quarta-feira, 20 de maio de 2009

DE INTERESSE PÚBLICO

Baxter, Tamiflu, Rumsfeld e a gripe


28/04/2009 Matéria publicada em 8 de março de 2009, no site português da MRA Alliance, intitulada: “Baxter, Tamiflu, Rumsfeld e a gripe aviária”.
(A MRA Alliance é uma rede de advogados construída a partir dos relacionamentos da Miguel Reis & Associados - Sociedade de Advogados, com sede em Lisboa, e da Miguel Reis Advogados Associados, com sede em São Paulo)
Caso Baxter: a multinacional farmacêutica norte-americana Baxter International, com sede em Deerfield, Illinois, nos últimos meses vendeu vacinas contaminadas com o vírus da gripe aviária a duas dezenas de países, entre os quais europeus, alerta o site científico alemão LifeGen.
Esta notícia tem implicações diretas com uma substância ativa patenteada pela Gilead Sciences, uma empresa fundada há 20 anos pelo ex-chefe do Pentágono, Donald Rumsfeld. O caso foi descoberto pela rede científica PROMED, segundo a qual a Baxter, através da sua subsidiária na Áustria, “forneceu, não intencionalmente (!!?? – grifo e exclamações da Gazeta), amostras contaminadas com o vírus da gripe aviária, que foram usadas em laboratórios de três países vizinhos.”
A PROMED revelou que a contaminação foi descoberta em fevereiro, num laboratório da República Checa, após a morte de doninhas inoculadas com vacinas produzidas a partir das amostras enviadas da sede da Baxter, em Deerfield, Illinois, para a sua subsidiária na Áustria.
A empresa norte-americana comunicou o incidente ao Ministério da Saúde, em Viena.
A porta-voz do ministério, Sigrid Rosenberger, confirmou à PROMED a contaminação das amostras com o vírus H5N1.
Vlad Dan Georgescu, co-autor do livro “A máfia da Saúde: como nós, pacientes, somos lesados”, no artigo “Fora de controle: laboratórios sob ameaça bioterrorista e pandêmica”, levanta uma série de dúvidas sobre a negligência da empresa e das autoridades sanitárias dos EUA e da UE relativamente à manipulação de amostras de alto risco.
Georgescu considera o “Caso Baxter” uma real ameaça à saúde pública.
Num outro texto refere a existência de “sérios sinais de a muito esperada pandemia da gripe aviária estar prestes a contaminar o mundo, mesmo sem o erro da Baxter.”
Caso Tamiflu: sob a designação comercial Tamiflu, o medicamento antigripal é atualmente produzido pela multinacional suíça Hoffman-La Roche. Porém, os méritos curativos do Tamiflu são questionados por vastos setores das comunidades médica e científica e desencadearam acesa controvérsia, conforme notícias publicadas nos sites MSNBC, New York Times, Medical News Today e Bloomberg.
Denúncias de efeitos psiquiátricos colaterais abundam em publicações especializadas acessíveis via Internet.
Em 1996, a Roche adquiriu da Gilead Sciences os direitos para a produção do Tamiflu.
Em 2005, as duas empresas acertaram o pagamento de royalties. Desde então, a Gilead recebe entre 14% a 22% do resultado das vendas líquidas do antiviral seletivo.
Em 1988, o médico Michael Riordan e o político e gestor profissional Donald Rumsfeld fundaram a Gilead Sciences.
Durante quatro anos (1997-2001), Rumsfeld presidiu os destinos da empresa, cargo que abandonou para assumir o posto de secretário da Defesa, em janeiro de 2001, na primeira administração Bush/Cheney.
Quando se encontrava na direção do Pentágono, Rumsfeld mobilizou esforços para que a gripe aviária fosse vista pelos poderes executivo e legislativo como “uma ameaça à segurança nacional”.
A tese vingou e foi bem acolhida pelo Partido Democrata, então na oposição: “Uma pandemia de gripe é real, e as suas consequências seriam dramáticas”, pode-se ler num de seus documentos. Em julho de 2005, o Pentágono, dirigido por Rumsfeld, encomendou à Gilead USD 58 milhões de Tamiflu para “tratamento das tropas estacionadas no estrangeiro”.
Meses depois, em novembro, o Congresso aprovou um pacote legislativo para a criação de um fundo de emergência para combate à possível pandemia gripal, no montante de USD 7,1 bilhões.
A lei previa a compra e distribuição de Tamiflu. Valor orçamentado a favor da Roche/Gilead – 1 bilhão de dólares.
Quem é quem na Gilead?
Os lucros de Rumsfeld através das suas participações na Gilead foram noticiados em outubro de 2005, por, entre outros, o jornalista Nelson D. Schwartz, no site da CNN.
“Os receios de uma pandemia e as subsequentes disputas sobre o Tamiflu fizeram passar os títulos da Gilead de USD 35 para USD 47 dólares por ação, tornando o chefe do Pentágono - que já é um dos homens mais abastados do governo Bush - ainda mais rico em, pelo menos, um milhão de dólares.”
Refira-se que, quando Rumsfeld abandonou a presidência da companhia (2001), as ações estavam cotadas a USD 7 dólares. A partir de 2004, o valor dos títulos registraram um aumento superior a 57%, voltando a subir mais 20% até novembro último. As valorizações correspondem aos meses em que o Pentágono realizou as primeiras compras e à aprovação do fundo de emergência, pelo Congresso. Entre os atuais acionistas e diretores mais conhecidos da farmacêutica norte-americana destacam-se dois pesos pesados da política global: um belga, Étienne Davignon, e outro, norte-americano, George Schultz. O primeiro, antigo vice-presidente da Comissão Européia, é destacado membro do Bilderberg, organização de acesso ultra restrito, que reúne 130 pessoas muito influentes, em nível mundial, num evento anual rodeado de segurança e secretismo. O segundo desempenhou importantes cargos governamentais em administrações republicanas - secretário de Estado (Reagan), secretário do Tesouro e do Trabalho (Nixon) - presidiu aos destinos da poderosa Bechtel Corporation, uma das principais fornecedoras do Pentágono, e foi administrador do grupo financeiro Charles Schwab. A sua ligação com a Gilead remonta a 1996. (http://www.lawrei.eu/MRA_Alliance/?p=3333)
No diário La Jornada, México, hoje, 28 de abril de 2009, num artigo da jornalista Silvia Ribeiro, sob o título “Epidemia de lucro”, lê-se:
“Com a gripe aviária, todas elas (as indústrias farmacêuticas multinacionais) obtiveram centenas de milhões ou alguns bilhões de dólares de lucros. Com o anúncio da nova epidemia no México, as ações da Gilead subiram 3%, as da Roche 4% e as da Glaxo 6%, e isto é só o começo.”
E no site espanhol Sin Permiso, também hoje, 28 de abril de 2009, lemos num artigo do editor Mike Davis, intitulado “O monstro bate à nossa porta:
“Roubando o protagonismo do nosso último assassino oficial, o vírus H5N1, este vírus suíno representa uma ameaça de ignota magnitude. Parece menos letal que o SARS (Síndrome Repiratória Aguda, na sigla em inglês) em 2003, porém, como gripe, poderia resultar mais duradoura que a SARS. Dado que as domesticadas gripes do tipo A matam nada menos que um milhão de pessoas por ano, incluindo-se um modesto incremento de virulência, especialmente se combinada com elevada incidência, [este novo vírus] poderia produzir uma matança equivalente a uma guerra importante.” (http://www.sinpermiso.info/textos/index.php?id=2528)
Bem, ficamos aqui, por agora. Sem paranóia, temos de entender o “sistema”.
Segundo o diário mexicano La Jornada, as mortes no México atingem as pessoas mais pobres, com deficiências nutricionais, de higiene, de agasalho, etc. Pobreza, eis a principal causa de vítimas fatais, a grande maior parte nas periferias urbanas e rurais, dessa mais recente contaminação urdida nos desesperos e alucinações macabras dos doutores sartanas que proliferam nesse mundo capitalista e globalizante. Outras mais letais, com certeza, já estão sendo sacudidas em seus tubos de ensaio.
Para não ficar muito longa esta edição, transferimos os comentários da Gazeta e outras informações para a próxima.
Até lá.
Abs
Mario Drumond
Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)
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