“A resistência é cem por cento iraquiana”
`Al-Quds al-Arabi`- CSAweb (www.nodo50.org/csca)
A resistência parte da idéia de libertação nacional, não da lealdade a uma determinada figura
A resistência é uma realidade sobre a qual todos estamos curiosos, mas muitos querem saber quem são vocês.
A resistência é 100% iraquiana.
Abarca diferentes correntes e pessoas de distintas profissões: intervêm nela o Partido do Movimento Islâmico, o Partido Ba'az, nasseristas, setores do exército e da polícia, médicos, engenheiros, docentes, artistas, desportistas, estudantes e camponeses, inclusive, há um amplo apoio de iraquianos sunitas, xiitas, árabes e curdos.
Portanto, não é correto que se falem de Bin Laden ou de qualquer outro sem que isto signifique questionar sua Jihad (Guerra Santa).
Nós iraquianos temos capacidade e possibilidade de lutar e não necessitamos de forças que, além disso, estão cercadas no Afeganistão.
Nosso desejo é que os ianques e os britânicos sejam derrotados em todas as partes.
Mas isto não afetará o movimento (da resistência)?
Quando dissemos que o povo está conosco, não quer dizer conosco dentro da organização.Está conosco no sentido de que nos facilita o passo, o movimento. Porém a organização encontra-se estruturada de tal maneira que uma célula (ou um grupo) está a salvo caso sejam detidos membros de outra (ou de outro grupo).
Quantos resistentes foram detidos?
Nenhum.Todos os detidos (pelas forças de ocupação) são do povo, mas nenhum deles está vinculado à resistência.
Alguns civis caíram vítimas em algumas operações. Como isso pode ser explicado?
Só temos atuado contra as forças criminosas de ocupação, e não temos atacado a nenhum civil.
Que papel desempenham Saddam Hussein e Izzat Ibrahim al-Duri1?
A direção da resistência aprecia o papel militante de ambos, mas a resistência parte da idéia de libertação nacional, não da lealdade a uma determinada figura.
Enfrentamentos no campo xiita
Qual é a sua opinião sobre o assassinato de Baker al-Hakim2?
Há uma luta interna recaldada entre os clérigos xiitas pelo controle da al-Hawza3 e por ganhar influência, que foi o que conduziu ao assassinato de al-Hakim, dias depois que retornara ao Iraque com as forças de ocupação.
Al-Hakim era um colaboracionista dos ocupantes e trabalhava para os serviços secretos ianques e britânicos desde muito tempo. Segundo a informação de que dispomos, foi um grupo vinculado ao Irã que o matou. Não é o momento adequado para revelar o nome do grupo.
O Conselho Governativo faz parte de seus objetivos militares?
Todos os que colaboram com a ocupação são traidores e, portanto, objetivos legítimos de nossa luta, tal como estipulou o editor religioso, fatwa (sentença de morte proferida contra um inimigo do islamismo).
Além de vocês há alguma outra parte implicada na resistência?
Sim há. Porém, 95% das operações foram levadas a cabo por nós mesmos: entre 32 e 40, diárias, que deixam uma média de 12 soldados ianques e britânicos mortos.
Por que a impressão de que somente há resistência na zona sunita?
O Iraque é um só país e temos nossa maneira de eleger o momento e o lugar adequados para realizar nossas operações.
O Iraque é para todos: árabes, curdos e turcomanos; sunitas e xiitas.
Nos próximos dias vamos ampliar nossas ações a cidades como as-Sulaymania, Arbil, Dahuk, Anajaf, Amara e a as-Samwa.
Existe uma direção central da resistência?
Sim. Existe e tem um plano elaborado com minúcias e realismo para dirigir as operações militares em todo Iraque.
Que opinião tem sobre as últimas declarações de Mohamed Said as-Sahaf4 sobre os dias da guerra e do que ocorria então?
Se supõe que há determinados segredos que não se podem revelar antes que passe certo tempo, e o irmão as-Sahaf o sabe muito bem, mas desconheço seu ponto de vista ao decidir revelá-los em público. Eu pessoalmente não estou contra ele, porém alguns membros da direção (da resistência) pensam que deveria ter guardado silêncio sobre determinados assuntos, sobretudo porque a cadeia árabe de TV que emitiu suas declarações está a serviço das forças de ocupação.
Qual é a sua avaliação da postura da Síria e do Irã?
A Síria não ganhou nada depois de haver guardado estes traidores e espiões5, e de ter financiado, do mesmo modo que o fizeram Kuwait, Arábia Saudita, Irã e Jordânia, além do Reino Unido. O Irã não se enfrentará nem com USA nem com Israel6. O Irã conspirou contra os taleban e contra o Iraque, dando resposta às demandas ianques. A denúncia ianque sobre o desenvolvimento de armas de destruição em massa no Iraque é uma mera encenação. Não há nenhum regime árabe ou não-árabe vizinho ao Iraque que apóie a resistência iraquiana.
E sobre a posição da Jordânia?
Não vale a pena mencionar o esquálido regime jordaniano: esteve distraindo o Iraque nos primeiros dias da agressão ao permitir a entrada de unidades do exército ianque através de suas fronteiras. Este regime entregou militantes da Arábia Saudita ao USA para que se enfrentem até a morte, e agora se dedica a interrogar iraquianos (exilados) para obter informação sobre a resistência e entregá-la aos ianques.
E sobre os países do Golfo?
Sempre apoiaram o ocupante. São os que estão alimentando as forças de ocupação. Nestes países há forças patrióticas, nacionalistas e islamitas, mas estão reprimidas.(...)
E com que apoio conta a resistência, então?
Contamos com ajuda de Deus, com o apoio do povo iraquiano e esperamos que com a do povo árabe e de suas forças, com as do mundo muçulmano e com as de todos aqueles povos livres do mundo que estão ao lado da luta do povo do Iraque. Só necessitamos de gestos como o boicote aos produtos do USA, Reino Unido, Israel e dos países que participam na ocupação de nosso país, como Espanha, Polônia e Itália, ou o Japão, se chegar (finalmente) a mandar tropas. Também pedimos que se boicote aos traidores.
21 de novembro de 2003
1 Izzat Ibrahim ad-Duri, vice-presidente do Conselho da Revolução do Iraque no momento da ocupação do país, e ainda não detido, recentemente foi apresentado pelo Pentágono como coordenador das ações da resistência iraquiana. Doente de leucemia (o que limita a credibilidade de que possa ser um eficaz coordenador da resistência), o Pentágono oferece 10 milhões de dólares por sua captura. No dia 26 de novembro as tropas de ocupação detiveram em Sumarra sua mulher e uma de suas filhas.
2 Baker al-Hakim, dirigente do Conselho da revolução Islâmica no Iraque, estabelecido no Irã até seu regresso ao Iraque, representava os setores convictos xiitas favoráveis à invasão do Iraque, havendo participado nas reuniões mantidas no transcurso do ano anterior com representantes da administração Bush. Al-Hakim morreu num atentado em Najaf em 29 de agosto, junto a mais de 100 pessoas.
3 Máxima instituição religiosa xiita.
4 Mohamed Said as-Sahaf – ministro da Informação no momento da invasão do Iraque (antes o foi de Exteriores) –, reiterou as considerações vertidas depois da ocupação por alguns meios árabes de que certos altos mandos militares (da Guarda Republicana, concretamente) e dos serviços de informação iraquianos haviam feito pacto com o USA, não opondo resistência militar a invasão, concretamente em Bagdá.
5 Parte da oposição iraquiana ao deposto regime estava assentada na Síria.
6 O presidente iraniano Jatamí recebeu no dia 10 de novembro a Jalal Talabani, presidente de turno do Conselho Governativo iraquiano, e a outros nove membros desta instância designada por Bremer, no que supõe um reconhecimento oficial por parte do Irã (Europa Press, 24/11/ 2003).
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