quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

CONDENANDO A FARSA DO PRESENTE

QUANTOS SEREMOS?
Não sei quantos seremos, mas
que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!
Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.
E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.
Miguel Torga
No colóquio internacional comemorativo do centenário da abolição da pena de morte, realizado em Coimbra, em 1967, Miguel Torga falou assim:

"A tragédia do homem, cadáver adiado, como lhe chamou Fernando Pessoa, não necessita dum remate extemporâneo no palco. É tensa bastante para dispensar um fim artificial, gizado por magarefes, megalómanos, potentados, racismos e ortodoxias. Por isso, humanos que somos, exijamos de forma inequívoca que seja dado a todos os povos um código de humanidade. Um código que garanta a cada cidadão o direito de morrer a sua própria morte".
Numa democracia moderna, os direitos políticos são inseparáveis dos direitos sociais. Se estes recuam, a democracia fica diminuída.
Não podemos ignorar a persistência de uma política de agressão, bem como as repetidas violações do direito internacional e dos direitos humanos.
Bagdad, Abu-Ghraib e Guantánamo são os novos símbolos da vergonha.
Não se constrói a paz com a guerra.
Nem se defende a democracia pondo em causa os seus princípios.
E por isso, hoje como ontem, é preciso lutar pelos valores da Paz e pelos Direitos Humanos.
Não nos resignamos perante as dificuldades.
Como escreveu Miguel Torga –
“Temos nas nossas mãos, o terrível poder de recusar.”
Mas também o poder de afirmar e de dar vida à democracia.
É tempo de buscar os diálogos abertos e o sentido de responsabilidade democrática que têm de se impor contra o pensamento único, a injustiça e a desigualdade.
Liberdade
- Liberdade, que estais no céu…
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

- Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
- Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
poema escrito por Miguel Torga em 28 de Agosto de 1975

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