acabarem o tráfico de drogas não vai acabar, as Farcs são apenas um dos muitos grupos armados na região, quando são de direita são chamados de paramilitares que combatem as Farcs e assassinam sindicalistas e opositores mediante pagamento. Também estão envolvidos com o tráfico, faz parte do negócio violência que rende bons dividendos".
"A Quarta Frota reativada no Atlântico Sul, na área do pré-sal. Bases americanas nas portas da Amazônia brasileira, e alguns jornalistas(como a Miriam Leitão) querem nos fazer crer que isso não é motivo para preocupações. Os mexicanos acreditaram nas boas intenções do Tio Sam e quando acordaram tinham perdido a Califórnia, Nevada, Novo México, Arizona e o Texas".
Por outro lado, o Chile praticamente renovou sua frota de f-16 (americanos) em um numero maior do que os sukoi venezuelanos, adquiriu dois submarinos franceses novos e reequipou sua marinha com novas fragatas. Recentemente, adquiriu novos tanques (alemões) modernizados em um número muito superior aos “possíveis 40 tanques russos” que Chavez gostaria de adquirir. A lei do cobre no Chile, que direciona uma fração dos ganhos deste minério para as forças armadas chilenas vem potencializando o Chile há bastente tempo. O Chile hoje gasta mais em armamentos do que a Venezuela.
Já o Brasil planeja adquirir (na primeira etapa) 36 caças novos, podendo chegar a 100 no total, para substituir os atuais 150 F-5, AMX e A-4 (estes da marinha). Somente este programa é maior do que tudo o que Chavez gastou até agora. Mas deve-se lembrar também os programas executados pela embraer para a modernização de 50 F-5, 40 AMX e 12 A-4 (ao custo médio de 5 milhões de dolares cada!), que associado aos aviões de alerta e novos mísseis BVR, tornaram esta força equivalente e até superior aos sukois e f-16 dos venezuelandos e chilenos. O Brasil adquiriu 12 helicopitos Mi-35 russos, de ataque, praticamente um tanque voador. A marinha assinou a compra de 4 submarinos novos e anunciou o plano de 10 novas fragatas (17 bilhões de reais). Somando os submarinos (inclusive o nuclear) e as fragatas, resultará na mais poderosa esquadra da AL, com maior poder de fogo do que a Chilena e Venezuelana juntas, isso sem falar no programa Urutu 3 que irá substituir 600 blindados/tanques do exercito. E há muito se fala na necessidade de substituir todos os fuzis FAL por equipamentos novos, alguma coisa como 250.000 armas.
Estes numeros comparativos mostram algumas coisas. A primeira é que Chavez não é um gastador. Seus programas de reaparelhamento militar são compatíveis com o tamanho da Venezuela e que a opçõa russa é resultado do embargo americano. . Que o Chile, gasta tanto ou até mais do que a Venezuela e nunca se falou nada.
Um ranqueamento na AL aponta o Brasil como principal força milita, seguido pelo Chile, Peru, Argentina, Colômbia, Venezuela e Equador.
Em termos praticos, os gastos de Chavez ainda não desequilibraram o balanço de forças na AL, o Chile se mantém fortemente armado e a Colombia tem uma força desproporcional para sua população e PIB".
Até agora, as bases na Colômbia são bases de pequeno porte voltadas para atividades de inteligência eletrônica, análise de informações e apoio às FA colombianas. Basta dizer q a maior patente lá é um tenente-coronel; não existem unidades da Força Aérea e nem depósitos. Não sei se existem aeronaves de monotração eletrônica baseadas permanentemente lá. Acho q existem três bases; se eles pretendem instalar 7, e se essas 7 são do mm tipo, não é pra se preocupar - vão ter lá no máximo uns 700 militares.
A tal da 4a Esquadra é mto mais preocupante para nós, mas ainda assim, não está totalmente ativada ainda. Que eu saiba, não foi detectada nenhuma força-tarefa navegando perto de nossas águas - isso seria considerado uma provocação de primeira linha, e não creio q os americanos queiram jogar areia nas relações bilaterais de maneira tão imbecil.
Vamos esperar pra ver. Quem sabe isso não funciona para fazer nossas autoridades acelerarem a modernização das FA daqui?"
O presidente boliviano Evo Morales afirmou na quarta-feira, 5, que apresentará proposta à Unasul (União das Nações Sul-Americanas) para que não seja aceita nenhuma base militar norte-americana no continente.
A declaração foi feita durante a visita do presidente colombiano Álvaro Uribe à capital boliviana, La Paz.
Uribe está fazendo um giro pelo continente para tentar explicar a instalação de uma base militar dos EUA em seu país.
“Expressei uma opinião que já havia dado há dias atrás. Que vamos defender a soberania da América Latina, da América do Sul e, portanto, o informei que na reunião da Unasul no Equador, no dia 10, levaremos a proposta para que não se aceite nenhuma base militar na América do Sul”, afirmou Evo em declaração à imprensa.
Morales acrescentou que também pedirá na reunião a criação de uma Escola de Defesa regional e a regionalização da luta contra o narcotráfico.
O governante boliviano disse que durante seu encontro com Uribe, o presidente colombiano lhe disse estar “preocupado com suas diferenças com Venezuela e Equador”.
Uribe agradeceu a recepção e o “espaço de dialogo” que recebeu do presidente boliviano.
Em seguida, partiu para o Chile, onde se encontraria com a presidente Michelle Bachelet.
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