quinta-feira, 30 de abril de 2009

HOMENAGEM AO POVO PALESTINO



Poesia Palestina de Combate

Talvez perca — se desejares — minha subsistência
Talvez venda minhas roupas e meu colchão
Talvez trabalhe na pedreira... como carregador... ou varredor
Mas não me venderei,
Ó inimigo do sol
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Talvez me despojes da última polegada da minha terra
Talvez aprisiones minha juventude
Talvez me roubes a herança de meus antepassados
Talvez queimes meus poemas e meus livros
Talvez apagues todas as luzes de minha noite
Talvez me prives da ternura de minha mãe
Talvez falsifiques minha história
Talvez ponhas máscaras para enganar meus amigos
Talvez levantes muralhas e muralhas ao meu redor
Talvez me crucifiques um dia diante de espetáculos indignos
Mas não me venderei
Ó inimigo do sol
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Ó inimigo do sol
O porto transborda de beleza... e de signos
Botes e alegrias
Clamores e manifestações
Os cantos patrióticos arrebentam as gargantas
E no horizonte... há velas
Que desafiam o vento... a tempestade e franqueiam os obstáculos
É o regresso de Ulisses
Do mar das privações
O regresso do sol... de meu povo exilado
E para seus olhos
Ó inimigo do sol
Juro que não me venderei
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Resistirei
Resistirei
Samih Al-Qassin



Nota do blog: Observe a degradação e a mutilação da Palestina (reduzida a enclaves - a Faixa de Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo), leia o texto abaixo e saiba porque o terrorismo de estado israelense não tem nenhuma intenção de reconhecer os direitos nacionais palestinos.
Israel não tem nenhuma intenção de admitir um estado palestino: Se o Hamas não existisse, por Jennifer Loewenstein
Deixemos uma coisa perfeitamente clara. Se a degradação e a mutilação por atacado da Faixa de Gaza for continuar; se a vontade de Israel é uma com a dos Estados Unidos; se a União Européia, a Rússia, as Nações Unidas e todas as organizações e agências legais internacionais espalhadas pelo globo vão continuar sentadas como manequins ocos sem fazer nada a não ser os repetidos “chamados” por um “cessar-fogo” de “ambos os lados”; se os covardes, obsequiosos e supinos Estados Árabes vão continuar de braços cruzados vendo seus irmãos serem trucidados de hora em hora enquanto a Super-Potência valentona do mundo olha-os ameaçadoramente de Washington, no caso de que digam qualquer coisinha que a desgoste; então vamos pelo menos dizer a verdade sobre por que está tendo lugar este inferno na terra.

O terror de estado disparado neste momento dos céus e do chão contra a Faixa de Gaza não tem nada a ver com o Hamas.

Não tem nada a ver com o “Terror”.

Não tem nada a ver com a “segurança” a longo prazo do Estado Judeu ou com o Hezbolá, a Síria ou o Irã, exceto na medida em que agrava as condições que levaram até a crise de hoje. Não tem nada a ver com alguma conjurada “guerra” -- um eufemismo cínico e gasto que não representa mais que a escravização por atacado de qualquer nação que ouse reclamar seus direitos soberanos; que ouse afirmar que seus recursos são seus; que não queira uma das obscenas bases militares do Império assentada em suas queridas terras.

Esta crise não tem nada a ver com liberdade, democracia, justiça ou paz.

Não é sobre Mahmoud Zahhar ou Khalid Mash'al ou Ismail Haniyeh.

Não é sobre Hassan Nasrallah ou Mahmoud Ahmadinejad.

Eles são todos peças circunstanciais que ganharam um papel na tempestade atual só agora, depois de que se permitiu por 61 anos que a situação se desenvolvesse até a catástrofe que é hoje.

O fator islamista coloriu e continuará a colorir a atmosfera da crise; ele alistou líderes atuais e mobilizou amplos setores da população do mundo.

Os símbolos fundamentais hoje são islâmicos – as mesquitas, o Alcorão, as referências ao profeta Maomé ou à Jihad. Mas esses símbolos poderiam desaparecer e o impasse continuaria.Houve uma época em que o Fatah e a FPLP eram a bola da vez, quando poucos Palestinos queriam ter qualquer coisa a ver com políticas ou medidas islamistas. Esta política não tem nada a ver com foguetes primitivos sendo lançados do outro lado da fronteira ou com túneis de contrabando ou com o mercado negro de armas, assim como o Fatah de Arafat tinha pouco a ver com as pedras e os atentados suicidas a bomba. As associações são contingentes; criações de um dado ambiente político. Elas são o resultado de algo completamente diferente do que os políticos mentirosos e seus analistas estão lhe dizendo. Elas se tornaram parte da paisagem dos acontecimentos humanos no Oriente Médio de hoje; mas incidências tão letais, ou tão recalcitrantes, mortais, enraivecidas ou incorrigíveis poderiam muito bem ter estado em seus lugares.Descasque os clichês e o blá-blá-blá estridente e vazio da mídia servil e de seu patético corpo de servidores estatais voluntários no mundo ocidental e o que você encontrará é o desejo nu de hegemonia, de poder sobre os fracos e de domínio sobre a riqueza do mundo. Pior ainda, você encontrará o egocentrismo, o ódio e a indiferença, o racismo e a intimidação, o egoísmo e o hedonismo que tentamos tanto mascarar com nosso jargão sofisticado, nossas teorias e modelos acadêmicos refinados, que na verdade ajudam a guiar nossos desejos mais feios e baixos. A insensibilidade com que nos rendemos a eles já é endêmica à nossa cultura; nela floresce como moscas sobre um cadáver.Descasque os atuais símbolos e linguagem das vítimas dos nossos caprichos egoístas e devastadores e você encontrará os gritos desafetados, simples e cheios de paixão dos pisoteados; dos “condenados da terra” implorando para que você cesse sua agressão fria contra suas crianças e seus lares; suas famílias e seus vilarejos; implorando que os deixe em paz para que tenham seu peixe e seu pão, suas laranjas, suas olivas e seu tomilho; pedindo primeiro educadamente e depois com crescente descrença no porquê de você não poder deixá-los viver sem serem incomodados nas terras de seus ancestrais, sem serem explorados, livres do medo de serem expulsos, violados ou devastados; livres dos carimbos e dos bloqueios de estrada e dos postos policiais de controle e cruzamentos; dos monstruosos muros de concreto, torres de guarda, bunkers de concreto e arame farpado; dos tanques, das prisões, da tortura e da morte.

Por que é impossível a vida sem essas políticas e instrumentos do inferno?

A resposta é: porque Israel não tem qualquer intenção de permitir um estado palestino viável e soberano ao lado de suas fronteiras.

Não tinha qualquer intenção de permiti-lo em 1948, quando arrancou 24% mais terra do que havia sido legal, ainda que injustamente, alocado pela Resolução 181 das Nações Unidas.

Não tinha qualquer intenção de permiti-lo ao longo dos massacres e complôs dos anos 1950. Não tinha qualquer intenção de permitir dois estados quando conquistou os 22% que restavam da Palestina histórica em 1967 e reinterpretou a Resolução 248 do Conselho de Segurança da ONU a seu bel prazer, apesar do esmagador consenso internacional que estabelecia que Israel receberia completo reconhecimento internacional dentro de fronteiras reconhecidas e seguras se recuasse das terras que havia recentemente ocupado.

Não tinha qualquer intenção de reconhecer direitos nacionais palestinos nas Nações Unidas em 1974, quando – sozinho com os Estados Unidos – votou contra uma solução biestatal.

Não tinha qualquer intenção de permitir um acordo de paz completo quando o Egito estava pronto para realizar, mas só recebeu, e obedientemente aceitou, uma paz separada que excluía os direitos dos palestinos e dos outros povos da região. Não tinha nenhuma intenção de trabalhar na direção de uma solução biestatal justa em 1978 ou em 1982, quando invadiu, bombardeou, esmigalhou e demoliu Beirute para que pudesse anexar a Cisjordânia sem ser incomodado. Não tinha qualquer intenção de admitir um estado palestino em 1987, quando a primeira Intifada se espalhou pela Palestina Ocupada, na Diáspora e nos espíritos dos despossuídos do mundo, ou quando Israel deliberadamente auxiliou o nascente movimento Hamas, como forma de implodir a força das facções mais seculares-nacionalistas.Israel não tinha qualquer intenção de admitir um estado palestino em Madrid ou em Oslo, quando a OLP foi superada pela trêmula e titubeante Autoridade Palestina, muitos de cujos chapas perceberam a riqueza e o prestígio que ela lhes dava, às custas dos seus. Enquanto Israel alardeava nos microfones e satélites do mundo o seu desejo de paz e de uma solução biestatal, ele mais que duplicava os assentamentos colonizadores judeus, ilegais, nas terras da Cisjordânia e em volta de Jerusalém Oriental, anexando-as na medida em que construía e continua a construir uma superestrutura de estradas e autopistas sobre as cidades e vilarejos sobreviventes, picotados da Palestina. Anexou o Vale do Jordão, a fronteira internacional da Jordânia, expulsando quaisquer dos “nativos” que habitassem a terra. Fala com uma língua de víbora sobre os múltiplos amputados da Palestina, cujas cabeças serão logo arrancadas do corpo em nome da justiça, da paz e da segurança.Através das demolições de casas, dos ataques à sociedade civil que tentavam lançar a cultura e a história palestinas num abismo de esquecimento; através da indizível destruição dos cercos aos campos de refugiados e dos bombardeios à infraestrutura na Segunda Intifada, através dos assassinatos e das execuções sumárias, pela grandiosa farsa do desengajamento até a nulificação das eleições livres, democráticas e justas da Palestina, Israel já nos fez saber qual é a sua visão, uma e outra vez, na linguagem mais forte possível, a línguagem do poder militar, das ameaças, das intimidações, do acosso, da difamação e da degradação.Israel, com o apoio aprovador e incondicional dos Estados Unidos, já deixou dramaticamente claro ao mundo todo, várias vezes, repetindo em ação atrás de ação que não aceitará um estado palestino viável ao lado de suas fronteiras. O que mais é preciso para que escutemos? O que será necessário para terminar com o silêncio criminoso da “comunidade internacional”? O que será preciso para ver mais além das mentiras e da doutrinação acerca do que tem lugar diante de nós, dia após dia, claramente, no raio de visão dos olhos do mundo? Quanto mais horrorosas as ações no terreno, mais insistentes são as palavras de paz. Ouvir e assistir sem escutar nem ver permite que a indiferença, a ignorância e a cumplicidade continuem e aprofundem, a cada túmulo, a nossa vergonha coletiva.A destruição de Gaza não tem nada a ver com o Hamas.

Israel não aceitará qualquer autoridade nos territórios palestinos que ele, em última instância, não controle. Qualquer indivíduo, líder, facção ou movimento que não aceda às exigências de Israel ou que busque genuína soberania e igualdade de todas as nações da região; qualquer governo ou movimento popular que exija a aplicabilidade da lei humanitária internacional e a declaração universal dos direitos humanos para seu próprio povo será inaceitável para o Estado Judeu. Aqueles que sonham com um estado devem ser forçados a perguntarem-se: o que Israel fará com uma população de 4 milhões de palestinos dentro de suas fronteiras, quando comete crimes diários, se não a cada hora, contra a humanidade coletiva deles enquanto eles vivem ao lado de suas fronteiras? O que fará mudar de repente a razão de ser, o autoproclamado objetivo e razão de existência de Israel se os territórios palestinos forem anexados a ele totalmente?O sangue de vida do Movimento Nacional Palestino jorra hoje pelas ruas de Gaza. Cada gota que cai rega a terra da vingança, do ressentimento e do ódio não só na Palestina, mas em todo o Oriente Médio e em boa parte do mundo. Nós temos uma escolha sobre se isso deverá continuar ou não. Agora é a hora de escolher.
Jennifer Loewenstein é Diretora Associada do Centro de Estudos do Oriente Médio de uma das principais universidades públicas norte-americanas, a de Wisconsin em Madison. Ela trabalhou durante meses, em 2002, no Centro Al Mezan de Direitos Humanos, em Gaza. Retornou a Gaza várias vezes desde então. Original, em inglês, aqui. Tradução ao português de Idelber Avelar. Ilustrações, daqui.

CONFISSÃO DE UM TERRORISTA
Ocuparam minha pátria
Expulsaram meu povo
Anularam minha identidade
E me chamaram de terrorista
Confiscaram minha propriedade
Arrancaram meu pomar
Demoliram minha casa
E me chamaram de terrorista
Legislaram leis fascistas
Praticaram odiado apartheid
Destruíram, dividiram, humilharam
E me chamaram de terrorista
Assassinaram minhas alegrias,
Seqüestraram minhas esperanças,
Algemaram meus sonhos,
Quando recusei todas as barbáries
Eles... mataram um terrorista!
Mahmoud Darwish
Para justificar-se, o terrorismo de estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los.
Eduardo Galeano
Poesia da Resistência Palestina
Por Intifada Viva
A poesia palestina representa, um brado de combate e esperança para os palestinos que vivem sob a ocupação de Israel ou no exílio.
A poesia palestina representa, um brado de combate e esperança para os palestinos que vivem sob a ocupação de Israel ou no exílio. Apesar da forte repressão à arte popular
A "democracia israelense" não suporta que os palestinos cantem, disse uma vez o poeta Tawfic Zayyad o poema é, de longe, o mais popular gênero da literatura palestina.
Isto pode ser em parte atribuído à forte tradição oral da sua cultura.
Houve, desde o início, uma vontade de simplicidade na poesia de resistência.
Os artifícios de linguagem em favor da estética foram postos de lado.
O poeta Mahmud Darwish expressou claramente isso num de seus primeiros versos:
Se os mais humildes não nos compreendem será melhor jogar fora os poemas e ficarmos calados.
O poeta diz: se meus versos são bons para meus amigos e enfurecem os meus inimigos então é que sou mesmo poeta e devo continuar cantando.
Fontes: Poesia Palestina da Resistência , edição OLP/Brasil, 1986
COM OS DENTES
Tawfiq Zayyad
Com os dentes
Defenderei cada polegada da minha pátria
Com os dentes
E não quero nada em troca dela
Mesmo que me deixem pendurado
Nas minhas veias
Aqui permaneço
Escravo do meu amor...
à cerca da minha casa Ao orvalho...e às géis flores do campo
Aqui continuo
E não poderão derrubar-me
Todas as minhas dores
Aqui permaneço
Com vocês
No meu coração
E com os dentes
Defenderei cada polegada da terra da pátria
Com os dentes

terça-feira, 28 de abril de 2009

REFLEXÕES DA MADRUGADA

A Paciência é diretamente proporcional ao Propósito. Se você realmente quer,
sabe o que quer,você tem Paciência
*******
O HOMEM PRETENDE SER IMORTAL E PARA ISSO DEFENDE PRINCÍPIOS EFÊMEROS. UM DIA,INEXORAVELMENTE, DESCOBRIRÁ QUE PARA SER IMORTAL DEVERÁ DEFENDER PRINCÍPIOS ABSOLUTOS.NESTE DIA, MORRERÁ PARA A CARNE, EFÊMERA, E VIVERÁ PARA O ESPÍRITO, ETERNO. SERÁ IMORTAL
*******
Conta certa lenda, que estavam duas crianças
patinando num lago congelado. Era uma tarde nublada
e fria e as crianças brincavam despreocupadas.
De repente, o gelo se quebrou
e uma delas caiu,ficando presa na fenda que se formou.
A outra, vendo seu amiguinho preso
e se congelando, tirou um dos patins
e começou a golpear o gelo com todas
as suas forças, conseguindo por fim
quebrá-lo e libertar o amigo.
Quando os bombeiros chegaram
e viram o que havia acontecido,perguntaram ao menino:
- Como você conseguiu fazer isso?
É impossível que tenha conseguido quebrar o gelo,
sendo tão pequeno e com mãos tão frágeis!
Nesse instante, um ancião que passava pelo local,comentou:
- Eu sei como ele conseguiu.
Todos perguntaram:
- Pode nos dizer como?
- É simples - respondeu o velho.
- Não havia ninguém ao seu redor,
para lhe dizer que não seria capaz.
Autoria desconhecida

domingo, 26 de abril de 2009

RESISTÊNCIA NACIONAL IRAQUIANA LEGÍTIMA REPRESENTANTE DO POVO IRAQUIANO

É motivo de júbilo para todos os povos, a valentia e a coragem do Povo Iraquiano
Faz-se mister reforçar a saudação à Heróica Resistência do Povo Iraquiano, Palestino e todos os Povos que combatem por sua Liberdade em todo o Mundo.

Viva a Heróica Resistência do Povo Iraquiano

Porta-voz da Resistência Iraquiana esteve em Lisboa


A Resistência Iraquiana não se deixa iludir pelas promessas de Obama. E continuará a lutar até à saída do último soldado estadunidense e à justa indenização do Povo Iraquiano pelos danos e os crimes dos EUA.
A convite do Tribunal-Iraque, esteve em Lisboa, o Dr. Abu Mohamad, médico iraquiano exilado na Síria, porta-voz oficial da Frente Nacional da Resistência Iraquiana (FNRI).

Num encontro informal com activistas da solidariedade com o Iraque, explicou a evolução da situação politica e militar no terreno e o programa político da Resistência.

O Dr. Abu Mohamad usou de forma sistemática a palavra colonização para se referir à ocupação do seu país pela coligação dos EUA.
O Passa Palavra, dada a importância da situação no Iraque e da Resistência Popular daquele país ao invasor-ocupante, limita-se aqui a transcrever os principais aspectos da intervenção e das respostas de Abu Mohamad às questões que lhe foram colocadas, em que sublinhou que a ocupação não é apenas militar.


“A ocupação é uma colonização”

“Não se tratou apenas de uma colonização militar. Se fosse assim, derrubava Saddam Hussein e saía do Iraque.

Sabemos que a presença americana era para um projecto mais alargado, no Iraque, na zona e, se calhar, no mundo inteiro. Por isso destruiu o Estado Iraquiano e as cidades iraquianas. Destruiu todas as instituições nacionais, para pôr no [seu] lugar instituições americanas.
“Essas instituições, as políticas sociais, os valores sociais fundamentais que os iraquianos sempre aprenderam – foi tudo mudado. Há uma estratégia para colocar novos valores e éticas na sociedade iraquiana. Foi instalado um governo, um parlamento, para realizarem este projecto. Acordos políticos, leis novas, para garantir os interesses americanos no Iraque.
“Uma das primeiras causas para eles estarem lá é controlarem o petróleo.
O Iraque está em cima de um lago de petróleo e tem as maiores reservas mundiais, em primeiro lugar antes da Arábia Saudita.
“Mas não tem só riqueza em petróleo. Tem uma grande riqueza histórica, um valor enorme na história e na origem da civilização humana.
Com mais de 7 mil anos de história, foi durante muitos séculos a capital do mundo e as primeiras civilizações nasceram lá.
“Hoje, quem tem o controle do petróleo tem o controle da energia básica do mundo que é o pilar da economia. Controlar a economia internacional é controlar o bocadinho de pão que vai haver para toda a gente neste momento.
“É este o primeiro objectivo da América com a colonização do Iraque.”

Resistência desde a primeira hora

A resposta do Povo Iraquiano a esta ocupação-colonização foi desencadeada desde a primeira hora, sem hesitações. Primeiro consistiu em atrasar o processo de colonização, com a resistência ainda organizada numa multitude de pequenos grupos dispersos.
Numa segunda fase, com o esforço de unificação politico-militar desses grupos, foi-se definindo um projecto político próprio da Resistência, com as condições para a retirada dos ocupantes e para o período de transição pós-retirada, assim como o tipo de regime (democrático e laico) a vigorar em seguida.

“Os EUA ficaram paralisados, sem solução, graças à Resistência e às baixas que causou.

Os números que vou referir são do Pentágono: há mais de 4.500 soldados mortos e 40.800 feridos. Destes, 3.000 morreram depois e 2.000 ficaram com problemas mentais. Mas os números da Resistência ultrapassam estes, porque o Pentágono não conta com os seguranças privados.

“A Resistência já neutralizou mais de um terço das forças armadas americanas, e causou muitos danos na economia americana, que foram uma das razões que levaram à crise económica mundial que está a causar o desemprego em todo o lado.
Os relatórios da administração americana dão conta de que os custos desta guerra chegam a 2 triliões de dólares. Cada hora que passa custa 10 milhões de dólares.”

O que é a Resistência Iraquiana?

“A Resistência Nacional Iraquiana tem um papel enorme nisto tudo, porque conseguiu pôr um travão no projecto de colonização global americano.
“A Resistência representa todo o Povo Iraquiano. Não está a lutar contra os americanos por serem americanos. Está a lutar contra os americanos por estarem a colonizar o nosso país.
Abrange todas as classes e todas as componentes da sociedade.
Há árabes, há curdos, há turcomanos; há muçulmanos, há cristãos.

Tem o apoio de 90% do Povo Iraquiano.

Estes dados foram anunciados pela CNN e pela USA Today.
Perguntaram aos iraquianos – muçulmanos, xiitas, sunitas, curdos, árabes – e chegaram à conclusão de que os que recusam a colonização americana representam 89% do Povo Iraquiano.

“A Resistência começou com facções divididas - como primeira reacção à colonização do exército americano – que já se começaram a unir para formarem duas frentes de luta.

“A Frente Nacional Islâmica do Iraque, com 36 secções militares e representação dos partidos que estão contra a presença americana, representa a maioria da resistência. Fazem parte dela a maioria dos moderados iraquianos, mesmo os sunitas cristãos.
A segunda frente, menos de 10% da Resistência, é composta por facções islamistas, com tendência para serem fundamentalistas.
O que une a Frente Nacional (que represento) e a Frente Islamista é o objectivo comum: libertar o nosso país.”

Um programa político para um Iraque livre

“A Frente Nacional Iraquiana tem um programa político muito claro. Tanto para a luta pela libertação, como para depois da colonização.
A cultura geral dos iraquianos é uma cultura humanista moderada.
Suponho que, quando houver eleições depois da partida das tropas, quem vai ganhar vai ser a Frente Nacional porque representa melhor a maneira de ver e de pensar dos Iraquianos.

“É por isso que o Programa da Frente Nacional Islâmica do Iraque, em que a maior força é o Partido Baas Nacional Iraquiano, tem como base:

libertar o Iraque, uma libertação total e completa. Organização do Iraque, o Estado e o povo. Libertação dos reféns e dos prisioneiros das prisões do governo iraquiano e das dos americanos. Anulação de todas as leis e decisões tomadas durante a colonização. Depois, a instalação de um regime iraquiano democrático, com participação dos partidos não comprometidos com a colonização. Terá de haver um período transitório de dois anos, com num governo provisório, para anular as consequências da colonização, instalar os serviços para os cidadãos iraquianos e preparar uma Constituição iraquiana independente da presença americana; bem como estabelecer uma lei que organize a vida dos partidos e as eleições. E, depois, realizar eleições.

“A FNI manterá as melhores relações com os países da zona e garante os interesses internacionais e a amizade com todos os povos da região e do mundo. E mesmo os interesses dos EUA, se aceitarem indenizar o Povo Iraquiano e pedir-lhe desculpas por todos os crimes cometidos contra ele.”
Obama pode estar muito enganado

“O novo presidente dos EUA tinha prometido na campanha eleitoral retirar as tropas e acabar com a colonização do Iraque.
O texto de Obama diz: “Vou entregar o Iraque ao seu povo”.
Se o senhor Obama considerar que o povo do Iraque são o presidente do actual governo e as pessoas que o rodeiam – todos sabem que essas pessoas estão ao serviço da colonização –, então deve estar completamente enganado relativamente à realidade.

O Povo Iraquiano é representado pela Resistência Iraquiana e por aqueles que a apoiam que, como já disse, são 90% da população.

“Segundo as leis internacionais, neste momento não há nada legítimo no Iraque a não ser a Resistência.

O artigo 51º da Carta das Nações Unidas diz que, quando um país está colonizado por parte de outro Estado, a resistência é completamente legal e legítima. E tudo o que for feito pela colonização é ilícito.”

Uma invasão baseada em mentiras, uma ocupação ilegal e desumana

“A colonização americana foi um acto ilegal, baseado em razões que já se provou que eram erradas. Falou-se de armas de destruição massiva e já se provou que não havia essas armas. Quanto à relação entre o regime iraquiano e a Al-Qaida, já está provado que não havia nenhuma. Disse-se que eles foram lá para estabelecer a democracia porque tínhamos um regime ditatorial.

Essa democracia transformou-se em crimes e em roubo de receitas públicas, em violações das mulheres e falta de respeito pelos direitos humanos; deslocação de mais de 5.000 iraquianos, a maioria estudiosos, cientistas, levados a sair do país. Mais de 5.000 médicos, engenheiros, professores, assassinados. Mais de um milhão e meio de iraquianos mortos. Mais de três milhões de pessoas perseguidas, com a acusação de pertencerem ao Partido Baas – a maioria delas com nível universitário. Um milhão de viúvas e de órfãos.”

Destruição da economia, dos serviços e do ambiente

“As fábricas foram fechadas, foi desinstalada a maioria das máquinas e ninguém sabe onde estão. A maioria dos médicos e dos engenheiros, pessoas com possibilidade de produzir, estão no desemprego. A percentagem do desemprego é de 62%.
“Não há agricultura. Tudo é importado do Irão, da Síria, da Jordânia – mesmo bens de base como tomates, cebolas. Não há serviços. Não há electricidade há seis anos. Os geradores, básicos para ter electricidade, não podem funcionar porque não há energia. É irónico dizer-se que o Iraque está em cima de um lago de petróleo e nem sequer termos uma gotinha de combustível em casa para termos energia. Todas as fábricas de acessórios foram destruídas.

“Estão a roubar o petróleo bruto sem darem conta a ninguém; não há registo das quantidades de petróleo que estão a sair do Iraque.

Em 1989, o Iraque recebeu o prémio para o melhor sistema de saúde no Médio Oriente, dado pela Organização Mundial de Saúde, em função do número de médicos, do rendimento, dos diplomas, tendo em conta o número de hospitais existentes e os serviços oferecidos aos cidadãos. Já não havia doenças contagiosas no Iraque há muito tempo. Hoje, por causa das águas mal tratadas, começamos a ter epidemias, problemas do fígado, e outras doenças que já não tínhamos há muito tempo. O nível dos serviços médicos no Iraque está numa decadência total, e continua porque já não temos médicos, já foram mortos ou perseguidos mais de 7.000 médicos, a maioria deles estão fora do Iraque, nem temos meios básicos para prestar serviços médicos adequados às pessoas.


“O ambiente está completamente poluído por causa do urânio e do fósforo branco usado pelos americanos na invasão. Há muitos casos de pessoas com cancro ou com problemas genéticos.

“Como é que é possível, depois disto tudo, continuarem a dizer que estão lá para instalar a democracia?

O próprio George Bush admitiu que as informações que tinha para desencadear esta guerra eram informações erradas.”

O governo de Obama não está interessado em acabar com a colonização do Iraque

“Então, não seria justo, não seria o mínimo, o actual presidente admitir que esta guerra foi errada e pedir desculpa ao Povo Iraquiano?
A um país que foi completamente destruído?

Não é um direito do Iraque e dos iraquianos, segundo as leis internacionais, não é um direito da humanidade ver os responsáveis por estes crimes serem julgados?
E que o povo seja indenizado por tudo o que sofreu?

“O senhor Obama não admitiu o erro cometido com esta guerra no seu discurso, quando falou da situação no Iraque. Mas disse que vai deixar 50.000 soldados até ao fim de 2011.
O ministro da Defesa americano disse que é possível ficarem para além de 2011.

“O senhor Obama não falou dos mais de 200.000 soldados que não pertencem às forças armadas e que estão a actuar no Iraque.

Vão também sair até 2011?
Participam em todos os combates ao lado das forças armadas. Têm armas, tanques, aviões, capacidade para ferir as pessoas e garantir a segurança das cidades onde estão. Qual é o interesse de retirar 100.000 soldados e deixar mais de 200.000 – cuja morte não é anunciada nas fontes oficiais, porque não têm nacionalidade americana, mas são pagos pelas forças americanas para garantir a sua presença lá?

“Esta é a posição da Resistência perante o último discurso do senhor Obama.
Não falou do destino de 50 bases aéreas que estão no Iraque – três delas consideradas das maiores no mundo. Helicópteros e aviões militares. Milhares de soldados, conselheiros, responsáveis americanos colocados nos ministérios e nas instituições políticas do actual governo iraquiano. Que será feito desses? Vão continuar no Iraque?

“Não é isto suficiente para concluir que a administração Obama não está interessada em acabar com a colonização do Iraque?
E que vão continuar esta colonização sangrenta?
Então?
Acham que nós já não temos razão para continuar a nossa luta, a nossa Resistência?”

A Resistência continua

O Povo Iraquiano vai continuar a luta, sejam quais forem os sacrifícios e as perdas.Até à saída do último soldado americano. Este é o único caminho para nos salvarmos.

“Os americanos estão a retirar os soldados das ruas, porque têm medo da Resistência, mas passaram a utilizar aviões para se deslocarem dentro do território iraquiano. Ainda ontem houve um ataque a uma cidade e foram presos muitos cidadãos, com a explicação de que estavam ali responsáveis da Resistência, informações que têm através de pessoas que trabalham para as forças armadas americanas.

“Se a nova administração americana respeita a legislação internacional, se está mesmo interessada em respeitar os valores humanos e as exigências dos conflitos internacionais – tal como o senhor Obama disse na rádio, que ‘vai difundir os verdadeiros valores americanos’ –, então será uma prova de coragem assumir a responsabilidade desta guerra que o senhor Bush iniciou. E que respeite realmente os direitos do Povo Iraquiano. E que o Iraque e o seu povo sejam indenizados pelos danos que sofreram. E que se afastem completamente do Povo Iraquiano. E que tenham negociações com a Resistência Nacional Iraquiana. Para que possamos instalar um novo regime iraquiano democrático. Para que possamos evitar a presença iraniana e o terrorismo no nosso território.

“A Resistência Nacional, quando estiver no poder, vai lutar contra o extremismo iraniano e o terrorismo, para que o Iraque possa ter a sua serenidade. E toda a zona também. Para que possamos garantir todos os interesses dos países nesta região com um valor enorme para todos. Se acontecer o contrário, os conflitos vão continuar nesta zona. E toda a gente vai perder os interesses que tem naquela zona.”

O aliciamento de chefes de tribo para o lado dos EUA

Para tentarem suprir as enormes dificuldades que os impedem de controlar grandes regiões do país, os ocupantes lançaram em 2007 uma campanha de aliciamento de chefes tribais para, a troco de dinheiro, se encarregarem de organizar o enfrentamento e o policiamento locais contra a Resistência. É o chamado Movimento Despertar. Baseia-se numa estrutura tradicional das tribos, com costumes e chefes próprios, que o regime do Baas conseguira secundarizar num primeiro tempo, com a laicização do Estado e a democratização dos serviços e dos sistemas de educação, transportes e saúde pública. Todavia, durante os 12 anos de embargo imposto ao país, entre 1991 e 2003, o próprio Saddam recuperou essa estrutura do tecido social como forma de compensar o deperecimento do Estado central.
Questionado sobre o Movimento Despertar, Abu Mohamad disse que “os americanos não estão a conseguir resolver os problemas de maneira militar. Já não conseguem deter a Resistência. Sendo assim, têm de procurar outras soluções. Pagam milhares de dólares aos chefes de tribos iraquianas para conseguirem apoio. Distribuem armas e fazem alianças, a que chamam “Sahwat” [Despertar], com o objectivo de dividir o povo e fomentar a guerra civil. Incentivam estes chefes para que sejam eles a perseguir a Resistência Nacional Iraquiana. E usam o termo de sempre: “terroristas”.
Antes da colonização não se falava de terrorismo, não tínhamos nada a ver com as redes terroristas. O terrorismo veio com a colonização, com as tropas americanas.
A Resistência Nacional não tem nada a ver com o terrorismo. Está contra o terrorismo e luta com todos meios contra o terrorismo e os terroristas. Foram os americanos que implantaram o terrorismo no Iraque para tentarem destruir os primeiros movimentos da Resistência. Agora lançaram este movimento que se chama Sahwat, comprando os acordos com milhares de dólares, dizendo aos iraquianos que devem lutar contra o terrorismo.
Infelizmente algumas tribos iraquianas integraram-se nesta união porque nas suas regiões não há trabalho, não há nada para fazer. Como já foi dito, mais de 60% dos iraquianos estão desempregados.

“Nós já sabíamos que os americanos estavam a jogar esta carta para dividir o povo iraquiano. A maioria dos que fizeram parte desta organização Sahwat, já deixou de trabalhar a favor das forças americanas. O resto são pessoas que são mesmo compradas pelo dinheiro americano.”

Os sindicatos iraquianos

Questionado acerca da situação dos trabalhadores e do papel dos sindicatos no Iraque actual, Abu Mohamad respondeu: “Segundo a lei internacional, todas as organizações – políticas, desportivas, etc. – criadas pela colonização são ilegais e não têm legitimidade para funcionar. Com a colonização, todos os sindicatos iraquianos deixaram de existir. Não existem por causa de tudo o que aconteceu, a deslocação, a morte das pessoas, as condições complicadas que se estão a viver. E todos os partidos que vieram com a colonização ajudaram a dividir estas associações segundo os interesses de cada partido, independentemente do interesse geral. Chegaram a usar armas entre essas instituições, segundo o interesse dos partidos. Sendo assim, todas as instituições sindicais já estão destruídas.

“Além disso, os Iraquianos não precisam de sindicatos, sobretudo ao nível dos funcionários, dos trabalhadores e dos agricultores. Agora, para trabalhar, a única hipótese é fazer parte do corpo de polícia ou das forças armadas. Todas as fábricas foram destruídas. E o desemprego representa mais de 60%. Então qual é a nossa necessidade de ter sindicatos?

“A função principal dos sindicatos é defender os interesses dos trabalhadores e dos agricultores perante um regime político.
No Iraque, não temos o nosso regime, não temos o nosso Estado, e não temos trabalhadores nem agricultores. Esta é a nossa realidade no Iraque.”



sexta-feira, 17 de abril de 2009

O DESPERTAR DA VERDADE

O Sufismo tem sido reconhecido há muito tempo como representantes da espiritualidade e detentores dos conhecimentos e práticas do caminho místico, no despertar da espiritualidade humana, e no resgate da relação do ser humano com o Divino, na busca do desenvolvimento pleno de sua consciência e suas infinitas potencialidades.
O Sufismo contém elementos comuns de outras tradições e pode dar continuidade à elas incorporando-as dentro de seu processo.
O Sufismo tem um caráter universal, mesmo estando ele ligado ao contexto do mundo Islâmico.
Encontramos no Sufismo aspectos das tradições da antiga Pérsia, Egito, Grécia, e outras. Vemos dentro de seus conhecimentos e práticas um conhecimento mais amplo que praticamente sintetiza os elementos mais diversos.
O Sufismo tem como objetivo o retorno do ser humano à sua dimensão mais perfeita aproximando-o ao Divino, como qualquer caminho místico verdadeiro.
O Sufismo foi o grande responsável por introduzir no Islã um grau cultural que acabou por influenciar o próprio Ocidente durante a Idade Média.
O Sufismo influenciou tanto Cristãos e Judeus como as escolas esotéricas.
Também influenciou a filosofia, com a tradução dos textos dos filósofos gregos e em todo o desenvolvimento posterior, nas ciências, na medicina, na matemática, na astronomia e nas Artes através da influência moura.
Os primeiros Sufis apareceram alguns anos após a morte do profeta Maomé.
Eram indivíduos que se retiraram para o deserto ou para locais sem evidência, para preservar e dar continuidade aos conhecimentos que receberam. À eles Maomé teria confiado os aspectos mais esotéricos doconhecimento que possuía, a dimensão mais mística ou espiritual.
Em contato com outras tradições, estes primeiros sufis foram os maiores responsáveis pelo desenvolvimento da dimensão mística do Islã, e aos poucos foram formando escolas e ganhando importância como os verdadeiros representantes da espiritualidade. Começaram a ser conhecidos como Sufis e inseriram suas escolas na comunidade.
fonte: http://www.nokhooja.com.br/temas/sufismo/sufismo_grande.pdf
A melhor aproximação na definição de Sufismo reside em um de seus próprios atributos, o Caminho.
Uma via que dá acesso ao "Ser Humano Desperto".
O Sufismo considera o homem atual não plenamente no gozo das qualidades e atributos a que afirma ter direito e uso.
O seu comportamento poderia ser qualificado de "Sono".
Para despertar esse homem, o Sufismo dispõe de um arsenal de meios, métodos e processos.
Existem princípios que permitem a escolha correta.
O princípio do tempo correto, do lugar correto, de pessoas corretas, de situação social correta e a presença de um mestre preparado.
Reais progressos, segundo os sufis, só podem ser realizados sob a orientação de um mestre vivo e atuante.
A aproximação ao Sufismo feita através de livros, palestras e discussões é mera aproximação.
O Sufismo é um processo vivencial e experimental que, sob as orientações de um mestre qualificado, dentro das condições de tempo, lugar e situação social e pessoal realiza a transformação do ser humano, de forma a levá-lo a um aperfeiçoamento, cujo produto final é conhecido como Sufi.
Este processo não entra em conflito com as necessidades, disposições, realizações e realidades, do mundo exterior ao indivíduo.
Um sufi pode existir em qualquer lugar.
O Sufismo é a essência absoluta de todas as religiões.
Sempre que uma religião se torna viva é por causa do Sufismo.
Sufismo significa simplesmente um caso de amor com o supremo, um caso de amor com o todo.
Sufismo é a arte de remover obstáculos entre você e você, entre o self e o self, entre a parte e o todo.
Ele não conhece formalidade.
Um sufi é um sufi.
Não há como definí-lo.
Através da mente e do intelecto não é possível conhecê-lo.
Você pode apenas vivenciá-lo.
A única maneira de saber o que é um sufi.é tornar-se um deles.
O Sufismo só pode ser transferido de pessoa a pessoa e não a partir de um livro.
É uma transmissão além das palavras.
Os sufis tem uma palavra especial para isso que é Silsila.
Silsila significa uma transferência de um coração a outro coração, de pessoa a pessoa.
O Sufismo é muito pessoal.
Um sufi tem de obter uma inocência primal.
Ele tem de abandonar todos os tipos de cultura, condicionamento.
Ele tem de se tornar novamente um animal.
Sufi significa lã, na raiz da palavra alemã e árabe.
Quando você escolhe que isto é bom e aquilo é mau, você permanece dividido.
Um sufi não conhece escolha.
Ele é consciente sem escolha.
O que quer que aconteça, ele aceita como uma causa dada por Deus.
Ele confia na mente universal.
A palavra sufi pode ser derivada de sufa - pureza, limpeza, purificação.
Quando você vive uma vida sem escolhas, surge uma pureza natural no sentido de ser divino.
Para um sufi Deus não é uma idéia.
É sua realidade vivida.
Esta realidade não está em algum lugar no céu.
Ela está aqui e em todos os lugares, agora.
Deus é apenas um nome para a totalidade da existência.
A palavra sufi pode ser derivada de outra palavra, sufia, que significa escolhido como amigo de Deus.
A sabedoria surge através do seu próprio ser.
Você é a luz de si mesmo.
O Alcorão diz que três qualidades tem de estar no coração do buscador.
A humildade, a caridade e a verdade (autenticidade).
Estes são os três pilares do Sufismo.
Humildade define o homem que entendeu todas as formas do ego, não do desejo.
Caridade aparece quando você, a partir da sua abundância, compartilha a alegria de dar tal como a flôr dá o seu perfume.
O sufi vive no momento e esse pequeno momento torna-se luminoso através da concentração de energia.
O Sufismo é o caminho do amor e do sentimento.
Sufismo é o despertar do coração.
Os sufis são aqueles que tem coração.
O coração é a faculdade de perceber o bem amado.
Só atravéz do coração você realiza a vida.
É como uma celebração.
O Sufismo é uma grande celebração.
Um sufi lhe dá métodos, não doutrina.
Os sufis são chamados "O povo do caminho" e eles dizem: Trabalhem o método!
Para seguir um método a pessoa precisa estar em busca.
Um mestre vivo lhe dará apenas uma visão do que é possível.
Então você começa a trabalhar por si mesmo.
Cada um tem de encontrar sua própria disciplina.
Existem três planos: corpo, mente e alma.
O primeiro é sharia, que significa o corpo da religião.
O ritual, o formal e mais social do que espiritual.
Sharia é o núcleo superficial da religião.
Sharia é a circunferência de um círculo.
A segunda camada é hagiga. É o centro da circunferência, a alma da religião e a essência.
O terceiro plano é a tarica que significa o caminho, o método, de fora para dentro.
Só um raio pode ligar a circunferência ao centro e os raios são as pessoas do caminho, que transmitem muitas técnicas.
Tárica é levar a pessoa até a verdade para que ela possa ver por si mesma.
Cada degrau tem de ser celebrado.
O sufi dá a você o conhecimento sobre tárica, sobre o método mas não dá a você conhecimento sobre princípios.
Os sufis dizem que se um homem não tem consciência, nada pode ser ensinado.
Sufi significa consciência na vida, conciência num plano mais elevado do qual normalmente vivemos.
Um mestre não reajusta a sua mente, ele o ajuda a dissolvê-la livre de condicionamentos, leis, sociedade.
Ele lhe dá liberdade.
Quando a pessoa começa a se perguntar o que é a religião verdadeira, o que é o verdadeiro Deus, ela se transforma em um buscador sufi.
Não há nenhum significado existindo na vida. Alguém tem de criá-lo.
A verdade religiosa não é uma coisa.
É um significado e um sentido.
Cada pessoa ir atrás dela para descobrí-la e explorá-la.
O conhecimento é uma teoria;
o conhecer é uma experiência;
conhecer quer dizer que você abre os olhos e você vê .
Conhecimento significa que quem abriu os olhos viu e fala sobre isso e continua a acumular informações.
Os sufis dizem que se uma pessoa quer renunciar a algo, deve renunciar ao conhecimento que acumulou na memória.
Essa é a verdadeira barreira para se tornar como crianças, um inocente.
Toda a existência é de cada pessoa.
Ela deve explorá-la sem nenhum preconceito e filosofia mantendo a mente aberta. e assim ficará surpresa por descobrir que Deus existe.
A existência é um mistério, o imprevisível está em todo lugar.
O corpo é a alma visível e a alma é o corpo invisível.
Contemplação Sufi significa pessoas sentadas em profunda recordação de Deus.
Apenas sentadas silenciosamente observando a fonte fluindo energia.
O que vier do mestr,e a pessoa está pronta para recebê-la.
Baraka, a graça, está sempre fluindo do mestre.
Se você estiver aberto, você será preenchido por ela.
Você pode beber da fonte do seu mestre, onde quer que você esteja.
Meditação é um meio de ir para dentro de si mesmo, na profundidade onde os pensamentos não existem.
Fonte: Sufis, o povo do caminho - Livro de Osho.

O ERMITÃO
Durante o reinado do rei Mabdar viveu na Babilônia um jovem chamado Zadig.
Era formoso, rico e naturalmente de bom coração.
No momento em que esta história começa ele estava viajando a pé para ver o mundo e aprender filosofia e sabedoria.
Mas até esse momento tinha encontrado tanta miséria e suportado tantos e terríveis desastres que estava tentado a rebelar-se contra a vontade do céu e acreditar que a Providência, que rege o mundo, desdenhava o Bem e permitia que o Mal prosperasse.
Neste triste estado de espírito estava ele caminhando um dia às margens do Eufrates.
Por causualidade, encontrou um venerável ermitão cuja barba, branca como a neve, descia até a cintura.
Em sua mão o ancião levava um rolo de pergaminho que lia com atenção.
Zadig parou e fez-lhe uma reverência.
O ermitão devolveu-lhe a saudação com um ar tão bondoso e tão nobre que Zadig sentiu curiosidade de falar com ele.
Perguntou-lhe então o que ele estava lendo:
- É o Livro do Destino - Disse o ermitão.
- Você gostaria de ler este livro?
Entregou o livro a Zadig, mas este, apesar de conhecer uma dezenas de línguas, não pôde entender uma só palavra do livro.
Sua curiosidade foi aumentando.
- Você parece ter problemas... - disse o bondoso ermitão
.- Sim, infelizmente tenho - disse Zadig.
- E tenho razões para estar assim.
- Se me permite - disse o ancião, - eu o acompanharei.
Quem sabe poderei ser-lhe útil.
Ás vezes sou capaz de consolar os aflitos.
Zadig sentiu um profundo respeito pela aparência, a barba branca e o pergaminho misterioso do velho ermitão, e percebeu que a conversa dele era de uma mente superior.
O velho falou do destino, da justiça, da moral, do principal bem da vida, da debilidade humana, da virtude e do vício, com tal poder e eloquência que Zadig se sentiu atraído por uma espécie de encanto, e suplicou ao eremita que não o deixasse até que regressassem à Babilônia.
- Peço-lhe o mesmo favor - disse o ermitão.
- Prometa-me que, haja o que houver, você permanecerá em minha companhia por alguns dias.
Zadig prometeu, e juntos se puseram em marcha.
Naquela noite os viajantes chegaram a uma grande mansão.
O eremita pediu comida e alojamento para ele e seu companheiro.
O porteiro, que poderia ser confundido com um príncipe, os introduziu com um desdenhoso ar de boas-vindas.
O chefe dos serventes lhes mostrou os magníficos aposentos, e então lhes foi permitido sentar-se em um canto da mesa, na qual estava o senhor da mansão, que nem se deu ao trabalho de olhá-los.
Mesmo assim, iguarias em abundância lhes foram servidas, e depois de cear lavaram as mãos em uma bacia de ouro incrustada com esmeraldas e rubis.
Foram então levados para passar a noite em um formoso aposento.
Na manhã seguinte, antes de deixarem o castelo, um servente trouxe uma peça de ouro para cada um.
- O senhor da casa - disse Zadig quando estavam caminhando - parece ser um homem generoso, ainda que um pouco arrogante, e pratica uma nobre hospitalidade.
Enquanto falava ele se deu conta de que uma espécie de bolsa grande que o eremita levava parecia agora abarrotada.
Dentro dela estava a bacia de ouro incrustada de pedras preciosas que o velho havia furtado.
Zadig ficou pasmo, mas não disse nada.
Ao meio-dia o eremita parou em frente a uma pequena casa onde vivia um rico avarento e, mais uma vez, pediu hospedagem.
Um velho criado, usando um puído casaco, os recebeu muito grosseiramente, acomodou-os no estábulo e pôs diante deles umas poucas azeitonas meio estragadas, uns pedaços de pão dormido e cerveja muito amarga.
O ermitão comeu e bebeu com o mesmo prazer que tivera na noite anterior.
Quando terminaram o ermitão se dirigiu ao criado, que não havia tirado os olhos deles para assegurar-se de que nada roubariam, deu-lhe as duas peças de ouro que haviam recebido naquela manhã e agradeceu a sua atenção, acrescentando:
- Tenha a bondade de permitir que eu veja seu amo.
O atônito servo os conduziu para dentro da casa.
- Poderosíssimo senhor - disse o ermitão, - eu gostaria de apresentar meus humildes agradecimentos pela nobre maneira com que nos recebeu.
Eu suplico que aceite esta bacia de ouro como demonstração de minha gratidão.
O miserável avarento quase caiu da cadeira, de tão assombrado que ficou.
O ermitão, sem esperar que ele se recobrasse, retirou-se rapidamente com seu companheiro.
- Santo Pai - disse Zadig, - o que significa tudo isso?
Para mim você não se parece em nada aos outros homens.
Você rouba uma bacia de ouro com jóias de um senhor que nos recebe magnificamente e a dá a um tacanho que o trata indignamente.
- Meu filho - replicou o ermitão, - esse poderoso senhor que só recebe os viajantes por vaidade e para ostentar suas riquezas de agora em diante se fará mais sábio, e, por outro lado, o miserável será ensinado a praticar a hospitalidade.
Não se espante com nada, e siga-me.
Zadig não sabia se estava tratando com o mais sábio ou com o mais tolo dos homens.
Mas o ermitão falou com tal convicção que Zadig, preso à sua promessa, não teve outra escolha senão segui-lo.
Naquela noite chegaram a uma casa agradável, de aspecto simples, que não demonstrava sinais de fartura nem de avareza.
O dono era um filósofo que havia abandonado o mundo e estudava, pacificamente, as leis da virtude e da sabedoria.
Era um homem feliz e contente.
Ele havia criado esse calmo refúgio para seu prazer e nele recebeu os estrangeiros com uma generosidade que não demonstrava sinais de ostentação.
Ele mesmo os conduziu a um quarto confortável, onde os fez descansar alguns instantes, e então veio buscá-los para servir-lhes uma delicada ceia.
Nas conversas que mantiveram entre si, concordaram que os assuntos deste mundo nem sempre eram regulados pelas opiniões dos homens mais sábios.
O ermitão, por sua parte, sustentava que os caminhos da Providência estavam envoltos em mistério e que os homens faziam mal em emitir julgamento sobre um universo do qual só conheciam uma parte muito pequena. Zadig se perguntava como uma pessoa que cometia atos tão loucos podia pensar tão corretamente.
Finalmente, depois de uma conversa tão agradável quanto instrutiva, o anfitrião conduziu os viajantes aos seus quartos e agradeceu ao céu por enviar dois visitantes tão sábios e virtuosos.
Ofereceu-lhes algum dinheiro, mas o fez com tanta franqueza que eles não puderam se sentir ofendidos.
O velho recusou e se despediu, pois desejava partir para a Babilônia ao nascer do dia.
Separaram-se em tom cordial, e Zadig estava cheio de agradáveis sentimentos por um homem tão amistoso.
Enquanto estavam em seu quarto, Zadig e o ermitão passaram algum tempo elogiando o anfitrião.
Ao amanhecer o ancião despertou seu companheiro, dizendo:
- Devemos ir.
Mas enquanto todos ainda estão dormindo desejo deixar a este digno homem um sinal de minha estima.
Com estas palavras, pegou uma tocha e deitou fogo à casa.
Zadig começou a gritar horrorizado e teria impedido esse terrível ato, mas o ermitão, com uma força superior, o deteve.
A casa se tornou uma fogueira, e o velho, que agora estava bem longe com seu companheiro, olhou calmamente para a pilha fumegante.
- Que o céu seja louvado! - Gritou.
- A casa de nosso amável anfitrião está destruída de ponta a ponta!
Ao ouvir estas palavras, Zadig não sabia se chorava ou se ria; se chamava o venerável de velhaco, se o golpeava ou se corria para longe dali, mas ele não fez nenhuma destas coisas.
Ainda subjugado pela aparência superior do ermitão, seguiu-o contra a sua própria vontade até a hospedagem seguinte.
Desta vez chegaram à residência de uma boa e caridosa viúva que tinha um sobrinho de 14 anos, sua única esperança e alegria.
Ela fez tudo o que pôde pelos viajantes.
Na manhã seguinte pediu a seu sobrinho que os guiasse na travessia de uma certa ponte em ruínas, perigosa de se cruzar.
O jovem os conduziu, ansioso por agradá-los.
- Venha - disse o eremita, quando eles estavam no meio da ponte,
- devo mostrar minha gratidão para com sua tia.
Enquanto falava, ele pegou o jovem pelos cabelos e o atirou no rio.
O jovem caiu, reapareceu por um instante na superfície da água e logo foi tragado pela corrente.
- Oh, monstro! - exclamou Zadig.
- Você é o mais detestável dos homens!
- Você me prometeu ter mais paciência - interrompeu o velho.
- Escute!
Embaixo das ruínas daquela casa que a Providência achou conveniênte pôr em chamas, o dono descobrirá um enorme tesouro; enquanto que o jovem, cuja existência a Providência cortou, teria matato a tia em um ano e a você em dois anos.
- Quem lhe disse isto, bárbaro? - gritou Zalig.
- Ainda que você tenha lido isso no Livro do Destino, quem lhe deu poder para afogar um jovem que nunca lhe fez nada?
Enquanto falava, Zadig viu que o ancião já não tinha mais barba e que seu rosto tinha se tornado jovem e belo. Seu traje de eremita havia desaparecido, quatro asas brancas cobriam a sua majestosa forma e brilhavam com ofuscante esplendor.
- Anjo do Céu! - gritou Zadig.
- Você então desceu do céu para ensinar a um mortal extraviado a submetrer-se às leis eternas?
- Os homens - replicou o anjo Jezrael - julgam todas as coisas sem conhecimento, e você é, de todos os homens, o mais merecedor de ser esclarecido.
O mundo imagina que o jovem que acaba de perecer caiu por acidente na água e que a casa do homem rico se incendiou por acaso.
Mas a casualidade não existe: tudo é prova, castigo ou profecia.
Frágil mortal!
Pare de questionar e de se rebelar contra o que você deveria adorar!
Depois de dizer estas palavras, o anjo alçou vôo até o céu e Zadig se prostou ajoelhado.
Retirado do livro “Histórias da Tradição Sufi”Edições Dervish – 1993 – Instituto Tarika
"Nenhum de nós pode realmente ser livre até que todos nós sejamos."