Entrevista com Abdelyabar al-Kubaysi, secretário geral da Aliança Patriótica Iraquiana: IraqSolidari
Al-Basra, 28 de dezembro de 2005
Faça um resumo de seu período de detenção
Estive detido durante 16 meses no cárcere de Camp Cropper, situado no Aeroporto Internacional de Bagdá, onde também se encontra a maior base ianque do país. No início de minha detenção, os interrogadores ianques me mostraram pastas que diziam conter informações sobre mim desde 1960. Meu interrogatório durou seis meses e era, em sua quase totalidade, de caráter político. Inclusive me perguntaram sobre personalidades políticas árabes e estrangeiras. Na última parte do interrogatório me disseram que não acreditavam em nada do que lhes dizia. Minha resposta foi: "Isto é problema de vocês."
Nos primeiros seis meses de minha detenção me introduziram em uma cela construída em um habitáculo de madeira um pouco maior. Mas passei os primeiros dias em uma caixa (de madeira) onde cabia apenas meu corpo.
Depois desses 6 primeiros meses me transferiram para onde estavam os presos políticos.
Durante meu tempo de detenção eu pude falar com todos eles, com exceção de Tareq Aziz e Taha Yasín Ramadán 1, que via de longe, mas com quem nunca coincidia haver ocasião em que pudéssemos nos falar. Entre os com quem conversei muito estão Qays al-Aazami, Humam Abdel Kader, Humam Abdel Jalek, Abdel Ata-wab Hwich, Ahmed Mortada, Hus-sam Mohamed Amin, Sutam Alham-mud e Abd Hammud, além de vários oficiais dos serviços secretos iraqui-anos. Havia um total de 103 detidos neste cárcere.
Antes de nos colocar em liberdade nos perguntaram se tínhamos um destino de preferência. Eu e ou-tros cinco escolhemos Bagdá, ou- tros cinco Tikrit; outros escolheram Aman, inclusive as senhoras Huda Saleh Ammach e Rihab Taha, porque temiam ser assassinadas pelas milícias de Badr2.
Na prisão (do aeroporto de Bag-dá) há uns 65 detidos (dirigentes do governo deposto e do partido Baath) a espera de julgamento. Mas é provável que se liberte alguns deles, como Mohamed Mahdi Saleh (que foi ministro de Comércio), Abdel Atawab Hwich e Saad Abdel Majid al-Faysal (ex-funcionário do ministério do Exterior), Fadel Mahmud Gharib e Jalil Sarhan (membros da direção do Partido Baath), e Hamed Challah (comandante das Forças Aéreas). São um total de 12 os detidos que ainda não compareceram perante nenhum juiz, mas é possível que acabarão por fazê-lo no futuro.
O que caracteriza essencialmente a este centro (de detenção) é que está totalmente isolado do resto do mundo. O preso não vê mais que aos soldados ianques - ainda que posteriormente me permitiram contactar com minha família durante dez minutos a cada 40 dias e o mesmo fizeram com os demais detidos, que podiam ver sua família durante 20 minutos a cada quatro meses. Estas medidas afetavam todo mundo.
Que tratamento recebeu dos ocupantes durante os dias anteriores a sua libertação?
Antes de minha libertação os ianques pediram que eu assinasse uma declaração contra a violência e comprometendo-me a não atuar contra o governo iraquiano e as forças multinacionais de ocupação, estar contra qualquer atividade contra eles e comprometer-me de tudo isso ante as forças de segurança iraquianas, além de deixar de expressar-me politicamente nos meios de comunicação durante um ano e meio.
Perguntei-lhes se pretendiam que acabasse trabalhando como confidente e me neguei a assinar aquele documento. Também disse a um general ianque que se havia passado tanto tempo preso é porque havia rechaçado o que estavam me propondo agora, e perguntei se a estas alturas pretendiam me converter em seu espião. E acrescentei: imagina você que eu possa calar-me sobre o que se está passando em meu país? Abandonei então a sala de interrogatório e me dirigi a meu módulo. O general me seguiu e disse: "Bem, assine o que quiser e rabisque o que quiser".
Entre os pontos que continha aquele documento havia um que se referia ao "apoio a uma reconciliação nacional num Iraque unido", e outro ponto que afirmava haver "sido informado de que o partido Baath foi proscrito por lei" 3. Outro ponto fazia referência a minha "disposição de comparecer ante à justiça, se assim fosse preciso" - ainda que durante todo o tempo que durou minha detenção sempre tenha enviado cartas ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) solicitando ou minha libertação ou meu julgamento diante de um juiz iraquiano - assinei dando meu consentimento a estes pontos e rasurei os demais.
Ao sair da prisão me entregaram um certificado de ter sido detido, no qual consta um telefone pessoal para o caso de os soldados decidirem me prender novamente.
Interrogatórios
Que tipo de discussões tinhas com os interrogadores?
Os interrogatórios e seus procedimentos eram fatigantes. Os interrogadores eram mudados constantemente e as sessões duravam mais de 20 horas, tempo que sempre passávamos com as mãos e os pés amarrados e os olhos vendados. Os interrogadores estavam formados por grupos de quatro ianques da CIA ou de outras instâncias e iam mudando constantemente.
Nos pediam informações sobre a resistência ou sobre as mesquitas de Faluja e outras questões concretas. Logo as discussões passaram a ser em torno da ocupação em si e do dinheiro roubado do Iraque (lhes disse em uma ocasião que eram uns ladrões e o interrogador me contestou que isso não era verdade; seguidamente lhe joguei na cara que ele, seu pai e seu presidente eram todos ladrões)
Para justificar minha detenção os interrogadores elaboraram umas acusações que não chegavam a ser crimes, porque sabiam que não era verdade, não porque eu me negasse a confirmá-las, pois consistia em que eu me dedicava a mobilizar as forças árabes e européias contra a ocupação, ou que eu havia feito reuniões com Saddan Husseim para organizar a ação da resistência para depois da ocupação4, ou que eu era coordenador político de islamitas, sadristas5 e baathistas, além de ser um teórico político da resistência.
Um dos interrogadores me apresentou alguns escritos meus como prova de que eu era um teórico político da resistência, textos nos quais eu havia abordado alguns pontos para criar as condições da expulsão dos ocupantes. Eu não neguei que alento a resistência até a expulsão do último soldado ianque e iraniano de meu país, mas, por outro lado, disse desconhecer quem faça parte da resistência.
Assim, havia escrito em algum artigo meu que eram necessárias quatro condições para poder acabar com a ocupação:
1 ampliar a geografia da atividade armada da resistência e fazê-la crescer para que se converta em uma resistência nacional sem denominações confessionais;
2 fomentar as ações qualitativas para infligir maiores danos aos ianques, tanto a nível humano como material;
3 que o Iraque não está isolado de seu entorno, nem pela história nem pela geopolítica (regional) e que, portanto tudo o que acontece no Iraque faria efeito em toda a zona, o que levaria os governos leais ao USA no Oriente Médio a formular (à administração Bush) o risco que suporia continuar ocupando o Iraque e as consequências do fortalecimento da resistência iraquiana, de tal maneira que o USA se dará conta de que a entidade sionista na Palestina , que ele tem protegido, fazendo a guerra por ele (Israel), estará em perigo; e
4 que o USA perdeu sua credibilidade e isto levará a sociedade estadunidense a rechaçar a ocupação e a guerra no Iraque.
Logo me perguntou: "Por que não luta contra a ocupação iraniana?", e lhe respondi que a ocupação iraniana se acabará um minuto antes de sua retirada do Iraque, porque é uma ocupação velhaca que chegou depois da ianque e deixará de existir no momento em que o exército ianque desmoronar e fugir do Iraque. É uma ocupação coberta pelo capacete do soldado ianque e sustentada nos serviços secretos iranianos e em organizações e instituições controladas por esses serviços, que recebem dezenas de milhões de dólares. E ele me respondeu "Então, é possível que estale uma guerra civil?". Eu lhe disse: "retirem-se e deixe-nos matarmos entre nós. No Iraque nunca sentimos que haviam chiitas e sunitas e só começamos a escutá-lo quando vocês chegaram e trouxeram o governo iraniano de Al-Jaafari e os partidos iranianos, mas mesmo assim tudo isso terminará quando vocês se retirarem de meu país. Vocês são os inimigos agora e tua expulsão é a única saída que temos e será por meio da resistência". Logo ele me insultou e eu lhe insultei e lhe disse que não podia fazer nada comigo a não ser que me desse um tiro na cabeça.
Depois veio outro interrogador da CIA e me disse que o Iraque estava em perigo, que o USA está empantanado e repeitavam muito a análise que fazíamos da situação. Me prometeu inclusive fazê-la chegar a Washington.
Torturas
O que ocorre neste centro de detenção, sobretudo com relação à tortura?
Eu pessoalmente não vi ninguém que tenha sido torturado, salvo os casos de quatro pessoas: Taha Yasín Ramadán, vice-presidente da República, porque vi seu corpo ensanguentado e o mesmo tentando curar-se com água e sal; Jamis Sarhan, membro da direção do Partido Baath e morador de Faluja; o Dr. Hazem Achaij Arrawi, um cientista do programa biológico; e Mohamad A-Saghir, oficial dos serviços secretos. E não estou me referindo à prática habitual de vendar os olhos e amarrar as mãos nas costas dos detidos, para logo juntá-las com os pés durante dias, metidos em cubículo de madeira dentro de outro buraco pequeno e escuro. Não, não me refiro a essas práticas, que sofremos durante todos os dias do interrogatório e que eu pessoalmente também sofri.
É preciso destacar também que nem para comer nos desamarravam as mãos, nem nos tiravam as vendas dos olhos. Apenas em lugar de amarrar nossas mãos nas costas o faziam para a frente e aí era preciso comer como um cego. A comida durava dez minutos e depois as mãos voltavam a ser amarradas atrás.
Conheceu alguém que tenha sucumbido à tortura?
Sim, várias pessoas morreram sob tortura, entre eles Adel Al-Duri, que tinha mais de 60 anos e era membro da direção do partido Baath; Hamza Zubaidi, ex-primeiro-ministro, que tinha mais de 70 anos de idade; e Waddah Achaij, um oficial de serviços secretos, que tinha uns 58.
Havia quantas pessoas detidas no cárcere?
Há 103 detidos, além de membros da resistência que foram isolados em um pavilhão à parte, como eu durante os primeiros seis meses. [Este grupo] chegou a estar composto por uns 17 detidos e 9 detidas.
Quando fui libertado, eles seguiam isolados e não sabemos nada do que se lhes inflige.
Aparte a tortura, havia também tentativas de subornar os detidos? Recebeu alguma oferta nesse sentido?
Desde o começo, me ofereceram dinheiro e postos no [novo] governo. E mais, me disseram: "critique-nos, mas dê sua boa vista à participação no processo político e nas eleições [de 15 de dezembro] de 2005". Rechacei isso e assim me disseram que não ia ser posto em liberdade até que as eleições fossem celebradas, e assim foi.
Disse-lhes também que eu estou a favor da resistência e que se tivesse 30 anos lutaria contra eles. Um de seus generais me respondeu: "Forme dois batalhões e lute contra nós, mas não escreva contra nós". Aí, lhes disse: " Não sou um militar e tenho mais de 60 anos, sendo que a única coisa que posso fazer é escrever. É o que seguirei fazendo".
O que mais incomoda os detidos?
A alimentação. Os detidos sofrem de uma fome inimaginável. Era-nos servida uma colher de arroz e entre 20 ou 30 grãos de milho por detido, além de um pedaço de carne. E não estou exagerando. Quando mudavam de menú, nos davam três colheradas de macarrão. Essa é uma das preocupações dos detidos, que fica refletida em suas cartas dirigidas ao CICV.
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2. As milícias de Badr são corpos paramilitares criados e fomentados no Irã. São o braço armado da chamada "revolução islâmica" e estão em semi-legalidade no Iraque.
3. Al-Kubaysi é dissidente do partido Baath há 25 anos.
4. Como secretário geral da Aliança Patriótica Iraquiana, Al-Kubaysi instou o governo de Saddam Hussein a abrir um processo de diálogo político com a oposição no exterior, não comprometida com os planos de invasão do Iraque que, depois de 12 anos de sanções, era já iminente. Al-Kubaysi voltou ao Iraque com este fim antes do início da invasão. Poucas semanas antes do início da guerra visitou o Estado espanhol.
5. Partidários de Al-Sadr, clérigo chiita, finalmente vinculado nas eleições de dezembro à lista confessional chiita hegemônica no governo anterior de Al-Jaafari.
Como uma compensação, o sistema de poder confessa sua verdadeira identidade através das torturas que inflige. Nas câmaras de tormento, os que mandam arrancam sua máscara.
Assim ocorre no Iraque, para citar um exemplo. Para apoderar-se do Iraque apesar dos iraquianos e contra os iraquianos, as tropas de ocupação atuam com realismo: pregam a democracia e a liberdade e praticam a tortura e o crime. Quem quer ao fim, quer aos meios. Ou por algum acaso alguém pode crer que existe outra maneira de roubar um país?
O resto é puro teatro: as cerimônias, as declarações, os discursos, as promessas e a transferência da soberania, que passa dos Estados Unidos aos Estados Unidos.
Ocorre que o poder não diz o que diz. Por exemplo: quando diz "terrorismo no Iraque", em muitos casos deveria dizer: "resistência contra a ocupação estrangeira”.
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Quando se publicaram as fotos e estourou o escândalo, as cúpulas do poder político e militar cantaram em coro os salmos de sua auto-absolvição:
- "São casos isolados" - "São casos patológicos" - "São umas tantas maçãs podres" - "São perversos que desonram o uniforme".
Como de costume, o assassino pôs a culpa na faca.
Mas esses soldados ou policiais que enlouquecem o prisioneiro dando-lhe descargas de eletricidade, ou submergindo-lhe a cabeça em merda, ou partindo-lhe o cu, não são mais que instrumentos: funcionários que ganham o soldo cumprindo sua tarefa em horário de trabalho. Alguns trabalham com falta de vontade e outros com fervor, como essas entusiasmadas senhoritas que se fotografaram enquanto humilhavam seus torturados iraquianos e os exibiam como troféus de caça. Mas todos, os apáticos e os fervorosos, são burocratas da dor que atuam a serviço de uma gigantesca máquina de picar carne humana. Loucos? Perversos? Pode ser, mas o pretexto patológico não absolve o poder imperial que necessita da tortura para assegurar e ampliar seus domínios, porque esse poder está muito mais louco e é muito mais perverso que os instrumentos que utiliza. E nada tem de anormal que um poder atrozmente injusto se utilize de métodos atrozes para perpetuar-se.
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Nada tem de anormal, tampouco, que esses métodos atrozes não se chamem por seu nome.
A Europa sabe que onde manda capitão não manda marinheiro. A declaração da União Européia contra as torturas no Iraque não mencionou a palavra tortura. Essa desagradável expressão foi substituída pela palavra “abusos”. Bush e Blair falaram de “erros”. Os jornalistas da CNN e de outros meios de massa não puderam utilizar a palavra proibida.
Anos antes, para que os prisioneiros palestinos fossem legalmente triturados, a Suprema Corte de Israel havia autorizado "as pressões físicas moderadas". Os cursos de torturas que há muito tempo recebem os oficiais latino-americanos na Escola das Américas denominam-se "técnicas de interrogatório". No Uruguai, que foi campeão mundial na matéria durante os anos de ditadura militar, as torturas se chamavam, e ainda se chamam, "processos ilegais".
Segundo a Anistia Internacional, a venda de aparatos de tortura no mundo é um brilhante negócio para umas tantas empresas privadas dos Estados Unidos, Alemanha, Taiwan, França e outros países, mas esses produtos industriais são "meios de autodefesa" ou "material para o controle da delinqüência".
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Por sua vez, mencionaram sim a palavra tortura, com todas as suas letras, os pesquisadores que interrogaram a população dos Estados Unidos no ano de 2001, pouco depois da derrubada das torres de Nova Iorque. E quase a metade da população, 45 por cento, respondeu que a tortura não parecia má “se aplicada contra os terroristas que se negam a dizer o que sabem”.
Seis anos antes, no entanto, a ninguém havia ocorrido torturar o terrorista Timothy McVeigh quando ele se negou a dar o nome de seus cúmplices. A bomba que McVeigh pôs em Oklahoma matou 168 pessoas, incluindo muitas mulheres e crianças, mas era branco, não era muçulmano e havia sido condecorado na primeira guerra do Iraque, onde aprendeu a cozinhar purê de gente.
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Contra o terrorismo, tudo vale. Isto tem proclamado o presidente Bush, em mil ocasiões; e o repetido o eco Blair. Ambos continuam brindando pelo êxito de suas cruzadas. Seguem dizendo: “O mundo é agora um lugar mais seguro”, enquanto o mundo estoura e a cada dia a violência gera mais violência e mais e mais.
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Guantánamo é o símbolo do mundo que nos espera. Seiscentos suspeitos, alguns menores de idade, definham nesse campo de concentração. Não têm nenhum direito. Nenhuma lei os ampara. Não têm advogados, nem processos, nem condenações. Ninguém sabe nada deles, eles não sabem nada de ninguém. Sobrevivem em uma base naval que os Estados Unidos usurparam de Cuba. Supõe-se que sejam terroristas. Se são ou não são é apenas um detalhe que não tem a menor importância.
Ali foi onde o general Ricardo Sánchez ensaiou trinta e duas formas de tortura, chamadas "táticas de pressão e intimidação", que logo implantou nas prisões do Iraque.
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Desde a derrubada das torres de Nova Iorque, a tortura vem recebendo numerosos elogios. Foi desencadeado um bombardeio de opiniões jurídicas e jornalísticas aberta ou veladamente favoráveis a este método institucional de violência, ainda que nunca, ou quase nunca, o chamem como se chama. Estas apologias da infâmia, que provêm do poder, ou de fontes próximas, sustentam que a tortura é legítima para defender a população desamparada ante as ameaças que espreitam, porque existem meios de luta de moralidade duvidosa que resultam inevitáveis contra os inescrupulosos assassinos que praticam o terrorismo e o promovem e que jamais dizem a verdade.
Mas, se foi assim, quem havia de torturar? Quem são os homens que mais têm mentido neste século XXI? Quem são os que mais inocentes têm matado, sem nenhum escrúpulo, em suas guerras terroristas do Afeganistão e Iraque? Quem são os que mais têm contribuído à multiplicação do terrorismo no mundo?
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Agora abundam os surpreendidos e os indignados, mas a tortura não foi utilizada por erro nem por casualidade contra a população iraquiana. As tropas de ocupação a empregaram como era costume, por ordens muito superiores, sabendo do que faziam e para quê o faziam.
Para quê? Não há nenhuma prova de que a tortura tenha servido para evitar um só atentado terrorista. No caso do Iraque, nem sequer tem sido útil para capturar algum dos foragidos importantes. E mais, Saddam Hussein não caiu graças à tortura, e sim graças ao dinheiro que comprou um delator.
A tortura arranca informações de escassa utilidade e confissões de improvável veracidade. E, no entanto, é eficaz. Por isso foi aplicada e se continua aplicando: o que é eficaz é bom, segundo os valores que regem o mundo. A tortura é eficaz para castigar heresias e humilhar dignidades, e sobretudo é eficaz para semear o medo. Bem o sabiam os monges da Santa Inquisição e bem o sabem os chefes guerreiros das aventuras imperiais de nosso tempo: o poder não emprega a tortura para proteger a população, e sim para aterrorizá-la.
Será tão eficaz quanto o poder crê que seja?<>
Tradução: Tiago Soares
22/07/2004
Iraque
Saddam Hussein acusa EUA de mentir sobre tortura
Agência ANSA
Quinta-feira, 22/12/2005 - 12:17
Bagdá - O ex-presidente iraquiano Saddam Hussein acusou hoje os Estados Unidos de "mentir" quando afirma que não foi torturado nas mãos dos carcereiros, assim como "mentiram sobre as armas químicas no Iraque".
A informação foi dada esta manhã pelo Tribunal Especial de Bagdá, onde foi retomado o processo contra ele pela matança de 148 xiitas na cidade de Dujail em 1982.
"Na Casa Branca são uns mentirosos", disse Saddam, que entrou no cercado destinados aos réus com uma cópia do Alcorão nas mãos.
"Disseram que o Iraque tinha armas químicas. Mentiram de novo agora, fingindo que não apanhei", expressou o ex-presidente, que está sendo julgado junto a sete de seus ex-funcionários de governo. Na audiência de ontem, quarta-feira, a sexta desde o início do processo em 19 de outubro, Saddam assegurou ter sido "torturado e apanhado" por seus carcereiros norte-americanos, e que ainda tem "marcas em todo o corpo".
Horas mais tarde o porta-voz da Casa Branca Scott McClellan expressou que as afirmações do ex-presidente "eram a coisa mais absurda" que já haviam escutado.
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